O ecossistema brasileiro de startups viu as expectativas programadas para este ano diminuírem em meio à pandemia e ao distanciamento social. Hector Gusmão, CEO da aceleradora Fábrica de Startups, explica que, após uma temporada de crescimento e estabilidade vivida pelo setor em 2019, estimava-se ainda mais investimentos no modelo de negócios este ano.
Apesar de as perspectivas estarem mais baixas e de um certo clima pessimista rondar muitos empreendedores, nem tudo está perdido. As startups que se adaptam e resolvem problemas deste período podem encontrar promissoras oportunidades. Para Hector, administrador formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), mesmo diante de uma crise, é possível construir chances para expandir os negócios ou, até mesmo, empreender pela primeira vez.
Segundo o CEO, o momento pede que as startups façam algo a que estão acostumadas para sobreviver ao mercado: inovar. A palavra-chave para os próximos meses, ou até mesmo anos, é reinvenção. Hector foi reconhecido como um dos jovens mais promissores do Brasil em 2018, entrando para a lista Forbes Under 30. Com seu primeiro negócio, aos 21 anos, gerou mais de R$ 500 mil em vendas.
A pandemia trouxe fortes impactos financeiros a diversos segmentos. Qual é a situação do ecossistema das startups?
Existem duas formas de analisar essa crise. Em um primeiro momento, o setor estava otimista, pois a economia vinha respondendo muito bem. O ano de 2019 teve um recorde de investimento em startups, que se estruturaram e tinham caixa. Tudo ia bem até que caiu um “meteoro” na Terra, que deixou tanto as startups, quanto os empreendedores de primeira viagem assustados. Essa queda de expectativa atingiu todo mundo, fez com que essas empresas se voltassem para dentro de casa para se reestruturar, organizar planos e focar a melhoria das operações. Então, há uma quebra de expectativa. Por uma segunda forma de avaliar, há uma série de oportunidades para muitas empresas do nosso sistema. Depois que a gente conseguiu entender o cenário da crise, algumas mudanças positivas ocorreram.
Quais seriam essas mudanças positivas? Como os empreendedores podem aproveitar as novas oportunidades?
Exemplos disso são as startups de tecnologia, do setor financeiro e de seguros. O ambiente de investimento continuará fomentando iniciativas que estiverem direcionadas para os desafios do agora. Tem startups crescendo muito neste momento, porque a demanda é muito maior do que a oferta. Outras perceberam que, depois deste “furacão”, podem crescer a um ritmo nunca visto na história. Crescem aquelas que conseguem enxergar a realidade e se readequar. O resultado final é positivo. As empresas vão amadurecer e conseguir navegar melhor no que vem depois da pandemia.
Quais setores sofrem mais com a crise?
Aquelas startups menores, que não estavam capitalizadas e não precisaram fechar as portas, vão empurrar com a barriga até o ambiente melhorar para investir. Muitos empreendedores, especialmente os de primeira viagem, vão ficar pelo caminho, e isso, apesar de doloroso, é natural. Não significa fracasso, mas, sim, que é hora de seguir em frente. Além disso, haverá muitos talentos desempregados. São talentos que podem sentir medo de empreender, porque aumentam os riscos e há menos recursos no mercado.
Qual é a mudança mais evidente que a pandemia trará para as startups?
Existem estudos que afirmam que, em 90 dias de pandemia, nós antecipamos mais de uma década no processo de transformação digital que estávamos visando. O mundo de possibilidades dentro do digital é sem precedentes. A demanda de consumo on-line é tão grande que as startups podem andar abraçadas para resolver o tanto de desafios que surgirão.
Quais dicas você daria aos empreendedores de primeira viagem?
Empreender é um bom caminho, mas não há mais espaço para empreendedor aventureiro, que é aquele que acha que vai criar um negócio de R$ 1 milhão em um ano. O caminho para o empreendedor de primeira viagem ser bem-sucedido é, primeiramente, informar-se para conseguir ter uma leitura do que vem depois desta crise. É preciso pensar: como o mercado vai se desenvolver? Quais demandas surgirão? Como o cliente consumirá daqui para a frente? Em segundo lugar, deve-se criar algo com uma proposta de valor muito alta, de que realmente o mercado precise, com os melhores recursos que você tem. A frase de Darwin nunca foi tão atual: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Mãozinha para sua empresa
A empresa Seguros Sura oferece mentoria gratuita para potencializar startups, micro, pequenas e médias empresas. A iniciativa Empresas Sura, plataforma da seguradora que conecta e capacita empreendedores de forma gratuita, nasceu no ano passado e ganhou força, agora, por conta das dificuldades enfrentadas em meio à pandemia de covid-19. Os empreendedores interessados podem receber orientações personalizadas e ter acesso a conteúdos criados por especialistas de temas diversos. Saiba mais: www.segurossura.com.br/empresas-sura.
Como sobreviver à crise?
Confira dicas de Hector Gusmão para durante e após a pandemia
Seja mais eficiente com menos
É possível cortar gastos? Então, faça isso. Seja levando o escritório para dentro de casa, seja reduzindo o número de funcionários.
Use os recursos que você tem
Esqueça empréstimos. Em meio a uma crise, será difícil encontrar crédito no mercado
Identifique o problema
Do que o cliente precisa? Pense nisso para oferecer produtos e serviços.
Mantenha o foco nas soluções
O empreendedor precisa criar propostas de valor mais relevantes, se não, ele não sobrevive.
* Estagiária sob a supervisão da subeditoria Ana Paula Lisboa