São Paulo — Aos 17 anos, o adolescente Endrick Felipe Moreira de Sousa caminha imponente no Estúdio Quanta, palco do evento Bola de Prata na última quinta-feira, na Zona Norte de São Paulo. A camisa verde, o calção branco e a chuteira dourada do uniforme do Palmeiras dão vez a um look de grife todo trabalhado em preto e branco. Eleito o autor do gol mais bonito do Brasileirão e revelação da Série A, é acompanhado pelos pais, seu Douglas e dona Cintia Ramos, e a namorada, Gabriely Miranda. No acesso à sala de conferências para o contato com a imprensa, carrega no colo as duas taças recebidas na cerimônia organizada pelos canais ESPN.
Os cinco títulos no Palmeiras como jogador profissional, a recente convocação para a Seleção Brasileira e o protagonismo na campanha do bicampeonato alviverde no segundo turno direcionaram o foco do mercado publicitário para a joia nascida em Taguatinga. A agenda do jogador negociado com o Real Madrid por 37,5 milhões de euros é concorrida. Um colaborador do estafe informa que, no dia seguinte, o cliente será oficializado como garoto-propaganda de um remédio contra dor de cabeça antes de entrar definitivamente em férias.
A Neosaldina é a quarta marca a assinar contrato com Endrick. O talento alviverde coleciona acordos comerciais desde os 15 anos, quando a família assinou contrato com uma outra empresa do ramo de saúde, a OdontoCompany. Candidato a xodó das agências de marketing nos próximos anos, o atacante tem potencial para atingir, e até mesmo ultrapassar, o patamar de astros como Vinicius Junior e Neymar nos próximos anos. A maturidade e a firmeza nas respostas e nos posicionamentos pavimentam o caminho para prosperar a conta bancária. No ano passado, Endrick havia se tornado embaixador do fantasy Rei do Pitaco. Em novembro, rejeitou a alemã Adidas, a estadunidense Nike e disse sim à New Balance, fornecedora de chuteiras do craque.
Se Endrick fosse um piloto de Fórmula 1, diríamos que o macacão dele é o mais disputado do país. Um constante 'anuncie aqui com satisfação garantida ou seu dinheiro de volta'. "O Endrick já é uma referência de responsabilidade, talento e alegria para jovens e adultos. A forma com que ele se conecta com diferentes públicos é algo que buscamos com a marca. Trabalharemos juntos para fazer essa parceria o mais autêntica e inovadora possível em diferentes pontos de contato da marca com os consumidores, desde campanhas off-line e digitais, até projetos de inovação e eventos. São ações que devem alavancar a imagem da marca e nossas vendas", afirma em entrevista ao Correio Braziliense, Carla Dias, diretora de marketing e comunicação da Cafehyna, empresa responsável pelas campanhas e ativações do medicamento.
Muito bem treinado nos bastidores, Endrick é articulado diante das câmeras com a mesma liberdade dada pelo técnico Abel Ferreira no time do Palmeiras. Livre, leve e solto, citou a família ao falar do novo parceiro. "É uma marca muito boa. A minha mãe (Cintia) e minha namorada (Gabriely) sofrem com muita dor de cabeça, vai ajudá-las bastante", afirmou.
Em seguida, despistou ao falar em cifras. "É um contrato de cinco anos. Em princípio, R$ 2,5 milhões ao ano. E sim, tem uma série de gatilhos por premiações, títulos. Então sabemos que vai ficar bem acima o valor desse contrato", explicou Carla Dias. Endrick receberá R$ 12,5 milhões até o fim do contrato. "Eu não sabia", respondeu o jogador.
O craque tinha noção, sim. Endrick e a família tomam decisões em conjunto. Foi assim, por exemplo, na escolha do fornecedor de material esportivo. A decisão de assinar com a New Balance e preterir a Nike tem a ver com o documentário "Air: A história por trás do jogo". A obra conta como a marca cresceu em sintonia com Michael Jordan, o melhor jogador de basquete de todos os tempos. A etiqueta aprovou nele e ambos ganharam na loteria. Convencido, Endrick não queria mais do mesmo. Daí a preferência pela New Balance em uma parceria até 2028.
A etiqueta calça jovens promissores como Endrick. O inglês Bukayo Saka do Arsenal é um deles. Harvey Elliot, 20, emprestado pelo Liverpool ao Blackburn Rovers; Timothy Weah (Juventus), 23; e a jogadora estadunidense do Kansas City Current, Michelle Cooper, 21, são alguns nomes no portfólio da New Balance. Experientes como Sadio Mané e Raheem Sterling constam na vitrine.
