Esporte

CB Poder: Túlio Lustosa analisa vitória histórica do Botafogo sobre o PSG

Convidado do programa, parceria do Correio com a TV Brasília, ex-volante ressalta desempenho do alvinegro diante dos franceses e elogia momento dos clubes brasileiros na Copa do Mundo de Clubes

Uma vitória histórica merece a análise de um ídolo grandioso. No embalo do triunfo do Botafogo sobre o Paris Saint-Germain, na Copa do Mundo de Clubes da Fifa, o CB Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — recebeu o ex-jogador e dirigente Túlio Lustosa, conhecido como Túlio Guerreiro. Para o ex-jogador do alvinegro carioca, o resultado não só empolga os botafoguenses, mas reforça o valor do futebol brasileiro perante à Europa.

Para Túlio, apesar do esperado domínio do PSG, o Botafogo jogou com uma aplicação tática rara e soube aproveitar a oportunidade criada por Igor Jesus para sacramentar a vitória histórica. "Eles jogaram esperando a oportunidade certa, que surgiu com o Igor Jesus, e ele soube aproveitar. Houve outras chances, mas basicamente era isso: o PSG dominando e o Botafogo jogando para aproveitar uma escapada e matar o jogo", analisou o ex-volante.

Na visão do ídolo alvinegro, o desempenho, somado às boas partidas de Palmeiras, Flamengo e Fluminense contra times europeus, deve fazer o futebol brasileiro ser visto com mais respeito internacionalmente. "A hegemonia dos brasileiros na América do Sul já está comprovada, mas a Europa nunca deu tanta importância. Creio que os europeus passarão a respeitar mais o nosso futebol", destacou,

Sobre a evolução do Botafogo, Túlio relembra os momentos difíceis vividos pelo clube na década passada, quando chegou como jogador e encontrou uma estrutura precária e graves problemas financeiros. Segundo ele, a transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), com investimento do empresário norte-americano Jhon Textor, foi fundamental. "Realmente salvou o clube", apontou.

O ex-volante avalia o formato atual da Copa do Mundo de Clubes como justo e atrativo, reunindo times de diversas culturas e estilos, contribuindo para o crescimento do futebol sul-americano. "É motivo de orgulho ver os clubes brasileiros jogando assim. Alguns comentaristas tentam minimizar, dizendo que os europeus não levam o Mundial a sério, mas isso não é verdade", salientou.

Túlio ainda arriscou palpites. Entre os clubes brasileiros, o ex-volante considera o Palmeiras o mais preparado para conquistar títulos no cenário europeu, apesar do favoritismo dos clubes do Velho Continente. "Se adapta melhor ao nível de competitividade, especialmente no mata-mata. O favorito ao título, mesmo após a derrota, é o PSG", arriscou.

Mais da entrevista

Você viveu momentos difíceis no Botafogo, como jogador e dirigente, inclusive na época pré-SAF. O que mudou do Botafogo dos anos 2010 para agora?
Cheguei no Botafogo em 2003, quando o clube estava na Série B e passando por dificuldades. Saí do Goiás, um clube organizado, para encontrar um Botafogo com uma estrutura física precária. Por exemplo, a pré-temporada foi feita na Granja Comary, uma estrutura fantástica, mas depois voltamos ao Rio e treinávamos no Caio Martins, que estava destruído, com o gramado muito ruim. Pensei até em desistir do contrato. Foi o Bebeto de Freitas quem me convenceu a acreditar no projeto e ele fez a estrutura evoluir. Conseguimos a concessão do estádio Newton Santos, o Engenhão na época, mas o clube ainda vivia problemas financeiros graves. Em 2020, como diretor, vi de perto a dificuldade para pagar salários. A salvação veio com a transformação em SAF e o investimento do Textor, que realmente salvou o clube.

Por que tantos clubes brasileiros enfrentam problemas financeiros e atrasos no pagamento?
Porque não há fair play financeiro no Brasil. Tive a experiência no futebol japonês, onde as regras são rigorosas e o fair play funciona muito bem. No Brasil, isso ainda não foi implementado efetivamente. Muitas vezes a pressão da torcida leva dirigentes a contratarem acima do orçamento, algo que não deveria acontecer. Eu mesmo vivi isso no Botafogo. Nunca fui a favor, mas fui voto vencido, porque a caneta não estava na minha mão. O torcedor consciente não deveria aceitar que o clube faça contratações fora da realidade financeira.

Pode explicar melhor como funciona o fair play financeiro?
Basicamente, o clube deve apresentar para a liga suas condições financeiras reais. Se quiser contratar um atleta com salário exorbitante, a liga avalia se há capacidade para pagar. Se não, veta a contratação. Isso é fundamental para organizar o futebol e evitar crises financeiras.

Hoje temos Palmeiras e Flamengo como exemplos de sucesso na administração, ainda como clubes tradicionais, e Botafogo e Cruzeiro como SAFs. Qual caminho você acha que os outros clubes deveriam seguir?
A SAF foi o último recurso para o Botafogo, dada a gravidade da situação. Não vejo necessidade para clubes como Flamengo e Palmeiras, que estão saneados e têm grande potencial de crescimento. Criar uma SAF para eles não faz sentido, pois perdem benefícios fiscais. Agora, clubes muito endividados, como Atlético Mineiro, precisam buscar alternativas. O Vasco tentou, mas não deu certo — eles escolheram mal o investidor e ainda enfrentam consequências. A escolha do investidor é fundamental.

Para o jogo do Flamengo contra o Chelsea, o que você espera? Acredita que o Chelsea vai rever a estratégia após ver o jogo do Botafogo?
Acho que o jogo será mais equilibrado que o Botafogo contra o PSG. As chances do Flamengo são maiores. O Chelsea não deve impor tanta superioridade. Será um jogo nivelado, com chances para ambos os lados. Espero que o Flamengo jogue de igual para igual e saia com a vitória, o que seria muito bom para o futebol brasileiro.

O Fluminense também fez um bom jogo contra o Borussia, o que tem achado do desempenho dos clubes brasileiros?
É motivo de orgulho ver os clubes brasileiros jogando assim. Alguns comentaristas tentam minimizar, dizendo que os europeus não levam o Mundial a sério, mas isso não é verdade. Apesar de estarem no final da temporada, eles levam a competição a sério, como sempre fizeram no Mundial Interclubes. O futebol sul-americano está surpreendendo e ganhando respeito.

Como você avalia a presença crescente das empresas de apostas no futebol?
É uma realidade, mas precisa ser bem monitorada para evitar manipulação e corrupção, como ocorreu há alguns anos com jogadores beneficiando apostadores. Ainda não há uma regulamentação clara para proteger todos os envolvidos no esporte. Hoje, esses patrocínios representam valores significativos para os clubes, mas a credibilidade do futebol deve ser preservada.

E quanto à estrutura do futebol brasileiro, dividido em quatro divisões, com calendário longo e estaduais?
O calendário precisa ser repensado. Ele não pode ser feito apenas para a Série A e B. Muitos clubes vivem apenas dos estaduais, que precisam ter mais jogos. O Brasil tem milhares de clubes e merece uma estrutura melhor. A Inglaterra, por exemplo, tem mais de dez divisões num país menor. O atual presidente da CBF anunciou redução dos estaduais, mas isso deve valer para os times grandes, não para os pequenos. Espero que se criem mais divisões nacionais para oferecer um calendário mais justo e atrativo.

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