Basquete

Conheça Nikola Jokic, MVP da NBA na campanha da taça inédita do Nuggets

Líder do campeonato inédito de Denver, Jokic já sonhou em montar cavalos e experienciou invasão da OTAN na infância: "Vivíamos praticamente no escuro"

Gabriel Botelho*
postado em 13/06/2023 00:18 / atualizado em 13/06/2023 00:41
 (crédito:  Getty Images via AFP)
(crédito: Getty Images via AFP)

As Finais da NBA da temporada 2022/2023 possuem um novo campeão. Pela primeira vez na história da franquia, o Denver Nuggets é o grande vencedor da NBA. Finalistas, após a também inédita conquista da Conferência Oeste, o time do Colorado superou o Miami Heat, nesta segunda (12/6), pelo placar de 94 x 89, para fechar a série melhor de sete em 4 x 1.

O título, apesar de tantos contribuintes, possui um personagem principal. Consagrando a semana ‘sérvia’ no esporte, após a conquista de Novak Djokovic nas quadras de Roland Garros, Nikola Jokic, o ‘Joker’, foi o grande jogador da equipe na temporada, e acumulou expressivas performances e recordes quebrados.

O pivô, tido como um dos grandes jogadores ofensivos da história da NBA, nem sempre foi, no entanto, unanimidade técnica. A seguir, conheça um pouco mais da história do sérvio, agora campeão do melhor basquete do mundo.

Juventude volátil

Em 1995, nasceu Nikola Jokic, na pequena cidade de Sombor, na Sérvia. Em meio à invasão das tropas da OTAN no país natal, a infância do garoto, no princípio, era complicada.

Assim como milhares de outras crianças, Nikola não tinha muita liberdade para se divertir durante o período de conflito. “Me lembro das sirenes, dos abrigos antiaéreos, sempre com as luzes apagadas. Praticamente vivíamos no escuro”, revelou o pivô, em 2017, ao Bleacher Report. Por isso, a mãe do menino mal o deixava sair de casa.

O cenário conflituoso, no entanto, não impediu a chegada das paixões. Influenciado pelos irmãos mais velhos, Jokic adentrou o mundo dos esportes pelos times de basquete, futebol e polo aquático. O caçula, porém, ao contrário dos irmãos, não era dotado de habilidades atléticas. Mais quieto e focado nos estudos, o sérvio, então, mesmo pressionado pela família - esta apaixonada pelo basquete - a ir aos treinos, resolveu largar o esporte ao descobrir uma nova paixão.

Aos 15 anos, enquanto trabalhava no haras de uma família, apaixonou-se por cavalos e partiu a nutrir o sonho de se tornar num jóquei. Porém, voltou às quadras e, pela primeira vez, passou a portar sentimentos pelo basquete, e passava horas à frente do computador, onde consumia centenas de vídeos dos ídolos da bola laranja. A partir daí, não parou mais.

Início da carreira

A trajetória do garoto teve os primeiros passos no modesto KK Vojvodina Srbijagas, da Croácia. Por lá, Jokic desenvolveu todos os atributos que posteriormente o fizeram o jogador tão versátil dos dias atuais: o arremesso certeiro e a visão de um armador, mesmo com a altura tão expressiva de 2,11m.

Foi então que Misko Raznatovic, um dos grandes agentes do país, ao ler no jornal local sobre a boa sequência de partidas do garoto, tomou conhecimento das habilidades únicas do garoto apesar do porte físico e o deu uma chance.

“Eu estava lendo aquele jornal e vi aquele cara da competição, o Sérvio Sub-18, fazendo 29 pontos e, se não me engano, 26 rebotes, e eu disse: 'Nossa'. Na semana seguinte, no próximo domingo, eu estava lendo o jornal de novo e disse: 'Me deixe ver aquele cara.' Então eu vi 30 pontos e 27 rebotes”, revelou o agente, em entrevista ao All The Smoke Podcast, em 2023.

