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Candangão: conheça os roupeiros dos quatro clubes candidatos ao título

Ubirajara Souza, Francisco Werick, Eduardo Couto e Moses Kylie são os donos dos vestiários de Brasiliense, Capital, Paranoá e Real Brasília. Eles apostam no zelo e na superstição no sonho pelo título

Victor Parrini
postado em 01/04/2023 12:12 / atualizado em 01/04/2023 12:12
 (crédito: @iampedrobrandao/Candangão)
(crédito: @iampedrobrandao/Candangão)

Existe um mundo do futebol além das quatro linhas, repleto de personagens por trás dos holofotes. Esqueça jogadores, técnicos, empresários e outros grupos da boleiragem. Para falarmos das partidas de volta das semifinais do Campeonato Candango, marcadas entre hoje e amanhã, contaremos as histórias de quem comanda os vestiários de Brasiliense, Capital, Paranoá e Real Brasília: os roupeiros.

Se a bola rola e a magia acontece nos campos Distrito Federal afora, é porque esses profissionais chegam lá com antecedência e, carinhosamente, colocam cada item no devido lugar, em perfeita harmonia, para deixar os protagonistas à vontade, como no quintal de casa, e deem o show esperado.

Os roupeiros não treinam, não jogam e raramente aparecem. Mesmo assim, o esporte mais popular não seria o mesmo sem essas figuras. Se a responsabilidade de cuidar de tudo é grande, a alegria de viver do que amam é maior. No Brasiliense desde 2015, Ubirajara Souza, ou Bira, é o mais experiente entre os semifinalistas.

Aos 56 anos, ele relembra o início, em 2003, justamente em um dos concorrentes ao título do Candangão. Há 20 anos, o dono da rouparia amarela ajudou a profissionalizar o Paranoá e foi figura ativa no desenvolvimento das categorias de base do clube. Arrumou as malas em 2011 para o Brasília, onde ficou por quatro anos, até integrar o Brasiliense.

Bira vive rotina intensa. Morador do Paranoá, costuma sair de casa por volta das 6h com destino ao CT do Brasiliense, no Setor de Clubes Sul. É um trajeto relativamente rápido. A "moleza", porém, para por aí. Quando chega nas dependências do clube, ele coloca a mão na massa, ou melhor, nos uniformes e nas chuteiras. "Roupeiro é igual gari: invisível. Ninguém vê. As pessoas passam e não dão nem bom dia. O valor é mínimo do mínimo, ninguém imagina a correria. É trabalho de doido, ninguém quer mais. É o 'pior' do futebol", compartilha.

Bira é quem tem mais tempo de clube. Chegou ao Brasiliense em 2015 e venceu outras edições do Candangão
Bira é quem tem mais tempo de clube. Chegou ao Brasiliense em 2015 e venceu outras edições do Candangão (foto: Carlos Vieira)

Para Bira, roupeiros são iguais. Na visão dos colegas, comandar os vestiários significa ser o primeiro a chegar e o último a sair. No Capital desde o ano passado, Francisco Werick, vulgo Feitosa, é mais um por trás das cortinas da bola. A trajetória dele no esporte começou em 1997. Entrou como auxiliar antes de assumir a titularidade dos cabides. Inclusive, fez parte do grupo campeão da Série B do Campeonato Brasileiro de 1998 com o Gama e acumula 26 anos de serviços prestados ao futebol.

Feitosa está todos os dias à disposição dos jogadores, comissão e diretoria. A correira, entretanto, não diminui a gratidão dele em trabalhar. "Se tem treino, jogo ou outras atividades, estou sempre presente. É gratificante ver todo o esforço ser recompensado pelos jogadores em campo. Faço tudo por amor, cuido bem das coisas deles para fazer o melhor. É um trabalho de cuidado, pois somos uma família", conta.

Feitosa foi para o Capital em 2022, mas tem no currículo participação no título do Gama na Série B de 1998
Feitosa foi para o Capital em 2022, mas tem no currículo participação no título do Gama na Série B de 1998 (foto: Carlos Vieira)

Eduardo da Silva Couto (Paranoá) e Moses Santos Kylie (Real Brasília) completam o quarteto de colaboradores fantásticos. Dudu desembarcou na Cobra Sucuri em dezembro do ano passado. Ele está totalmente adaptado. Aos 42 anos, é mais um profissional moldado no Gama. Começou na rouparia da base e, depois, recebeu o convite para assumir o profissional. Vestiu o verde e o branco por 13 anos. Saiu em 2017 para o Ceilândia.

