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74ª edição da SBPC mostra que resistem os que lutam pela ciência no Brasil

Presente desde 1949, o encontro anual da SBPC ocorre geralmente durante uma semana em alguma universidade do país. A última vez que a UnB tinha sido eleita para ser sede do evento havia sido em 2000

O 74º Encontro Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) chegou ao fim neste sábado (30/7). A reunião, que teve como tema Ciência, Independência e Soberania Nacional no ano em que o Brasil completa 200 anos de história como país independente, mostrou que a ciência e o conhecimento, de forma geral, estão vivos e continuam atuantes para promoverem sempre o bem da sociedade.

A edição deste ano da SBPC foi realizada de forma híbrida com atividades presenciais e virtuais — entre elas, sessões de vídeo-pôsteres, minicursos, conferências, mesas-redondas, painéis e transmissões on-line de atividades presenciais. A programação foi distribuída nos quatro campi da UnB — que completou sessenta anos de história em abril.

Para o presidente da sociedade, Renato Janine Ribeiro, que também é professor titular na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), a sensação de estar presente em um espaço com outros pensadores e estudiosos da ciência brasileira foi bastante prazerosa. Na visão de Janine, é um sinal de que a academia continua firme na missão de promover um país com mais conhecimento.

“É uma sensação muito boa (de estar aqui), a percepção é de que a comunidade continua vigorosa, acreditando nas potencialidades do Brasil, e disposta a lutar para o Brasil voltar a um patamar de construção e não de destruição”, afirmou o presidente ao Correio.

Presente desde 1949, o encontro anual da SBPC ocorre geralmente durante uma semana em alguma universidade do país. A última vez que a UnB tinha sido eleita para ser sede do evento havia sido em 2000. O encontro contou com diversas mesas redondas, conferências e painéis realizados tanto de forma presencial como virtual. Nelas foram debatidos e apresentados temas bastante atuais como a pandemia de covid-19, as urnas eletrônicas, o meio ambiente e a desinformação.

“A reunião da SBPC é um grande mapeamento da sociedade brasileira em função do conhecimento, porque a gente sabe o que tem que ser feito, o que a gente não sabe e tem que aprender. Então, essa é a importância sobre todo o momento você tem uma campanha contra a ciência, uma campanha contra os direitos humanos, uma campanha contra a democracia e a fome se expandindo”, analisou Renato Janine.

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Sensação de dever cumprido

Para a vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral, a edição do evento foi fundamental. Ela analisou a reunião como positiva e relevante, tanto para os estudantes e o público em geral que acompanhou quanto para o fortalecimento da democracia brasileira. Segundo Sobral, a sensação é de dever cumprido.

“Em vários momentos eu vi e participei dos debates da SBPC. Os 60 anos da Universidade de Brasília, as suas lutas, todos os debates foram essenciais e mostraram como a democracia é importante para a vida das universidades. A autonomia das universidades também foi muito colocada em debate. A avaliação que eu faço é muito boa. A realização da SBPC é muito positiva. Nós estamos terminando o evento com a sensação de dever comprido, era importante essa reunião presencial e discutindo esses temas.”

Para combater o descaso com as universidades e impulsionar os investimentos em pesquisas, um grupo de especialistas convidados pela SBPC elaboraram um documento intitulado “Propostas para um novo Brasil”, que foi enviado para todos os candidatos que concorrerão à presidência da República em outubro e que reúne ideias para que a ciência alavanque no país.

“Buscamos trazer o resultado de uma série de temas que são relevantes para o próximo governo que assumir o Brasil. Os três presidenciáveis mais cotados nas pesquisas de intenção de voto receberam essa publicação e também vamos distribuir para os outros. Foi importante o Lula e o Ciro terem comparecido. O Bolsonaro informou que não compareceu por compromissos agendados. Então, eles receberam essas propostas, sobre universidade, segurança pública, saúde, educação e também será entregue aos candidatos do legislativo. Os candidatos que aprovarem essas propostas vão nos escrever”, explicou Sobral.