O contrato prevê Endrick no papel de principal protagonista da marca. Algo parecido com o que a Puma faz com Neymar, a Nike com Cristiano Ronaldo e a Adidas com Messi. O plano é similar ao celebrado por Michael Jordan no início da carreira, com produtos customizados, marca própria dentro da New Balance e até uma linha de produtos mais populares ao bolso dos fãs.
Potencial de
crescimento da marca
Especialistas ouvidos pelo Correio Braziliense admitem o potencial de crescimento da marca Endrick para extrapolar o mercado publicitário do futebol. "Para avaliar e analisarmos o potencial de mercado de um indivíduo, especialmente em relação a patrocinadores e comparações, precisamos considerar diversos fatores, como desempenho esportivo, imagem pública, envolvimento em causas sociais, carisma, gestão de carreira, presença na mídia e muitos outros", aponta Adauto Gudin, presidente da Associação Patrocínio Brasil.
O executivo acrescenta em relação aos parâmetros: "A análise do potencial de mercado de um indivíduo também leva em conta a conjuntura econômica atual e futura, tendências e perspectivas de cenários. Considerando as informações e dados que temos do Endrick até o momento, podemos imaginar que o potencial dele é altíssimo para atrair parceiros de diversos setores econômicos e sociais", avalia Gudin.
A expectativa em relação a Endrick é crescente e com projeção igual ou superior às de craques como Neymar, Vinícius Junior e Rodrygo entre os brasileiros. "Acredito que sim, mas isso pode depender de uma combinação de fatores, como um bom desempenho futuro no Real Madrid e Seleção Brasileira. Mesmo ele sendo da geração digital, hoje esse mundo é muito maior do que há 10 anos atrás ou mais, no início de carreira do Neymar", pondera o especialista.
Há um diferencial favorável ao diamante do Palmeiras: a revolução tecnológica. "Endrick tem essa vantagem por iniciar nessa década, na qual o digital é mais relevante que há 10, 15 anos. Outro fator é o tamanho do mercado de patrocínio esportivo hoje, a relevância e quantidade de marcas que investem nele, que são maiores também. Nisso, o Endrick também leva vantagem, mas vai depender dos resultados, personalidade, gestão de carreira e imagem", conclui Gudin.
Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo reforça o poder das redes sociais. "As marcas têm investido muito em influenciadores que possuam uma comunicação, postura e valores alinhados com seus perfis. É uma forma de investimento teoricamente 'ainda mais em conta' quando comparado o alcance e capacidade de rastreamento e conversão com meios de publicidade convencionais; usando os atletas como plataforma de mídia é uma forma de conseguir aliar ativações nas plataformas digitais (redes sociais) com ações de experiência (presenças VIP's e interações com fãs)", explica. (MPL)
Cinco perguntas para //
Fábio Wolf, sócio-diretor da Wolff Sports e responsável pela gestão de patrocínios de Endrick
Endrick tem quatro patrocinadores aos 17 anos. Qual é a projeção para a carreira dele?
Há dois anos fazemos a gestão de imagem e de patrocínios do Endrick, e o que temos visto nesse período impressiona, a ponto de afirmar que o céu é o limite para ele.
Qual é a dinâmica do trabalho com a imagem dele?
À medida que a imagem do Endrick vai se valorizando, a tendência é ter empresas cada vez maiores que possuam fit com ele. Não buscamos troca financeira, mas sim de atributos.
O que distingue Endrick no mercado?
Ele é um garoto que desde sempre demonstrou maturidade para entender os passos de alcançar sucesso também fora dos gramados, no que diz respeito ao campo dos negócios e nas redes sociais. As plataformas digitais, hoje, possuem um poder de alcance global, que atingem desde os fãs até eventuais parceiros comerciais, e é muito raro acompanhar profissionais da idade dele com essa preocupação e um poder de engajamento sem limites.
Isso aumenta a seletividade dos acordos, como aconte, por exemplo, com Cristiano Ronaldo, Rafael Nadal e Roger Federer?
Queremos uma relação com no máximo oito empresas, mas que associem o nome do Endrick com a construção de histórias reais, e que não seja apenas uma troca financeira.
O que o mercado e os fãs querem consumir?
As pessoas gostam de ver aquilo que acontece fora das quatro linhas, basta ver o número de visualizações de vídeos dos clubes em torno do que é publicado nos vestiários. É sempre muito maior. Por isso ambicionamos algo que conte mais dos bastidores, e a série série 'Drive do Survive', da Netflix, é um ótimo exemplo disso. (MPL).
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