Morador de Santa Maria, a distância o forçou a entregar o cargo. Os 50km entre a casa dele e o CT alvinegro, no Incra 9, foram empecilhos para a continuidade. Depois, teve passagem relâmpago pelo Morrinhos. Então, porta no Paranoá se abriu. Recebeu a ligação dos dirigentes e aceitou o desafio. "A turma é boa demais, tanto jogadores quanto a direção. Me adaptei rápido. Perguntaram o que eu precisava e, tudo o que pedi, fui atendido. Eu trabalho todos os dias da semana, incluindo os sábados e domingos (risos). É uma correria, mas é bom trabalhar com aquilo que gosto", ressalta.

Eduardo começou a trajetória na rouparia com as cores do Gama, passou pelo Ceilândia e chegou ao Paranoá
Eduardo começou a trajetória na rouparia com as cores do Gama, passou pelo Ceilândia e chegou ao Paranoá (foto: )

Maestro da logística no Real, Moses Santos Kylie não é cria do maior campeão do DF. Na verdade, está muito longe disso. Tem 34 anos e é natural de Arua, em Uganda, na África. Está no Brasil há dois anos e chegou para ter melhores condições de vida. Porém, trabalhar com o futebol não estava nem nos melhores sonhos dele. "Quando cheguei ao Brasil, procurei uma igreja e, assim, conheci o meu amigo, irmão e pai, Clóvis (outro roupeiro do time). Ele soube que eu não estava trabalhando e me ofereceu a oportunidade", diz.

Ugandês, Moses chegou ao Brasil em 2021 e ganhou a responsabilidade de gerir o vestiário do Real Brasília
Ugandês, Moses chegou ao Brasil em 2021 e ganhou a responsabilidade de gerir o vestiário do Real Brasília (foto: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Independentemente de onde vieram, os caminhos os levaram às semifinais do Candangão. Cada um com estilo próprio, mas com o mesmo compromisso pela camisa que vestem. Se os jogadores honram no gramado, nos vestiários, eles trabalham dobrado. A antecedência é uma das maiores virtudes. Feitosa chega com cerca de 3h horas de antecedência para fazer tudo com tranquilidade. Dudu endossa o discurso, pois adquiriu o hábito de deixar tudo nos trinques. Bira e Moses não poderiam ser diferentes.

Vai uma fezinha?

A única desarmonia entre os quatro é "extracampo". Quando a bola rola, entra em ação a fé de jogadores e treinadores. Mas como são os roupeiros? Feitosa e Dudu jogam no time dos supersticiosos. "Sou católico, rezo bastante e dou um beijo nas chuteiras. Procuro sempre pensar positivo. Não tenho muitos rituais, mas, antes das partidas, sempre tem as orações e os agradecimentos", revela o chefe do vestiário do Capital.

Dudu faz algo parecido. Ele não afaga as chuteiras dos atletas, mas revela ter uma boa conversa tête-à-tête para ajudar antes das partidas. "As pessoas falam que roupeiros podem ser malucos. E são mesmo. Principalmente, quem têm fé em Deus. Sempre que estou arrumando os materiais, converso com as chuteiras deles. Profetizo que os atacantes vão marcar gols, os zagueiros vão ser seguros. Se ganhamos com um uniforme, tento convencer a repetir no jogo seguinte. Tem uns detalhes que roupeiros sempre ficam atentos", explica.

Bira e Moses, porém, são mais contidos. O roupeiro do Brasiliense atrela a falta de rituais à vivência no mundo da bola. Ganhou muitas partidas, assim como perdeu outras. "Não sou supersticioso. Graças à experiência, consigo controlar a emoção. Já ganhei muita coisa, amador, base, profissional. Acredito que Deus sabe quando precisa acontecer. Tudo na hora certa. Não tenho ansiedade, estou acostumado", destaca.

Moses segue a linha do colega do Jacaré. "Não tenho superstição. Acredito somente em Deus. Ele faz todas as coisas. Antes da partidas, todos oramos para que tudo aconteça da melhor maneira", frisa.

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    Ugandês, Moses chegou ao Brasil em 2021 e ganhou a responsabilidade de gerir o vestiário do Real Brasília Foto: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press
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    Bira é quem tem mais tempo de clube. Chegou ao Brasiliense em 2015 e venceu outras edições do Candangão Foto: Carlos Vieira
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    Feitosa foi para o Capital em 2022, mas tem no currículo participação no título do Gama na Série B de 1998 Foto: Carlos Vieira
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