VÔLEI

Física e malabarismo são os truques de Julia Bergmann para o sucesso

Ponteira de 22 anos é formada em física pela Georgia Tech e a única jogadora da Seleção a completar os desafios de "circo" lançados pelo técnico Zé Roberto Guimarães

Victor Parrini
postado em 15/06/2023 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Respeitável público, a Seleção que dá show promete mais um espetáculo à parte, nesta quinta-feira (16/6), às 21h, contra a Sérvia, no Ginásio Nilson Nelson, e na sequência da Liga das Nações e da caminhada rumo à classificação para os Jogos Olímpicos Paris-2024. E uma das protagonistas das apresentações de gala da companhia orquestrada por Zé Roberto Guimarães é Julia Bergmann, ponteira dona de talentos muito além do esporte.

Julia vai além das qualidades nos saques, passes, bloqueios e ataques. O carisma e o bom-humor da gigante 1,96m são um complemento a uma das jogadoras mais promissoras do país. O Correio esteve em um dos treinos da Seleção em Brasília e, de cara, testemunhou a ponteira tirando onda de malabarista antes do treino. Parece mera brincadeira, mas não é.

Em entrevista ao Correio, o dono da prancheta verde-amarela, Zé Roberto Guimarães, comentou a importância de beber de outras fontes para incrementar os treinamentos e contribuir para a evolução das jogadoras. "Aplico tudo o que você possa imaginar do tênis, habilidades, malabares de circo. Estimulo isso, uma jogadora que consegue fazer com três bolas ou laranjas. A Júlia, por exemplo, sabe fazer. Estava pensando em levar alguém do circo para fazer uma vez por semana para esse desenvolvimento. Tem muita coisa que as outras modalidades acabam ajudando", ressalta o treinador.

Buscar alternativas para se aprimorar e também levar leveza à intensa e tão cobrada rotina de atleta de alto rendimento é um dos motivos para Julia Bergmann se aventurar nessa arte. "O malabarismo de circo ajuda muito com coordenação e é um pequeno talento, que dá para fazer em todos os lugares e com tudo. É divertido", compartilha a ponteira ao Correio.

Julia Bergmann tira onda de malabarista em um dos treinos da Seleção Brasileira no DF
Julia Bergmann tira onda de malabarista em um dos treinos da Seleção Brasileira no DF (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O que também está em tudo e em todos os lugares é a física. Quem observa Julia Bergmann na quadra talvez nem se dê conta da história entre ela e a ciência. Formada pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech), nos Estados Unidos, ela precisou deixar a bola de lado para se debruçar nos livros na final da graduação. Ela foi desfalque no Mundial disputado em outubro e novembro do ano passado.

"Sempre quis fazer faculdade. Os Estados Unidos eram o único lugar do mundo que faz dessa maneira (com incentivo ao esporte). Fui me interessando e vendo. Meu assistente técnico trabalhou com o Zé, então não passei por mudanças tão drásticas. Tive aquele jeitinho brasileiro nos treinos e nos jogos por lá. Cresci muito como pessoa e como jogadora. Foi a melhor escolha que fiz para minha vida. Não me arrependo de nada, mas é bom estar de volta à Seleção e 100% para o vôlei", confidencia.

Mas será que existe alguma vantagem para o Brasil por causa da formação de Bergmann? Ela não titubeia. "Está presente na rotação da bola, posicionamento, a maneira como bloquear, como um saque morre na frente, e vemos o movimento da jogadora. Não preciso calcular a fórmula de como vou passar ou sacar, mas a física faz parte do vôlei", responde com bom-humor.

Apesar do desfecho feliz na vida acadêmica, Julia esbarrou em dificuldades e precisou abdicar de muito. "Não vou dizer que é fácil estudar e jogar ao mesmo tempo. São muitas noites sem dormir, muitas noites na biblioteca estudando, mas no final vale a pena. Vôlei não é para sempre. Dá uma oportunidade incrível de fazer outras coisas depois. Conheci amigas para a vida na faculdade e pessoas do mundo todo, que quero manter contato, mas uma das maiores coisas que sou grata é mostrar que o esforço dá certo. Se inspirei uma menina, já valeu a pena", discursa.

História com a Alemanha

Pelo sobrenome você deve desconfiar que Julia tem um pezinho fora do Brasil. E tem mesmo. Filha de pai alemão e mãe brasileira, Bergmann nasceu em Munique, mas, aos 10 anos, se mudou para Brusque (SC) com a família. A paixão pelo vôlei cresceu lá e, apesar da raiz europeia, o foco sempre esteve em vestir o verde-amarelo. "Nunca pensei em jogar pela Alemanha, pois foi no Brasil onde comecei no vôlei, com 11 anos. Todo o meu crescimento no vôlei foi no Brasil. Sou muito grata pelas pessoas que fizeram parte desse processo, desde a base até agora", conta.

Os caminhos de Julia Bergmann e da Alemanha voltarão a se cruzar no sábado, às 14h, no terceiro duelo da etapa Brasília da Liga das Nações, no Ginásio Nilson Nelson. Apesar das expectativas da torcida, a ponteira rechaça clima de "conflito" contra as compatriotas. "Nunca tive essa rivalidade. Acredito que estão fazendo um bom trabalho. Conversei com algumas meninas de lá algumas vezes. É um time alto e muito bom. Não podemos subestimar. Vai ser um jogo difícil, mas não existe nada de rixa ou sentimento contra a seleção", desmistifica.

Aos 22 anos, Julia é um dos expoentes da nova geração do vôlei brasileiro. Os louvores não são apenas dos torcedores. O técnico Zé Roberto Guimarães é um dos admiradores do talento dela. E a recíproca é verdadeira. Bergmann não poupa elogios ao mentor. "Não sei nem o que falar do Zé. É um dos melhores técnicos do mundo, senão o melhor. Ele conseguiu deixar o voleibol brasileiro em alto nível por tantos anos, coisa que nenhum país conseguiu. Ele tem tanta coisa a ensinar. Quando estive nos EUA, ele sempre perguntava como eu estava. Sou muita grata por essa relação", afirma.

Ficha técnica da partida entre Brasil e Sérvia, pela Liga das Nações de vôlei feminino
Ficha técnica da partida entre Brasil e Sérvia, pela Liga das Nações de vôlei feminino (foto: Valdo Virgo)

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    Julia Bergmann tira onda de malabarista em um dos treinos da Seleção Brasileira no DF Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
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    Ficha técnica da partida entre Brasil e Sérvia, pela Liga das Nações de vôlei feminino Foto: Valdo Virgo
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