Já pensou se fosse possível absorver o conteúdo da faculdade enquanto joga on-line? Essa foi a proposta de um professor do Centro Universitário de Jaguariúna (Unifaj) que motivou o estudante de administração Lucas Vinicius de Oliveira, 23 anos, a criar uma didática de ensino divertida dentro da comunidade virtual Habbo Hotel.
No início do semestre, o professor Rogério Narciso, que ministra a disciplina tópicos especiais: controle gerencial e governança corporativa, informou aos alunos que a avaliação do semestre não seria feita por meio das tradicionais provas, mas sim por um único trabalho, batizado como “Aprendizado por jogos”.
O objetivo era fazer com que os alunos desenvolvessem um jogo, que deveria trabalhar duas das oito competências de administrador traçadas pelo Ministério da Educação (MEC), englobando também aprendizados absorvidos durante a trajetória do curso. Das competências, Lucas optou por trabalhar com a comunicação e desenvolvimento de projetos.
A principal regra da dinâmica era bem clara: o jogo deveria ser aplicado para a sala toda. A ideia foi bem recebida pelos alunos. Lucas enxergou no trabalho uma oportunidade de diversificar o ensino em tempos tão difíceis para educação por conta da pandemia. “Diante todo o cenário que estamos passando, em que as aulas se tornaram EaD, o desafio de aprendizado é constante, principalmente quando pensamos em prender a atenção dos alunos para novas didáticas”, explica.
Inspiração veio da infância
“A partir do momento que o professor disse que deveríamos ser criativos, lúdicos e que o jogo deveria ser executado durante aula on-line, já martelei na cabeça como fazer com que todo mundo jogasse algo com vontade de jogar, não simplesmente por nota”, conta o estudante de administração.
Despertar a vontade de participar em todos os alunos da classe não seria uma tarefa fácil. Então, o jovem se recordou de um jogo que o divertiu durante a infância e, ainda, o trouxe boas amizades com quem mantém contato até hoje: o Habbo Hotel.
“Lembrei a senha da minha conta e entrei para ver como estava o layout depois de tanto tempo. Adivinha? Estava ainda mais completo. Foi aí que vi que realmente deveria usufruir daquela plataforma que fez parte de uma boa parcela da minha infância para benefícios acadêmicos”, relata.
A nostalgia não parou no jogo on-line. A didática criada por Lucas dentro do jogo on-line foi baseada no programa O Aprendiz, apresentado por Roberto Justus na RecordTV até 2014. “Sempre tive vontade de reproduzir a famosa frase: você está demitido”, brinca o estudante.
Uma metodologia interativa
Quem conhece o Habbo Hotel e o programa O Aprendiz consegue imaginar como a dinâmica foi feita entre os alunos. O maior desafio era fazer como cerca de 65 alunos da turma conseguissem participar.
Para que tudo funcionasse perfeitamente, foram selecionados 20 estudantes, que se dividiram em duas equipes de 10. O restante da classe se tornou plateia e Lucas Vinicius o apresentador, ou melhor, o condutor do jogo.
Separados as equipes e a plateia, o apresentador estipulou para cada time um modelo de negócio a ser seguido. Exemplo: uma equipe representou uma padaria enquanto a outra ficou responsável por um restaurante japonês.
Dessa forma, cada equipe recebeu 200 câmbios (nomeação do dinheiro dentro do Habbo) e tiverem 15 minutos para ir ao Atacadão da Mobília, quarto virtual criado para a dinâmica, comprar os objetos que estivessem disponíveis para montar o negócio.
Com o negócio montado, as equipes deveriam desenvolver na caixa de diálogo do jogo uma cena lúdica. Isto é, os participantes deveriam fazer o marketing de divulgação, como se estivessem inaugurando o comércio e, ainda, promover a interação de todos integrantes da equipe, como se fossem funcionários ou clientes.
Um reality show acadêmico
Como as aulas são pela plataforma Google Meet, a tela do jogo foi compartilhada para todos visualizem. Nisso, Lucas listou três possíveis obstáculos e três possíveis benefícios durante a trajetória de execução das equipes que seriam adicionados a dinâmica conforme votação da plateia.
Entre tais obstáculos e desafios, os telespectores votavam se queriam que uma equipe passasse por uma crise, perdendo dinheiro ou tivesse vantagem pegando mobílias da equipe concorrente, por exemplo. Além disso, era da plateia a responsabilidade de avaliar qual foi a melhor equipe que conseguiu atender os critérios de criatividade, marketing, comunicação e elaboração de projeto.
A turma gostou tanto do jogo que os 30 minutos pré-estabelecidos se estenderam para uma hora e meia. “Fomos acrescentando vários obstáculos para que a interação seguisse de forma mais difícil”, conta Lucas. “Foi honroso ver todos meus colegas de faculdade, alguns de 25, 30, 33 anos, jogando algo que fez marco na minha infância”, confessa.
Projeto que vai para frente
É claro que depois de fazer tanto sucesso, Lucas conseguiu nota dez no trabalho, que considera um marco em sua trajetória acadêmica. Mais que isso, o professor o pediu para desenvolver a mesma metodologia de forma mais simples para aplicar em turmas do ensino médio da cidade.
Agora, o estudante está em fase de desenvolvimento do projeto. “Estou pensando nas diversas possibilidades de interação com institutos educacionais utilizando essa plataforma, já que todas escolas estão tendo que conduzir aulas online para alunos de ensino fundamental, médio e superior”, conta.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá