Copa do Brasil

Passado no "Escândalo de Berna" encerra o presente de Cuca no Corinthians

Técnico pede para deixar o cargo depois da vitória nos pênaltis contra o Remo. Pressionado por lembrança de condenação por estupro na Suíça, técnico escolhe deixar o cargo a pedido da família. Presidente Duílio lamenta, tentou segurá-lo e busca sucessor

'Marcos Paulo Lima
postado em 27/04/2023 02:19 / atualizado em 27/04/2023 02:27
 (crédito: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)
(crédito: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

O passado do jogador Cuca colocou um ponto final no presente do técnico de 59 anos no Corinthians e, talvez, no futebol. No futuro, Alexis Stival será lembrado como o treinador mais breve da história do clube. Ele deixa o cargo cinco dias depois de assumi-lo. Leovegildo Júnior, hoje comentarista da tevê Globo, passou 10. O paranaense não suportou a pressão da lembrança de que ele e outros quatro atletas do Grêmio foram condenados pela Justiça da Suíça pela participação no estupro de uma adolescente de 13 anos em uma excursão do clube gaúcho a Berna.

Houve resistência em um dos clubes mais engajados em questões sociais no país, inclusive na campanha das Diretas Já. O time mais bem sucedido do país no futebol feminino tem uma campanha de violência contra a mulher chamada “Respeita as Mina”. Jogadoras do elenco comandando por Arthur Elias se manifestaram aos 87 minutos da derrota por 3 x 1 para o Goiás, no último domingo, lembrando justamente um dos slogans do alvinegro paulista.

Cuca se reuniu a portas fechadas com a diretoria nos vestiários da Neo Química Arena depois da vitória nos pênaltis contra o Remo pela terceira fase da Copa do Brasil, na madrugada desta quinta-feira (27/4), e pediu para deixar o cargo, atendendo a pedidos da família. No pronunciamento, demonstrou o desejo de retornar ao Parque São Jorge a fim de ter um trabalho mais longo. Na véspera da partida, Cuca avisou que, a partir daquele momento, somente os advogados dele falariam sobre o escândalo.

“Eu saio neste momento. Não é pelo o que eu queria. Espera-se uma vida inteira para estar aqui. É um pedido da minha família. ‘Pai, vem, estamos precisando’. Amanhã, estou em casa, vou cuidar de vocês”, afirmou o treinador antes de deixar a sala de conferências.

Cuca citou pressão como fator definitivo para a decisão de deixar o Corinthians. ”Antes desse sonho se realizar, tiveram três, quatro dias muito pesados para mim. De pesadelo. Foi quase um massacre o que acabou acontecendo. Eu estava muito concentrado nessa decisão, não queria tirar o foco. E isso acaba levando para os jogadores. Hoje, me emocionaram. Estou aqui há cinco dias, mas todos ofertaram para mim. Eu não pedi nada, mas eles sentiram, como ex-atleta que sou, o que estou passando. O que estou passando e quero ser bem breve, porque não quero ser vítima de nada, é a pior coisa que um homem pode passar, quando está em xeque a dignidade. Quando invade as redes sociais das filhas e mulher com ameaças e ofensas descabidas”, discursou o treinador, sem abertura para entrevista coletiva.

E concluiu: “Chega um momento em que, sinceramente... Eu vou fazer 60 anos no mês que vem, você pesa o que vale e o que não vale a pena na vida. Neste momento, quero fazer valer a pena minha família, a coisa mais importante que tenho no mundo. Não esperava a avalanche que aconteceu aqui. São coisas já passadas há muito tempo, ressurgidas como se tivessem acontecido hoje. Fui julgado e punido pela internet, entre aspas. Isso tem uma consequência muito grande”, afirmou, deixando a bancada na Neo Química Arena.

O presidente Duílio Monteiro Alves comentou que tentou demovê-lo do desejo de sair, mas não foi possível. As conversas começaram na véspera da vitória por 2 x 0 contra o Remo no tempo regulamentar e do triunfo nos pênaltis por 5 x 4. “Lamento. Infelizmente, ele saiu para resolver os problemas dele. Vamos trazer um substituto com currículo para assumir o Corinthians”, disse.

No gol de Róger Guedes, o segundo na vitória contra o Remo, a maioria dos jogadores correu em direção a Cuca para abraça-lo antes da eletrizante decisão por pênaltis. Na saída do estádio, Róger Guedes parou para discursar em apoio a Cuca. “Criticaram o Neymar (no episódio de 2019, em Paris), mas ele provou que era inocente”, comparou o atacante.

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