Carlos Roberto de Oliveira na Certidão de Nascimento, Roberto Dinamite no coração dos vascaínos e nas páginas da história do futebol. O maior ídolo do centenário Club de Regatas Vasco da Gama nos deixou ontem, às 10h50, aos 68 anos, vítima de complicações de um câncer no intestino. Nascido em 13 de abril de 1954, em Duque de Caxias (RJ), Dinamite vestiu por mais de duas décadas a camisa cruzmaltina de um dos clubes mais tradicionais do Brasil.
Dinamite é sinônimo de números impressionantes e que dificilmente serão alcançados novamente. Foram 1.110 jogos pelo Vasco, com 708 gols (740 em toda a carreira). É o maior goleador do Campeonato Brasileiro (190), do Carioca (279) e do estádio de São Januário (184). Nenhum outro atleta marcou tantos gols nos clássicos cariocas: 36 no Fluminense, 27 no Flamengo e 25 no Botafogo. Em 22 temporadas como atleta profissional, 21 foram com a camisa do Vasco.
Escrever sobre Dinamite também é relembrar de dias gloriosos. Nosso eterno camisa 10 conquistou um Campeonato Brasileiro (o primeiro da história do clube em 1974) e cinco Campeonatos Cariocas (1977, 1982, 1987, 1988 e 1992). Depois de uma breve passagem de seis meses pelo Barcelona teve uma reestreia histórica, ao marcar cinco na goleada contra o Corinthians, em 4 de maio de 1980. Ao lado de Romário, anos depois, formou uma das maiores duplas de atacantes da história do Vasco, a Rô-Rô.
Dinamite fazia a festa dos narradores esportivos. Alguns emplacaram bordões que embalaram a torcida vascaína por anos. Quem não se lembra do "Dinamite neles, Roberto...e o goool" na hora de uma falta narrada por Januário de Oliveira ou o "Taí o Dinamite. Tá láááa! Di-na-mi-te", de José Cunha, da Itatiaia. Os inesquecíveis "Apontou, atirou, entrou" e "Golão, golão, golão", de José Carlos Araújo, encaixaram como luva na descrição de dezenas de jogadas do Dinamite.
Fora dos gramados, com todo o prestígio junto à torcida vascaína, elegeu-se vereador do Rio de Janeiro e deputado estadual, por cinco mandatos consecutivos. Além do Barcelona, Dinamite teve breves passagens pela Portuguesa-SP, em 1989, e pelo Campo Grande-RJ, em 1991. Retornou ao Vasco para ser campeão carioca mais uma vez e encerrar a carreira em fevereiro de 1993. Lembro do jogo até hoje. Era um amistoso entre Vasco e La Coruña, da Espanha, no Maracanã. Naquele dia, Zico, o eterno rival nos gramados cariocas, vestiu a camisa vascaína para homenagear o amigo. Uma foto clássica.
Dinamite também se aventurou na política vascaína. Foi presidente do clube durante dois mandatos, de 2008 a 2014. A passagem como cartola arranhou a sua imagem por um tempo. Amargou os dois primeiros rebaixamentos do clube, mas também conquistou o maior título do Vasco das duas últimas décadas: a Copa do Brasil de 2011. Felizmente, o tempo cicatrizou as feridas. Recebeu ainda em vida as devidas homenagens do clube, a tempo de eternizá-lo como o maior ídolo vascaíno de todos os tempos. Tivemos grandes nomes, como Edmundo, Barbosa, Juninho Pernambucano, Ademir Menezes, Felipe, Pedrinho, Bellini, Romário, Mauro Galvão, Vavá, entre tantos outros, mas nenhum deles é páreo para o Dinamite.
Em 28 de abril do ano passado, o Vasco inaugurou a estátua do camisa 10 em São Januário. Fica atrás do gol à direita das cabines de rádio e TV, virada para a arquibancada. A escultura se mostrou pé quente. O time chegou a ficar 14 partidas invicto no estádio. Desde então, a única derrota ocorreu na penúltima rodada da Série B, contra o Sampaio Corrêa.
Casado por duas oportunidades, Dinamite deixa quatro filhos — Thatiana, Luciana, Roberta e Rodrigo —, dois netos (Valentina e Bento) e a esposa, Liliane. Ao lado deles, passou os últimos momentos em vida, como mostram algumas postagens recentes nas redes sociais.
Dinamite tornou o Vasco ainda maior. Não há dúvidas.
(p.s: o jornalista que assina este texto recebeu o nome como uma homenagem ao Dinamite. Em 9 de maio de 1976, o então jovem atacante vascaíno marcava um dos gols mais bonitos da história do Maracanã. Um voleio certeiro depois de um chapéu no zagueiro botafoguense Osmar. Um gol de placa que fez o meu avô Pedro convencer meu pai, Arthur, a chamar de Roberto aquele garotinho que nasceria nove meses depois no Hospital Santa Lúcia, no Setor Hospitalar Sul)
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