“Nesse documento, a gente coloca formalmente, no papel, as iniciativas que deveriam ocorrer para que o país retome o seu desenvolvimento científico e tenha a ciência como um pilar do desenvolvimento econômico. Porque mais e mais a ciência hoje é o motor da economia. Isso em todos os países do nosso planeta”, disse, ao Correio, o pesquisador e professor do Departamento de Física Aplicada da Universidade São Paulo (USP), Paulo Artaxo.

Helena Bonciani Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), frisou a dimensão e a relevância do evento.

“Eu fui vice-presidente da SBPC, e vejo que foi uma reunião muito relevante, essa participação das pessoas foi muito importante para todos nós, principalmente pelo fato da gente estar tendo ela de forma presencial e de forma on-line, E os 60 anos da UnB também foram muito importantes. Principalmente por conta do que estamos vivendo no momento atual na democracia no brasil, os questionamentos que estamos tendo. Foi importante termos o debate dos candidatos, os três mais cotados nas pesquisas de intenção de voto. Bolsonaro não veio, mas isso é um exercício essencial de democracia.”

Urnas eletrônicas

A vice-presidente da Sociedade destacou a importância de temas relevantes ao país terem sido apresentados e debatidos, como o cuidado com os povos indígenas, a preservação Amazônia, mudanças climáticas, desafios e retrocessos da democracia, insegurança alimentar, o fazer científico e tecnológico. A mesa-redonda, História das urnas eletrônicas no Brasil, foi coordenada pelo ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Velloso Filho. Participaram Célio Castro Wermellinger (TSE), Avelino Francisco Zorzo (PUCRS) e Fernando Soares (SindCT).

“Mostramos a história, a tecnologia e a segurança das urnas. Foi entregue ao Tribunal Superior Eleitoral um manifesto da SBPC sobre a aprovação das urnas e a legalidade das eleições”, disse Sobral.

“Foi mostrada a liderança da ciência brasileira. Essas pessoas que questionam as urnas eletrônicas são anticiência, são igual as pessoas que acreditam que a terra é plana. Qualquer pessoa que quiser entrar no TSE pode ver todas as etapas da urna eletrônica, ela é auditável. A sessão culminou em um amplo debate inclusive com a participação do ex- ministro do TSE Carlos Velloso. Em Brasília vai ficar como um marco dessa etapa democrática. Lutamos para conquistar a democracia e não vamos abrir mão dela”, complementou Helena Nader.

Ciência, tecnologia e corte de investimentos

Uma questão bastante citada no encontro da SBPC foi a série de cortes orçamentários na área da educação, para a pesquisa científica e as verbas destinadas para as universidades públicas. Durante o painel Atuação da Ciência e das Universidades Públicas em defesa da Vida durante a pandemia da Covid-19, a professora Soraya Soubhi Smaili, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que as universidade públicas foram sucessivamente perdendo dinheiro da União desde 2014.

Atualmente o cenário é de mais cortes para a academia. De acordo com o texto aprovado da Lei Orçamentária Anual de 2022, todo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) recebeu apenas R$ 12 milhões de verbas do governo federal. “Temos que articular todas as nossas forças para enfrentar esse problemas que assolam o país. E nossas universidades são capazes de enfrentar todas essas adversidades. Só ver como ela superou essa pandemia”, expôs a professora.

“Em suma, a reunião da SBPC é um grande mapeamento da sociedade brasileira em função do conhecimento, porque a gente sabe o que tem que ser feito, o que a gente não sabe e tem que aprender. Então, essa é a importância sobre todo o momento você tem uma campanha contra a ciência, uma campanha contra os direitos humanos, uma campanha contra a democracia, a fome se expandindo. Então sobre todo o momento que todas as coisas que o Brasil construiu estão sendo destruídas, aparentemente de propósito, é muito importante mostrar a relevância de todas as construções para que a gente seja capaz de reconstruir isso e melhor, da próxima vez”, conclui o presidente da SBPC.

*Estagiários sob supervisão de Ronayre Nunes

 

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