Segunda Divisão do DF

Candangão: "Bolsa Acesso" pode alçar mais um time à elite neste século

Como a velha prática de emprestar jogadores pontuais, elencos quase completos e até comissões técnicas inteiras desequilibram a disputa da segunda divisão do DF. Ceilandense pode ser o premiado da vez

Reforçado pelo Brasiliense, o Ceilandense derruba rivais e torna o acesso à Série A doméstica uma barbada -  (crédito: André Gomes/Ceilandense)
Reforçado pelo Brasiliense, o Ceilandense derruba rivais e torna o acesso à Série A doméstica uma barbada - (crédito: André Gomes/Ceilandense)
postado em 15/10/2023 03:01 / atualizado em 15/10/2023 14:02

Minha vaga, minha vida; Bolsa Segundinha, Bolsa Acesso... Uma velha — e controversa — prática viciosa do futebol candango pode ser decisiva mais uma vez neste domingo para apontar pelo menos um dos times promovidos à elite do Campeonato do Distrito Federal em 2024: clubes da primeira divisão doméstica costumam ser “generosos” e estender a mão a primos pobres da segunda divisão doméstica quando ficam sem calendário no segundo semestre. Emprestam jogadores e até mesmo comissões técnicas inteirinhas para a disputa da Série B doméstica. Consequentemente, há um desnivelamento absurdo de forças na corrida pelo passe para a Série A.

Finalistas do Candangão neste ano, o campeão Real Brasília e o vice Brasiliense alimentaram as campanhas de dois times. Eliminado na fase de grupos, o Riacho City contou com jogadores do Real na campanha. Em vantagem contra o Brazlândia depois de vencer o adversário por 3 x 0 no jogo de ida das semifinais no sábado passado, no Chapadinha, o Ceilandense deve confirmar o acesso e a presença na final neste domingo, às 17h, no Serejão. A equipe pode perder por até dois gols de diferença em Taguatinga. Na outra série, o Planaltina venceu o Luziânia no confronto de ida e depende de um empate para retornar à elite e decidir o título.

O Ceilandense recebeu o maior “auxílio-acesso” desta temporada. Invicto, o time ostenta quatro vitórias e dois empates na Série B. Sofreu apenas um gol, atrás apenas do intacto Planaltina. O concorrente ainda não foi vazado. O sucesso do Ceilandense pode ser explicado, por exemplo, pelas súmulas da eliminação do Brasiliense da Série D do Campeonato Brasileiro e da partida anterior justamente pelas semifinais da competição.

Em 5 de agosto, o Jacaré empatou por 0 x 0 com o Athletic no estádio Joaquim Portugal, em São João Del-Rei, e deu adeus à quarta divisão. Sem calendário, o Brasiliense decidiu ceder jogadores ao Ceilandense, uma espécie de “filial” da matriz amarela. O goleiro Vavá e os jogadores de linha Gabriel Santiago, Wallace, Caetano, Lila, Luquinhas e Matheus Barboza disputam a segunda divisão pelo Ceilandense. Todos regularizados no BID da CBF. Empréstimos e/ou cessões temporárias de jogadores são regidos pelo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF. A última versão é de março deste ano. Tartá, Romário, Gustavo Henrique, Tharlley. Gustavo Henrique, Reinaldo e outros foram cedidos ao Ceilandense.

A prática tem sido comum no futebol candango há mais tempo do que se imagina. O Brasiliense turbinou o Samambaia no ano passado e viu o parceiro superar o Real Brasília na decisão por pênaltis no ano passado. Agora, é a vez do Ceilandense desfrutar do auxílio-acesso.

A “bolsa-segundinha” causa desconforto entre os filiados à Federação de Futebol do DF, porém ninguém se atreve a propor travas ou uma distribuição igualitária, justa, a fim de evitar o desequilíbrio de forças na segunda competição mais relevante do futebol local. Uma fonte indica ao Correio Braziliense que a insatisfação é geral e lamenta a falta de coragem para discutir o tema nos arbitrais.

O fato é que a prática se arrasta neste século sem um debate sério liderado pela FFDF. Fundado em 2000, o Brasiliense conquistou a Série B naquele ano contra a Aruc. O adversário contava à época com jogadores cedidos pelo maior rival do Jacaré, ou seja, o Gama. O clube alviverde também cedeu juniores ao Brasília em 2001 e ajudou o colorado a conquistar o título da segunda divisão contra o CFZ Brasília. O elenco campeão contava com joias da base do Gama como os zagueiros Emerson e Padovani, os volantes Goeber, Wesley e Didão e o atacante Victor. Todos sob a batuta de José Lopes de Oliveira, o Risada, comandante das divisões de base do Gama à época.

Em 2006, um dos “auxílios-acesso” partiu do Brasiliense. Os juniores do clube representaram o Samambaia na segunda divisão. O time alcançou a final, mas perdeu a única vaga disputada à época para o Esportivo Guará na final. Novamente reforçado pelo Brasiliense em 2014, o Samambaia conquistou o título, porém renunciou o acesso um mês antes do início do Candangão de 2015. Vice da segundona, o Cruzeiro herdou a vaga e figurou na primeira divisão.

"Essa daí é uma prática que e comum no mercado seja no Brasil, no exterior, e mais até do que o Manual de Transferências da própria CBF, o que regulamenta, embasa e limita essa cessão ou empréstimo de jogadores é a própria legislação. Nós temos a Lei Pelé e também a Lei 14.597, que, pra mim, inclusive, substitui a Lei Pelé nessa questão da cessão porque traz elementos mais concretos e decisivos. Por exemplo, a obrigatoriedade de ter a anuência do atleta. Se ele não quiser ser cedido, não pode ser forçado a ser emprestado. Essa regulamentação está prevista na Lei Geral do Esporte", avalia em entrevista ao Correio Braziliense o advogado especialista em direito desportivo Maurício Corrêa da Veiga. "Não impeditivo legal, o que ser evitado é no campo moral. Evitar acordo de cavalheiros", alerta. 

Enquanto o Ceilandense chega turbinado pelo Brasiliense ao duelo de volta com o Brazlândia, o Planaltina tem um duelo mais duro contra o Luziânia. A vitória por 1 x 0 e a vantagem do empate não são os únicos benefícios. O time comandado pelo uruguaio Hugo Burgos ainda não sofreu gol em seis jogos. Xará do treinador, o goleiro Hugo tem sido uma muralha intransponível. Apesar da dificuldade, o presidente do Luziânia acredita na virada e conta com a experiência do técnico Sebastião Rocha, vice-campeão da Copa do Brasil em 1997. “Um golzinho apenas. Não está difícil, vamos buscar”, prega o homem de fé Maycon Pottker em entrevista ao Correio.

Programe-se

Série B do Candangão – Jogos de volta - 15/10/2023

10h – Planaltina x Luziânia (Planaltina de Goiás)
Ida: Luziânia 0 x 1 Planaltina
» Empate basta ao Planaltina. Luziânia precisa devolver o placar para forçar decisão por pênaltis ou ganhar por dois gols de diferença para se classificar.

17h – Ceilandense x Brazlândia (Serejão)
Ida: Brazlândia 0 x 1 Planaltina
» O Ceilandense pode até perder por dois gols de diferença. Ao Brazlândia, resta devolver os 3 x 0 e apostar nos pênaltis ou por quatro gols de diferença para subir e confirmar vaga na final.

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