Eliminatórias

Estrela de Belém: Brasil reinicia ciclo em busca do hexacampeonato

Duzentos e setenta e três dias depois da traumática eliminação do Brasil na Copa contra a Croácia, o técnico formado em psicologia Fernando Diniz coloca Seleção no divã na primeira sessão de terapia pelo sonhado hexa

Fernando Diniz passeia pelo gramado do Mangueirão: estádio será palco da estreia dele como técnico da Seleção Brasileira com apenas três treinos na capital paraense desde a apresentação do elenco na segunda -  (crédito: Vitor Silva/CBF)
Fernando Diniz passeia pelo gramado do Mangueirão: estádio será palco da estreia dele como técnico da Seleção Brasileira com apenas três treinos na capital paraense desde a apresentação do elenco na segunda - (crédito: Vitor Silva/CBF)
Marcos Paulo Lima
postado em 08/09/2023 05:01

Belém — Imerso em um projeto insano pela conquista do hexacampeonato na Copa de 2026, o Brasil estreia hoje contra a Bolívia nas Eliminatórias Sul-Americanas, às 21h45, no Estádio Olímpico Mangueirão. A Seleção ostenta na comissão técnica o que faltou em seis anos e meio na Era Tite: psicólogo. O profissional é o próprio treinador. Em tempos de debate sobre a saúde mental dos atletas, Fernando Diniz tem a oportunidade de colocar em prática o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado, em 2012, na Universidade São Marcos, em São Paulo.

A tese apresentada pelo mineiro de Patos e o colega de turma Leonardo Simões dos Santos, há 11 anos, era a seguinte: A importância da liderança do técnico em uma equipe de futebol. Eles só não esperavam a variável. Embora os jogadores rejeitem a palavra interino e prefiram respeitar Fernando Diniz como treinador da Copa, a CBF sustenta a versão de que o trabalho é provisório até a posse do sonho de consumo — o italiano Carlo Ancelotti, em junho de 2024. Nem Freud explica a ideia mirabolante do presidente Ednaldo Rodrigues, mas começa assim.

Tite jamais contou com psicólogo no elenco. Ele assumia esse papel auxiliado por uma terapeuta pessoal, ou seja, de fora da comissão técnica. Nos bastidores, comentava-se que Neymar resistia à presença de um especialista da área no grupo. Embora seja diplomado, Diniz conta com auxílio no Fluminense. Emily Gonçalves é a psicóloga do elenco profissional tricolor. Na Seleção, o técnico acumula essa função 273 dias depois da eliminação contra a Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo do Catar. Ao menos por enquanto.

Questionado pelo Correio na entrevista coletiva de quarta-feira sobre a relevância de um psicólogo na comissão técnica, Casemiro tentou ficar bem com Tite e Diniz. "Eu diria que não só o jogador de futebol, mas todo ser humano precisa de psicólogo, isso vai além do futebol. O Diniz, como alguém formado em psicologia, sabe lidar com ser humano", respondeu o volante.

Casemiro não considera a inclusão desse tipo de profissional item de segurança. "O Tite não era formado em psicologia, mas a experiência de vida fala por si só. Cada um tem suas virtudes e características. É importante, o Diniz sabe ter o diálogo, mas o Tite também tinha essa característica, prezava pelo lado mental, até tinha o lema "mentalmente forte". Cada um tem uma característica", ponderou. O Brasil foi eliminado por Bélgica e Croácia nas últimas duas edições da Copa do Mundo justamente quando faltou inteligência emocional.

Fernando Diniz não faz cerimônia para intimar um comandado a sentar-se no divã. Aconteceu isso, por exemplo, na relação do técnico com Raphael Veiga no Athletico-PR. Ambos entraram em rota de colisão na segunda vez em que trabalharam juntos — a outra havia sido no Audax.

"Quando estávamos no Athletico-PR, a gente se desentendeu por posicionamento no treino. Eu fiquei bravo na hora e ele me ligou à noite. Falou que queria me encontrar. Eu falei que a gente conversaria no outro dia, no treino. Ele falou para eu ir encontrá-lo. Fui à casa dele, o busquei, ai ele disse: 'vira aqui, vira ali'. Ele foi e me levou no psicólogo. Depois desse dia, continuei fazendo (terapia) e continua sendo importante para mim", comentou Raphael Veiga na entrevista coletiva de quarta-feira.

Primeiro mineiro a comandar a Seleção nas Eliminatórias desde a segunda passagem de Telê Santana pelo cargo antes da Copa de 1986, Fernando Diniz se identifica com o conterrâneo de Itabirito em dois quesitos: a beleza do jogo e a preocupação com o homem.

"Não vou resumir a ajuda e participação que o Diniz teve na minha carreira ao campo. Ele sempre se preocupou com a pessoa para poder dar resultado. Ele dispensa comentários em campo, ajuda a todo jogador, mas vou frisar o que ele fez por mim fora de campo. Hoje, sou um jogador melhor, um homem completamente melhor por conta dele", testemunha.

Raphael Veiga sintetizou a relação de Diniz com o grupo em uma declaração. "Ele cria homens, não pensa só em resultados, essa é a maior vitória dele. Você vê jogadores que, igual eu, trabalharam com ele lá atrás e ele ajudou a chegar aqui com muito mais maturidade, e principalmente pela ajuda dele", concluiu Veiga.

FICHA TÉCNICA
Horário: 21h45
Estádio: Mangueirão, em Belém (PA)
Transmissão: Globo e SporTV
Eliminatórias: Fase única - 1ª rodada

Brasil (4-2-3-1)
Ederson; Danilo, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Renan Lodi; Casemiro e Bruno Guimarães; Raphinha, Neymar e Rodrygo; Richarlison
Técnico: Fernando Diniz

Bolívia (3-5-2/5-3-2)
Lampe; Jairo Quinteros, Jusino e Marcelo Suárez; Medina, Villamil, Ursino, Ábrego e Terceros; Arrascaita e Marcelo Martins
Técnico: Gustavo Costas

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