Em 2012, então, aos 17 anos, Nikola assinou o seu primeiro contrato profissional, com um dos maiores times da Sérvia, o KK Mega Basket, agora associado por Misko. Mesmo tão novo, o adolescente ganhou a titularidade e no ano seguinte se firmou como o principal atleta da equipe. Em 2014, foi eleito o MVP do campeonato sérvio, com média de 15,4 pontos, 9,3 rebotes e 3,5 assistências por jogo.

No entanto, apesar do talento notável, ainda tinha expressivos obstáculos pelo caminho. Extremamente acima do peso, o garoto, além dos cavalos e do basquete, tinha como uma das principais paixões a Coca-Cola e os Boreks - espécie de pastel.

De qualquer forma, Jokic continuava a impressionar com o talento. Mesmo que já atraísse interesse de diversos times europeus - incluindo o Barcelona, que quase o contratou - ainda não chamava a atenção das equipes da NBA, o destino dos sonhos do jovem.

Apesar de já estarem de olho em Nikola, os olheiros da liga americana não apreciavam os movimentos do jogador, tido como lentos e pesados. Isso, no entanto, não o impediu de lançar uma candidatura ao draft da liga estadunidense em 2014.

Mudança de ares

Com a 41ª escolha, o Denver Nuggets, equipe sem muita expressão, selecionou o garoto de 19 anos de idade para a equipe. No entanto, o mais chamativo é justamente a forma como se deu o episódio, à época, de um jogador que, hoje, é um dos grandes jogadores do planeta. Durante o evento, o nome do sérvio foi anunciado em meio a uma propaganda de comida, no canto da tela.

Ao contrário dos jovens astros da liga, o anúncio não envolveu alarde do auditório, fãs gritando e o tradicional aperto de mãos com o comissário da NBA em cima do palco, já portando o boné da equipe selecionada. Muito pelo contrário, Nikola estava dormindo, em casa, quando o anúncio saiu, e só soube do ocorrido após uma ligação do irmão.

Empolgado e decidido a mudar os costumes, Jokic largou o refrigerante e a dieta desbalanceada e, além de emagrecer 15 quilos, adentrou a melhor forma física da carreira até o momento. Mesmo com a intensa competição pela posição de pivô com o bósnio Jusuf Nurkic, Jokic viveu grande temporada de estreia, e encantou a todos.

Além de anotar um duplo-duplo na décima segunda vez em que entrou em quadra, terminou a temporada com média de 10 pontos, sete rebotes e 2,4 assistências por partida. Com isso, figurou na equipe de ‘calouros do ano’ e foi eleito como o terceiro melhor novato da temporada.

A partir daí, deslanchou. Conquistava cada vez mais espaço no time até ser selecionado para o All-Star Game, em 2018/2019, e, posteriormente, ser eleito como o principal atleta da NBA por duas vezes consecutivas, em 2020/2021 e 2021/2022, para carimbar de vez as credenciais como um dos grandes nomes do basquete mundial.

Agora, liderou a franquia de Denver ao título inédito e se tornou unanimidade nos corações dos torcedores do Colorado. Autor de notáveis performances, o jogador conhecido como o ‘coringa’ por sua versatilidade bateu o recorde de triplos-duplos na história dos playoffs, além de ter se tornado no primeiro de qualquer final da liga a anotar um TD com 30 pontos, 20 rebotes e 10 assistências.

Agora coroados com o título, os Nuggets têm feito boa campanha desde o princípio. Na temporada regular, nenhuma outra equipe da Conferência Oeste foi tão categórica quanto o time de Denver. Em 82 partidas, foram 53 vitórias e 29 derrotas. Na pós-temporada, o desempenho também foi expressivo.

Contra Minnesota Timberwolves, Phoenix Suns, Los Angeles Lakers e Miami Heat, foram 16 partidas vencidas, em um total de 20, sem contar com a varrida por 4x0 no título inédito de Finais do Oeste, diante da franquia de Los Angeles.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

 

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