O Cerrado tem uma obsessão no Novo Basquete Brasil (NBB): a classificação inédita aos playoffs. A temporada de 2023/2024 começa em 21 de outubro contra o Pinheiros, no Ginásio da Asceb, na 904 Sul. A quarta participação do caçula candango na liga tem o objetivo de fazer bonito e esquecer a lanterna da última edição.
O páreo é ainda mais complicado para a formação alviverde, com outros 18 clubes inscritos brigando por 16 vagas no mata-mata. A reformulação geral para uma nova realidade exigiu uma repaginada geral no elenco, com apenas uma permanência: o ala-armador Daniel Von Haydin. O armador Eduardo Motta foi promovido da base, depois da boa campanha na Liga de Desenvolvimento (LDB).
Toda a montagem para a nova versão cerradista passa pelo planejamento direto do presidente Dimitri Ramos. Ao Correio, o executivo contou sobre a montagem interna e externa para mais uma temporada, além do rompimento entre a Liga Nacional de Basquete (LNB) e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), planejamento financeiro, rivalidade e categorias de base.
Há mais uma reformulação no elenco, porém, com tons diferentes, feita com antecedência. Quanto tempo tiveram para isso, precisamente?
Sim. Eu acho que o Cerrado chegou a um nível de maturidade na gestão para dar um próximo salto. Nas duas primeiras temporadas (no NBB), com tudo novo, mantivemos o treinador (Bruno Lopes). Procuramos dar continuidade nos conceitos. Na terceira temporada, fizemos uma grande aposta em um treinador dos Estados Unidos (Quentin Hillsman), que nos pareceu, naquele momento, ter bagagem suficiente para alcançar nossos objetivos. Na prática, não foi isso que aconteceu. Antes do fim da outra temporada, a gente estava trabalhando para essa. Precisávamos fazer diferente, um planejamento antecipado na escolha das pessoas, de referência, de gabarito.
Quais são os pilares?
O (Marcelo) Laitano participou de outros projetos esportivos no DF em outras modalidades até, sempre na gestão. O dia a dia precisa funcionar para que a equipe possa ir bem. Não é só trazer o melhor jogador dentro das nossas possibilidades. Não temos recursos fartos para trazer atletas dos sonhos do treinador. A gente precisou se antecipar, conversamos com o Régis Marrelli, que é um treinador gabaritado. Vivencia o alto rendimento há muito tempo, sabe lidar em todos os níveis de organização. Cada uma dessas relações demanda saber se impor e, às vezes, abrir mão. É uma peça-chave para a gente.
A base financeira do Cerrado é igual à da temporada passada?
Por mais que talvez possam ser financeiramente equivalentes, porque a gente sempre trabalha dentro daquilo que temos, é uma das nossas marcas prezar pela nossa credibilidade. Isso envolve a própria Liga Nacional de Basquete (LNB), os agentes desses atletas, quando você cumpre aquilo que foi acordado, o meio técnico nessa relação aberta, sincera, honesta, repassando as dificuldades, mas, em nenhum momento, deixando de fazer parte disso. Todo esse ecossistema tem que funcionar. Podemos nos honrar dessa credibilidade no Cerrado. Nós não devemos nada a eles (colaboradores) e nem eles a nós.
E como proceder com essa barreira econômica?
A gente procura, dentro desse limite, algumas características da equipe. Ano passado, o coach dos Estados Unidos estruturou a equipe baseada nos americanos, em três jogadores (AJ Harris, Keyron Sheard e Rashaun McLemore) e ficamos nessa dependência. Nesta temporada, mesmo com dois americanos, a essência é outra. Conseguimos trazer peças para mudar a cara da equipe. Da temporada passada ficou somente o Daniel Von Haydin. Algumas peças poderiam ter permanecido, mas a comissão técnica achou que não. Estamos muito felizes pelo que conseguimos fazer. Olhamos antes para as pessoas do que para os atletas, dessa vez, com uma pesquisa criteriosa.
O novo Cerrado foi montado na conversa geral ou tem exclusivamente a cara do Régis Marrelli?
Tem um princípio que a gente segue, de dar autonomia aos treinadores. Ele é o líder da comissão técnica. Ele tem que se sentir bastante confortável. Daí também alguns desses nomes que trabalharam com ele. Com certeza terá a cara dele. Às vezes, a gente tem dois ou três atletas indicados pelo treinador. Vemos qual deles se encaixa no orçamento.
O Cerrado foi pego de surpresa com um NBB com 19 times?
Quando começamos o planejamento, não sabíamos quantas equipes participariam. O NBB também fechou patrocínio com a Caixa Econômica Federal, que vai trazer algumas vantagens para as equipes. Alguns custos que nós tínhamos serão cobertos por eles. Houve até uma discussão na Liga Nacional sobre a possibilidade de se fazer uma outra disputa, com chaves, mas a maioria optou por permanecer da forma como está, que tem lucratividade esportiva, por jogar contra todo mundo, e não em chaveamentos separados. Os clubes optaram por esse formato e eu acho que não trará um impacto fora do planejado. A Liga vai nos ajudar com algumas questões financeiras. Recebemos com bons olhos: mais jogos, todos contra todos e pode ter certeza que o Cerrado estará nos playoffs.
