Ao fundo do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, no centro de Brasília, brasilienses saltam, rodopiam pelo ar e sonham com o crescimento da ginástica acrobática no Distrito Federal e no Brasil. Embora tenha menos visibilidade que as "irmãs" rítmica e artística, a modalidade se orgulha do caminho trilhado.
Fundadora da equipe e atual coordenadora técnica da Seleção Brasileira de ginástica acrobática, Márcia Colognese conta como foi o processo para implementar os conceitos da modalidade na capital. Para a dirigente, determinação e desejo de mudar vidas ajudaram a solidificar muito mais que um time, um movimento social.
Se hoje o time da Associação de Ginástica Acrobática do Distrito Federal (Akros-DF) ostenta sete títulos nacionais seguidos, é porque o investimento valeu a pena. Tudo começou quando Márcia trocou São Paulo por Brasília a convite do Centro Integrado de Educação Física (CIEF) para colaborar com a modalidade rítmica, em 2008.
Qualidade e sensibilidade de quem conhece o esporte chamaram a atenção de Maria do Carmo Brandão, diretora do CIEF. Pouco tempo foi necessário para que Márcia recebesse a missão de colocar em prática a ginástica acrobática na capital do país. "A Maria do Carmo Brandão viu em mim uma profissional diferenciada e com vasta experiência com a acrobática. Me perguntou sobre implementar a modalidade aqui no DF. Disse que me ajudaria e em um mês e meio o projeto foi aprovado e iniciado", compartilha.
As primeiras manobras da modalidade na cidade foram feitas por 10 meninas. No início, o objetivo era fomentar o alto rendimento para alcançar novos patamares na sequência. A aposta deu resultado. Com poucos meses de trabalho, a equipe da Akros voltou para casa com duas duplas campeãs nacionais. As conquistas deram início ao momento de evolução. Em 2009, o grupo foi reforçado com oito meninas antes do início do Campeonato Nacional em Brasília.
O esporte sob mentoria de Márcia chegou à principal vitrine em 2012. Naquele ano, a Seleção Brasileira disputou pela primeira vez o Mundial de Ginástica Acrobática, nos Estados Unidos. Após a disputa, ela viu a necessidade de encabeçar um novo projeto. A ideia foi batizada de Associação de Ginástica Acrobática do Distrito Federal (Akros-DF).
"Precisávamos competir no circuito nacional e internacional e de mais respaldo. Como tínhamos uma relevância muito grande, criamos a Akros e fomos atrás do que almejávamos. Nos tornamos referência e não foi à toa. Todos se esforçaram muito por tudo, com garra e determinação", ressalta a fundadora da organização.
Márcia conta que tudo só foi possível porque os atletas compraram a ideia dela e aprenderam que o caminho era o da persistência. "Graças a isso, Brasília se tornou no celeiro da modalidade a nível nacional. A base da seleção brasileira que irá ao Mundial em 2024 é de Brasília", destaca.
A missão, porém, não acabou para Márcia. Educadora de formação, a paulistana guarda no coração o objetivo não só de manter alto o sarrafo da modalidade no Distrito Federal, como também de promover o esporte por meio da ginástica acrobática para outras localidades. Em 2020, a Escola de Esportes da Secretaria interrompeu as atividades. Márcia levou as alunas para o Centro de Iniciação Desportiva, o CID, em Sobradinho, para dar sequência ao trabalho com mais de 100 jovens.
Em meio à passagem de bastão como comandante do alto rendimento na Akros, a professora teve o raciocínio para instaurar uma espécie de engrenagem na modalidade na capital federal. "Me preocupei em formar futuros treinadores e árbitros. Hoje, Brasília possui treinadores e árbitros internacionais. Isso deixará um legado, formará um assoalho para que o esporte cresça", discursa a dois anos da aposentadoria.
Destaques
Assim como as outras várias crianças e adolescentes da equipe, Mayanna de Moraes, de 18 anos, e Fernanda Duarte, 14, sonham em conquistar o Brasil e o mundo com as peripécias da ginástica acrobática. Prestes a participar do Campeonato Pan-Americano da modalidade, na cidade colombiana de Ibagué, de 6 a 10 de dezembro, as ginastas mostram consciência dos sacrifícios pela evolução.
Mayanna, uma das grandes esperanças de medalha na competição como parte do trio 13-19, composto também pelas colegas Ana Li e Isabela, revela ter chegado à ginástica devido ao gosto por esportes. Hoje, vive a modalidade há quase 10 anos. "Entrei aqui aos 9 anos e ainda tenho o mesmo sentimento. Na época, fazia também ballet e karatê, mas, por conta do tempo limitado, minha mãe me pediu para escolher um, e fiquei com o que mais gostava. No ano seguinte, fui para a equipe. Fui evoluindo e subindo de categoria. A rotina é pesada, mas é gratificante", explica.
A ginasta que atua na posição de base participou do Mundial da categoria em 2022 e revela ter boas expectativas para o Pan. "Treinamos cinco vezes por semana, quatro horas e meia por dia. Mas estou tranquila e confio no meu trio. Este ano conseguimos conquistar o Brasileiro e acredito que estamos preparadas", discursou.
O envolvimento com o cenário da prática esportiva também foi uma realidade para Fernanda. Dançarina desde os 5 anos, teve contato com um amigo do irmão mais velho, na época praticante do parkour, e conheceu a ginástica acrobática. "Ele também fazia ginástica. Me interessei, mas não sabia exatamente como era. Quando assisti a um vídeo, quis entrar na mesma hora, pois sempre tive o sonho de fazer atividades circenses e coisas parecidas", relata.
Fernanda também participará do Pan-Americano na Colômbia. Animada para a competição, a ginasta revela ter, junto das colegas, um aspecto fundamental para o sucesso: a confiança.
"Estamos evoluindo, de pouco em pouco. Por conta da convivência, criamos intimidade forte, o que agrega muito. Precisamos confiar umas nas outras para fazer as manobras. Sem isso, nada flui. Ao mesmo tempo, é difícil, pois existem os sacrifícios. Precisamos estudar à noite, por exemplo. Temos até uma psicóloga à disposição na equipe. Minha maior meta é estar no mundial do ano que vem", partilha.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini
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