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Grana, reestruturação e fracasso: veja o desempenho das SAFs no Brasil em 2023

Arena MRV foi inaugurada esse ano e repassada para os donos da SAF

Arena MRV foi inaugurada esse ano e repassada para os donos da SAF  -  (crédito: Fotos: Daniela Veiga / Atlético)
Arena MRV foi inaugurada esse ano e repassada para os donos da SAF - (crédito: Fotos: Daniela Veiga / Atlético)

A nova era das SAFs no futebol brasileiro finaliza o ano de 2023 ainda em processo de amadurecimento e resultados poucos efetivos. Pelo menos, com a bola rolando. Afinal, nenhum dos clubes conquistou título e alguns lutaram contra o rebaixamento na Série A. Já fora das quatro linhas, o cenário é animador: salários em dia, altos investimentos e reestruturação a todo vapor.

Desde que a Lei da SAF foi aprovada, há dois anos e quatro meses, estima-se que cerca de 30 equipes migraram para o modelo de gestão empresarial. Algumas são pequenas, como Maricá-RJ e o Monte Azul-SP. Nove delas, porém, fizeram parte da elite nesta temporada: Botafogo, Vasco, Cruzeiro, Atlético-MG, Bahia, Cuiabá, Red Bull Bragantino, Coritiba e América-MG.

No entanto, nem todos estão no mesmo estágio ou seguem o mesmo padrão. O Jogada10 explica cada caso abaixo.

Atlético-MG

A venda do Atlético-MG foi feita para um grupo de empresários – os “4Rs” -, que incluem os acionistas da MRV e do Banco Inter Rubens e Rafael Menin, além de Ricardo Guimarães e Renato Salvador. O grupo, aliás, já tinha voz ativa e patrocinava o clube. A aprovação do negócio data de julho, mas somente se tornou oficial em 1o de novembro. Portanto, não há como avaliar os resultados práticos ainda.

O modelo, no entanto, impõe que o centro de treinamento (Cidade do Galo) e a Arena MRV serão transferidos para a SAF. Os investidores terão de fazer um aporte total de R$ 600 milhões, além de amortizar a dívida estimada de R$ 313 milhões do clube. Acaso ou não, o segundo turno do Brasileirão do Atlético foi excelente, e o time deixou o meio da tabela para terminar em terceiro.

Bahia

Já o Bahia, adquirido pelo Grupo City, que controla entre outros o Manchester City, teve um ano difícil, apesar do recorde em investimentos (acima de R$ 80 milhões). Penou na principal competição nacional e só escapou da queda na última rodada.

A campanha frustrou a torcida, afinal, a SAF já gere o clube desde março e contratou 25 reforços. No entanto, o elenco ainda não deu liga. Com a saída do técnico Ricardo Paiva, coube a Rogério Ceni liderar o Esquadrão na reta final.

Botafogo

Sob o comando de John Textor, dono da Eagle Holdings, o Botafogo foi o que mais chegou longe entre os que já tem mais de um ano de SAF. Fez um primeiro turno do Brasileirão impecável e parecia que ganharia o título, pondo fim a um jejum de 28 anos. Contudo, após uma péssima reta final, permitiu a chegada do Palmeiras. Terminou, então, em quinto de forma melancólica.

O resultado, por outro lado, é o melhor do clube na história dos pontos corridos. Mas, do ponto de vista do profissionalismo, Textor não deu um bom exemplo ao acusar de todas as maneiras a CBF e a arbitragem, com críticas e ameaças.

Com a melhoria constante do CT Lonier e a redução das dívidas, o Glorioso tem hoje uma gestão equilibrada, com poder de investimento. Tanto que adquiriu jogadores de forma definitiva, pagando mais de R$ 10 milhões por nomes como Patrick de Paula, Victor Sá e Gustavo Sauer. Além disso, trouxe jovens estrangeiros como apostas para o futuro: Mateo Ponte, Segovinha, Hernández e Adamo.

Lista de SAFs na Série A em 2023:

Atlético-MG – Galo Holding (75% das ações)
Bahia – City Football Group (90%)
Botafogo – John Textor (90%)
Coritiba – Treeecorp investimentos (90%)
Cruzeiro – Ronaldo Fenômeno (90%)
Cuiabá – Família Dresch (100%)
Vasco – 777 Partners (70%)

* O América-MG já aprovou o modelo de SAF, mas só agora está perto de definir um investidor. Portanto, na queda recente para a Série B, não houve interferência empresarial na gestão. Já o Bragantino, desde 2019, é comandado pela Red Bull, marca de energético. No caso, houve a transformação em clube-empresa, com direito à mudança no nome e no escudo. 