Dá para chegar?
Nós vamos estar nos playoffs. Tenho certeza disso. A não ser que alguma coisa fora do contexto aconteça. E não falo desde o ponto técnico. Estamos bem certos do que fizemos. Isso está muito bem costurado. Não tenho dúvida alguma de que o Cerrado vai vir muito melhor do que nós jogamos na temporada passada e que estaremos, sim, nos playoffs, que é o lado gostoso da competição. Vamos viver essa experiência nessa temporada.
Como o Cerrado viu a briga da LNB com a CBB?
Um rompimento desse nível nunca é bom. É ruim para todos. No nosso ginásio nós temos, diariamente, garotos de várias idades treinando, então a gente se alimenta disso. Não somos só o NBB nem o alto rendimento profissional. O Cerrado é muito mais do que isso. Tem pessoas que são apaixonadas pela modalidade: o nosso objetivo final não é termos lucro. É claro que a gente sempre tem que buscar viabilidade financeira melhor para que a gente possa fazer melhor as coisas. Para nós isso é muito dolorido. Achamos que isso poderia ser evitado. A Liga Nacional tem papel importante, os atletas que servem à Seleção passaram por competições dela, pela Liga de Desenvolvimento (LDB), em um momento, lá atrás, quando o basquete estava falido no Brasil em termos de organização. Vejo com tristeza isso.
Há uma solução?
Creio até o último momento que as entidades possam rever algumas coisas e que os clubes que forem os melhores da competição de elite possam representar o país em competições internacionais. Eu sei, por participar das reuniões do Conselho da Liga, que há um esforço pela reconciliação, além de entidades externas, como a Fiba (Federação Internacional de Basquete), na própria busca de um consenso, além do CBC (Comitê Brasileiro de Clubes). Ainda há gente trabalhando nisso. Acredito que até o fim do NBB teremos novidades positivas, porque contrário a isso, todo mundo perde. Como os principais atletas do NBB não vão dar sequência nas competições internacionais? Quem perde? É a Liga? É o Dimitri? É o Cerrado? Não. É todo mundo. Não tem vitorioso nisso.
Então, mesmo com essa confusão, em momento algum o Cerrado pensou em passar ao Campeonato Brasileiro?
Não. Em momento algum foi cogitado. E não em posicionamento contrário à CBB: a gente joga todas as competições de base da entidade. Quando nós não estávamos no NBB, iríamos disputar uma competição como espécie de segunda divisão, organizada pela CBB. Foi na pandemia, estávamos prestes a fazer a estreia. Dois dias antes, tudo parou. A gente entende que hoje a divisão principal do basquete nacional é o NBB. Esse é o caminho do Cerrado.
Existe uma projeção forte para a base em médio e longo prazo?
Resumidamente, a gente pensa o caminho para a base sem pensar no Cerrado, mas também no Clube Vizinhança, no Lance Livre, na MoveOn, no Filadélfia, em todas as equipes. Só assim que cresce. Não adianta jogar um Sub-17 e dar de 100 x 25 ou o inverso. É preciso que todos cresçam, que se criem as rivalidades sadias, que o atleta se motive para ser melhor. Qual é o próximo passo para o jovem depois de um treino? Precisam jogar. O crescimento e o desenvolvimento dos atletas de Brasília, dentro da nossa modalidade, exige isso, a busca de fazer torneios locais e com outros estados. É proporcionar que esses atletas joguem muito. Por exemplo: o nosso sub-15 começou a jogar em junho deste ano. Não fizeram nenhuma partida oficial, apenas alguns amistosos. No jogo, ele relaciona o treino com a emoção, com a torcida, com um adversário que vai surpreender: são circunstâncias que só um jogo traz. É nessa idade que a gente tem que investir.
Há uma desigualdade muito grande entre o DF e outras praças nacionais?
Queríamos muito ter, um dia, uma equipe profissional formada por atletas da nossa base, com uma sequência dentro do DF. Isso não acontece. Há um disparate muito grande em relação a um garoto que vai para São Paulo: chegando em junho, quantos jogos ele já fez? Algo como 60 jogos e não porque ele seja menos ou mais talentoso que um daqui, é porque está se exercitando mais e é no exercício, nas dificuldades e na torcida rival que você cresce. Acho que a Federação de Basquete do Distrito Federal (FBDF) está pensando nisso, porque não está tão legal assim.
Falando em base, rivalidade, cenário local e o NBB, há um clássico maduro e saudável contra o Brasília?
Da nossa parte, sempre houve. Eu acho que algumas pessoas achavam que Brasília perderia tendo duas equipes e eu não vejo por esse lado. Rivalidade sempre traz atenções e melhorias constantes porque um quer vencer o outro. Espero só que ela seja em um patamar superior da tabela, que a gente possa galgar colocações melhores. Acho que o basquete de Brasília ganha. Se você for ver em outros esportes, essas rivalidades locais se alimentam e dão aquela chacoalhada local. Então, eu espero que as duas equipes possam trilhar um caminho melhor, de uma qualidade maior para isso ser ainda mais potencializado, sempre com bons frutos. A gente gosta disso, de ter um dérbi local. Só espero que seja para estar disputando no Super 8.
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima
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