Eu, Estudante

Adaptação

Dia do professor: profissionais partilham experiências em aulas remotas

Educadores precisaram adaptar suas metodologias e superar dificuldades que surgiram com a pandemia

Não bastasse o desafio inicial de ensinar adolescentes dentro de uma proposta totalmente diferente do Novo Ensino Médio – que inclui educação profissional e o ensino de matérias por áreas de conhecimento – os professores precisaram ainda encarar o ensino a distância causado pela pandemia do novo coronavírus. Adolescentes desestimulados, com sono, sem interação com o educador são parte desse cenário e professores se esforçam para que nenhum estudante fique para trás.

Priorizando o amor pelo ensino, milhares de educadores no Brasil têm procurado superar as dificuldades surgidas com a pandemia. Neste 15 de outubro, data dedicada aos profissionais da educação, professores compartilham suas histórias. É o caso da professora Nelikim Pelizer Cardoso, 30 anos. Em janeiro de 2019, ela completou 11 anos dedicados à sala de aula, com passagens por diversas escolas. Nessa batalha diária, Nelikim diz sentir orgulho de ser professora.

Atualmente, ela dá aulas no Serviço Social da Indústria (Sesi), em curso profissionalizante de ensino médio, e atua em mais duas escolas. “Tem que ter um emprego pra cada filho”, ela diz, rindo. A pluralidade de instituições possibilita que Nelikim ensine alunos de realidades diferentes. Ela enxerga nas diferenças insumo para enriquecer o processo de aprendizagem. Ela também acha o máximo observar os perfis e o comportamento que apontam mudança de personalidade conforme o ambiente no qual o jovem está inserido. “Gosto muito da questão humana. Trazer para o menino privilegiado a realidade da sociedade, enquanto para o aluno que enfrenta inúmeros problemas, as possibilidades”.

São muitos os desafios e missões. Ainda maiores as dificuldades. Para ela, um de seus maiores obstáculos é o desgaste físico. Para manter uma renda adequada para sustentar seus filhos, a professora precisa ter mais de um emprego. E em todos precisa estar muito conectada e alerta para conseguir ensinar. Outro processo que a professora considera cansativo é sentir a obrigação constante de evoluir sua metodologia. Além da própria performance, tem que acompanhar as recorrentes reformas do ensino no Brasil, que atualmente reformula a etapa do ensino médio.

“A gente não sabe pra onde isso vai. Não sabe do futuro da nossa profissão, e o que vai acontecer com o mercado. Existe um planejamento para nova carga horária, entre outras coisas, sem nenhuma consulta aos professores. Dediquei 10 anos da minha vida para a educação e fico insegura se poderei seguir nesse caminho. É angustiante. Eu já li e reli milhões de vezes o novo currículo do ensino médio e tem muita brecha, ameaçando o futuro da licenciatura”.

A distância que acabou aproximando

Dar aulas de português e de inglês para adolescentes, cuidando de dois filhos pequenos em casa. Essa foi a realidade da professora Adriana dos Santos, de Línguas Portuguesa e Inglesa, no SESI Aparecida de Goiânia (GO). Adriana, que buscou parceria com outros países para estimular os alunos a falar inglês, também criou grupos de WhatsApp para se comunicar com os estudantes. Ela conta que eles passaram a fazer parte da vida dela. “Eles só conheciam a Adriana professora, agora, conhecem também a Adriana mãe e a Adriana dona de casa.”

Apesar das dificuldades do ensino a distância, a professora assegura que está terminando o ano muito mais próxima dos alunos. “Hoje eles sabem que eu tenho filho pequeno, pedem para eu mandar foto, chamam ele de 'maninho'. Acho que humanizou essa relação com os estudantes e nos aproximou demais deles”, afirma.

Música para chamar atenção

Já a professora de Biologia Waneyma Mendes, do SESI/BA, de Feira de Santana, dá aula para estudantes dos 1º, 2º e 3º anos, e não aguentava mais dar aulas on-line para o silêncio. “Eles não participavam, tinham vergonha de ligar o vídeo ou até de falar”, explica. Foi aí que a professora teve uma ideia: tocar música antes de começar a aula. “Comecei com música clássica, que é o que eu gosto. Mas aí eles foram se animando e eu abri para cada um poder pedir música”, conta, comemorando o fato de que os alunos começaram a interagir e, após o momento da música, ficavam mais animados para a aula.

No repertório de músicas que sempre abriam as aulas entrou rock, funk e muitos outros pedidos dos alunos. “Uma aluna minha é evangélica e nunca pedia música. Ficava calada, sempre. Aí teve um dia que eu abri a aula tocando uma canção gospel e ela ficou muito feliz”, afirma.