Façam suas apostas

Apesar da pandemia e da expectativa de vacinação em massa nos EUA, as premiações do Globo de Ouro e do Oscar movimentam a cena cinematográfica em Hollywood

Ricardo Daehn
postado em 24/01/2021 23:20 / atualizado em 24/01/2021 23:20
 (crédito: Amazon Prime Video/Divulgação)
(crédito: Amazon Prime Video/Divulgação)

Ampliação do leque, com fator inclusivo das produções em streaming, marca as escolhas do Globo de Ouro e do Oscar, com ares renovados, diante da pandemia, e prontos para virem politizados e libertos de preconceitos. Dada a largada para as configurações de duas importantes festas do cinema, com a 78ª edição do Globo de Ouro, prevista para 28 de fevereiro, sob o comando das humoristas Tina Fey e Amy Poehler, e a 93ª festa do Oscar, marcada para 25 de abril, é natural que pipoquem as especulações dos futuros candidatos a melhor do ano. A lista dos indicados oficiais para o Globo de Ouro sairá em 3 de fevereiro, enquanto a do Oscar despontará em 15 de março.

Como previsto, entre tantas turbulências da pandemia, ainda não há segurança quanto a realização de eventos presenciais. Boa parte da imprensa americana aposta, sim, num Oscar salpicado de astros e estrelas em festejos longe do virtual.

Com uma renovação real no corpo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (votantes no Oscar), há expectativas de novos tempos, reforçados depois da vitória de Parasita, em 2020. Agora, há 45% de mulheres na eleição e mais de 35% delas de origens diferenciadas, em relação ao contingente de brancas. O credenciamento de novos ares para a América liberta do efeito Donald Trump promete ser emblemático nas celebrações do cinema.

O movimento pelo reforço no direito da população negra deve ser refletido na lista dos candidatos. Ainda que vetada para o Oscar, a produção Hamilton (que exalta fundadores da América) deve ter visibilidade. Além da faceta politizada, com filmes fortes em disputa por vagas, mais precisamente o Globo de Ouro (e talvez o Oscar) busquem títulos animadores resguardando o poder de encanto e escapismo do cinema. A valorização de artistas veteranos é outro norte esboçado nas apostas de publicações e sites especializados.

Representante do engajamento e da maior projeção para artistas negros, a atriz e diretora Regina King, de Uma noite em Miami, com ação em 1964, reúne a personificação de ícones como Malcolm X e Muhammad Ali, e, desde já, desperta a atenção para o elenco que traz nomes como Leslie Odom Jr. e Kingsley Ben-Adir. Chadwick Boseman (morto em 2020) é nome frequente nos bolões de apostas, seja por Ma Rainey´s black bottom, baseado em peça de August Wilson — e que conta da incontrolável cantora Ma Rainey (elogiada performance de Viola Davis), seja ainda por Da 5 bloods, filme também centrado na problemática racial e comandado por Spike Lee, diretor aclamado pela crítica.

Encampando a tonalidade de democratização prevista para o Oscar e para o Globo de Ouro, a expressiva rapper criada por Radha Blank em The 40 year version pode ser valorizada, num cenário também muito favorável para Daniel Kaluuya, ator de Judas e o Messias negro, detido na opressão ao Partido dos Panteras Negras. Imerso no campo político de 1968, em Illinois, durante protestos da Convenção Nacional dos Democratas, Os 7 de Chicago tem amplo apelo para a candidatura a prêmios do diretor Aaron Sorkin e de atores como o afroamericano Yahya Abdul-Marteen II e Sacha Baron Cohen (astro ainda de Borat: Fita de cinema seguinte, que traz a coadjuvante Maria Bakalova como figura de ponta nas futuras premiações).

Tintas fortes

Feito sempre de luzes, sombras e emoção, o cinema traz um clima de alegria, nas cores de A festa de formatura (comédia de Ryan Murphy) que, no Globo de Ouro, tem chances de indicações, pelo clima alto-astral. A eterna recordista Meryl Streep estrela, ao lado de Nicole Kidman, a trama sobre quebra de preconceitos, quando uma moça decide levar a namorada para um baile, apadrinhada por uma trupe de artistas da Broadway.

O clima das tramas sobre famílias ganhará visibilidade nas prováveis candidaturas de Meu pai, com a personagem de Olivia Colman rogando pela sanidade do pai, papel de Anthony Hopkins; de A vida extraordinária de David Copperfield, com o brilho de Dev Patel, numa modernização da trajetória do órfão visto na literatura de Charles Dickens, e ainda de On the rocks, filme de Sofia Coppola, que especula sobre infidelidade e traz Bill Murray em bela forma.

Num contraponto, questões femininas despontam para serem valorizadas no Globo de Ouro e no Oscar, com Promising young woman (estrelado por Carey Mulligan) e Pieces of a woman (com Vanessa Kirby forte nas apostas dos bolões para atriz); já a fragilidade masculina estampa Cherry (de Joe e Anthony Russo, com Tom Holland vivendo um dependente químico).

Veteranas como Ellen Burtyn, Glenn Close, Michelle Pfeiffer e Debra Winger, essa irreconhecível à frente de Kajillionaire, sobre família de trambiqueiros, parecem ter vez na lista das indicações. Também no grupo das experientes (que contempla ainda a radiante Sophia Loren), a atriz Frances McDormand é a razão de ser de Nomadland, filme de Chloe Zhao que alinha recessão econômica e libertação física, a partir de uma personagem nômade. A família rural coreana protagonista de Minari (do americano Lee Isaac Chung), filme distinguido no Festival de Sundance, deve impressionar na lista das indicações. Sempre atenta a tipos ligados a círculos artísticos, os eleitores das premiações terão ainda pela frente Let them talk (com uma escritora vivida por Meryl Streep), The sound of metal (com o drama denso de um músico) e o cultuado filme de David Fincher Mank (em torno do roteirista Herman J. Mankiewicz) para celebrar.

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