Coritiba

Rebaixado para a Série B, o Coritiba começou com o pé esquerdo a nova era no clube. Porém, não é possível culpar a gestão da Treecorp, afinal, o acordo por 90% das ações foi assinado no fim de junho. A empresa tentou mudar o cenário na janela de transferências do meio do ano, com oito reforços. Mas pouquíssimos renderam, e o trabalho terá de recomeçar com menos receitas em 2024.

No contrato, estão previstos investimentos na ordem de R$ 1.1 bilhão, em dez anos, com R$ 450 milhões à disposição do futebol e cerca de R$ 500 milhões para a reforma geral do Estádio Couto Pereira. Um dos sócios da Treecorp é o famoso empresário Roberto Justus.

 

 

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Cruzeiro

Sob a caneta de Ronaldo Fenômeno, o Cruzeiro também teve um ano de muita oscilação e terminou o Brasileirão em 14o lugar. Diante da grave crise dos últimos anos, os investimentos ainda não são vultuosos. Dono da SAF, o ex-atacante prefere “arrumar a casa” primeiro e diz que isso vai levar tempo. Por outro lado, a administração já cogita vender uma parte dos 90% adquiridos.

A previsão para a próxima temporada não é de muita evolução nos aportes. No entanto, ao menos a Raposa se classificou para a Copa Sul-Americana e, enfim, volta a disputar um torneio internacional depois de quatro anos.

Cuiabá

Primeira SAF do país, de 2021, o Cuiabá vive seu melhor momento. Com uma gestão sólida desde que clube-empresa, manteve-se na Série A pelo terceiro ano consecutivo, vai jogar a Copa Sul-Americana e tem cada vez mais força no mercado para segurar, ou vender a preço alto, seus destaques, como o lateral-esquerdo Rikelmi, o volante Denílson e o atacante Deyverson.

Vasco

A temporada do Vasco terminou com o alívio pela permanência na elite e com boas vitórias sob o comando de Ramón Díaz. Porém, ninguém ficou satisfeito com o 15o lugar. Desde que a 777 Partners assumiu, os salários estão em dia, e os investimentos foram acima de R$ 110 milhões em 2023, mas nada disso garantiu bons resultados no primeiro semestre. Assim, o diretor esportivo da SAF, Paulo Braks, foi demitido. Em seu lugar, chegou Alexandre Mattos, que goza de prestígio e vários títulos em âmbito nacional nos últimos dez anos.

Josh Wander e seus sócios, entretanto, encaram acusações de que a empresa não tem condições de manter tantos clubes. Inclusive, o aporte mais recente atrasou por mais de um mês. Para a próxima temporada, espera-se que o futebol receba a injeção de R$ 260 milhões.

O advogado José Francisco Manssur, coautor do texto original da Lei da SAF, celebrou .

“Superou muito nossas expectativas o número de clubes que já constituíram a SAF ou estão discutindo o assunto nos seus conselhos deliberativos ou entre os sócios. Assim como a demanda reprimida de investidores nacionais e estrangeiros procurando clubes brasileiros para investir, o que não acontecia mais com as associações. Inclusive clubes e investidores assessorados por consultorias econômicas e escritórios de advocacia importantes”, disse Manssur.

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Clubes que estudam virar SAF

Por sinal, tem mais gente de olho nessa mudança para angariar mais investimentos. São os casos do Flamengo, Fluminense e Fortaleza. Todas as essas diretorias já declararam publicaram que desejam ter um parceiro a longo prazo, mas sem entregar a majoridade das ações. Ou seja, a “venda” seria em torno de 15% a 30%, mantendo, assim, o poder de decisão.

“O Fluminense faz um estudo há mais de um ano com o Banco BTG. É o nosso assessor nesse assunto. Estamos em fase de análise de dívida. Não temos projeto de fazer SAF com venda de controle. Pode ser SAF, busca de investidor… se for SAF, seria como minoritário e não majoritário, como é por exemplo no Botafogo, Vasco e Cruzeiro, de entregar o controle de uma instituição mais que centenária. O Fluminense precisa de investidor para dar um salto maior do que já deu, mas com essa preocupação de não entregar o controle”, avalia o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt.

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Jogada10
postado em 21/12/2023 11:01