Allianz Parque, 6 de setembro de 2022. Em campo, o Palmeiras empata com o Athletico-PR, por 2 x 2, e dá adeus à Libertadores da América, diante da própria torcida, nas semifinais. Em qualquer clube do mundo, a eliminação poderia se transformar em um divisor de águas para o mal. No alviverde, o momento virou um catalisador de forças para impulsionar a equipe em "13 finais" até a conquista do 11º título do Campeonato Brasileiro. Um ano depois, o mantra que virou série documental se repete e encaminha mais uma apoteótica conquista palmeirense na principal competição nacional.
No vestiário daquela queda na Libertadores, o técnico Abel Ferreira discursou em tom de profecia. "Meus amigos, faço só um pedido: aceitem, aceitem... Deem os parabéns ao nosso adversário, que não têm culpa nenhuma. Temos 13 finais até o fim (do Brasileirão de 2022). Com esta atitude, 13 finais até o fim! Isso vocês têm de meter em vossas cabeças", bradou aos jogadores. Naquela altura, o Palmeiras tinha oito pontos de frente para o vice Internacional. Nas partidas restantes da competição nacional, o alviverde recuperou o fôlego e remou de maneira tranquila até conquistar a taça.
As coincidências da trajetória de 2022 com a deste ano começam baseadas na mesma dor. Em 5 de outubro, novamente no Allianz Parque, o Palmeiras cai nas semifinais da Libertadores da América, desta vez diante do Boca Juniors, e dá adeus à chance de levar o título mais cobiçado da temporada. O cenário do Brasileirão naquela altura, porém, não indicava tanta possibilidade de reviravolta e sinalizava terra arrasada. Na rodada 26, o alviverde vinha de duas derrotas consecutivas e estava 11 pontos atrás do então líder Botafogo. Publicamente, o profético Abel Ferreira indicava a dificuldade de ultrapassar o adversário carioca na tabela.
"Desde que o Luís Castro (ex-técnico do Botafogo) ganhou em nossa casa (1 x 0 no primeiro turno), fui muito claro para a imprensa. E vou repetir: dificilmente o Botafogo perde esse campeonato", afirmou, à época. Embora passasse um discurso de complicação, internamente, aquele momento reativava o chip do mantra das 13 finais utilizado pelo técnico para incentivar os jogadores até a conquista de 2022. Assim como na campanha passada, o time tinha pela frente o mesmo número de partidas pela frente para tentar realizar o improvável, ultrapassar o alvinegro e conquistar a taça.
Curiosamente, na mesma semana, o alviverde divulgava o lançamento do documentário Palmeiras, 13 finais. A série conta justamente a caminhada da equipe desde a eliminação na Libertadores até a conquista do Brasileirão de 2022. Paralelamente, no ambiente interno da Academia de Futebol, Abel Ferreira traçava os planos para encaminhar a segunda temporada do pacto pela conquista nacional. Juntamente com o processo de derrocada do Botafogo, o time paulista recuperou as forças, somou pontos no mantra de pensar "jogo a jogo" e viu se tornar real a chance de conquistar o bi. De lá para cá, os paulistas somaram 17 pontos a mais em comparação aos cariocas e clarearam a chance de se sagrarem campeões no domingo (veja soma necessária ao fim da matéria).
Amadurecimento
Em 2022, o Palmeiras era um time mais coeso. A própria campanha nas "13 finais" daquela temporada reforça tal fato. Na ocasião, o alviverde teve aproveitamento de 76%. No mesmo recorte decisivo deste ano, até o momento, o time somou 66% dos pontos em disputa. Desempenho suficiente para deixar a virada improvável quase certa. As duas temporadas da saga palmeirense, porém, também indicam o real amadurecimento de um dos personagens da caminhada de 2023: o atacante brasiliense Endrick.
Na campanha passada, então com 16 anos, o atacante entrou em cena nas últimas partidas, carregando o status de lançamento de uma promessa. Na ocasião, o Palmeiras estava longe de depender dele. Rony, Dudu e Raphael Veiga eram pilares do time de Abel Ferreira, atravessavam grande fase e clareavam o caminho para a taça. Neste ano, com o primeiro renegado à reserva e o segundo lesionado, apenas o terceiro nome mantinha a boa fase. Faltava um protagonista. E Endrick reforçou todo o amadurecimento para assumir o importante papel na temporada de 2023.
No último Brasileirão, o brasiliense atuou em sete jogos finais, com três gols marcados. Na atual edição da competição nacional, com o peso da camisa nove alviverde às costas, deslanchou. Titular em 10 das 13 finais, Endrick marcou cinco gols, decidiu jogos importantes, como os confrontos contra Botafogo, Internacional e Athletico-PR, e se candidatou a ser o rosto da arrancada do Palmeiras rumo ao 12º título nacional no roteiro idealizado e colocado em prática por Abel Ferreira. Uma história futebolística digna de romper o universo das séries de televisão e chegar ao cinema.
As contas do Palmeiras
» Se ganhar do Fluminense: chega aos 69 pontos e torce para Botafogo, Atlético-MG e Flamengo não vencerem na rodada 37.
» Se empatar: alcança 67 pontos e precisa de derrotas de Botafogo, Atlético-MG e Flamengo ao longo do fim de semana.
» Se perder: desperdiça as chances matemáticas de conquistar o título no domingo, mas seca os rivais para seguir favorito.
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