Lá se vão quase sete anos desde a última visita de Pia Sundhage a Brasília. Em 12 de agosto de 2016, ela se despedia da capital federal após o êxtase da classificação à semifinal dos Jogos Olímpicos Rio-2016, sobre as temida seleção dos Estados Unidos, por 4 x 3 nos pênaltis. Desde então, 2515 dias se passaram. Muita coisa mudou, inclusive o futebol feminino e a treinadora da Seleção Brasileira.
Medalhista de prata com as escandinavas em 2016 e bicampeã olímpica com as americanas em Pequim-2008 e Londres-2012, Pia Sundhage deixou as conquistas de lado, ontem, durante a entrevista coletiva e fez uma autoanálise ao Correio. Relembrando a última passagem pelo centro do poder do país, a dona da prancheta verde-amarela acredita ter evoluído.
"Assistindo a todos esses jogos e tendo tantas conversas com jogadoras diferentes, me tornei uma ouvinte melhor. Para mim, essa é a chave para eu entendê-las de forma mais clara e tranquila. Isso se torna ainda mais importante porque estou em um país cuja cultura é diferente", avalia a sueca.
Uma das algozes do Brasil na primeira edição da Copa do Mundo feminina, em 1991, na China, Pia entende que a mudança de mentalidade é necessária para um bom trabalho no lado de cá. Treinar as jogadoras suecas, pensando do jeito que eu pensava, é diferente em comparação a trabalhar com as brasileiras. "Existem duas versões de mim: equilíbrio entre mostrar respeito, mas também de mostrar a minha experiência no futebol, além da minha atitude sobre o que eu considero como o melhor caminho para alcançar o sucesso", ressalta.
E o sucesso a qual Pia se refere é, claro, a Copa do Mundo. O sonhado êxito em 20 de agosto, no imponente Stadium Australia, passa por Brasília. E fechar em Brasília a preparação para a mais nobre missão do ciclo de mais de três anos e meio pode fazer a diferença. Embora a tendência seja que o Mané Garrincha não lote para o amistoso de hoje, a treinadora pede uma observação para além dos números.
"Quando eu treinava a Seleção dos Estados Unidos, o público costumava ser de 5 mil pessoas. E aí, aumentou para 10 mil. Não deixem os números cegá-los. Abram os olhos, o limite é o céu", discursa Pia. "Com muita esperança, esse número crescerá cada vez mais, e, em alguns anos, será de 40 mil. É por isso que estamos aqui, e é por isso que acredito que seja importante jogar aqui (em Brasília)", destaca.
Das 23 jogadoras convocadas para a caça ao inédito título mundial, uma se sentirá verdadeiramente em casa. Aos 23 anos, a atacante Nycole Raysla disputará o primeiro jogo profissional com a Amarelinha na cidade natal. Destaque do Benfica, ela não escapou dos elogios da treinadora. A primeira vez que a vi, pensei: 'Nossa, ela tem um chute muito bom'. Porém, entendi que ela precisava melhorar os movimentos sem bola. Ela precisa manter a disposição, seguir humilde e sempre se lembrar de onde veio. Assim como as demais jovens do elenco, poderá jogar tanto quanto Marta", analisa Sundhage.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini
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