Eu, Estudante

Democratização da leitura

Influenciador literário relata os desafios para o acesso à leitura

Ação do adolescente baiano Adriel Oliveira, de apenas 13 anos, é uma prova de que não só os ricos que leem nesse país, como alegou a Receita Federal para defender a taxação dos livros

Com apenas 13 anos, Adriel Oliveira acumula milhares de seguidores nas redes sociais falando de algo que pouco comum para sua idade: literatura. A realidade em Salvador (BA), nem sempre favoreceu o apreço pelas letras. No entanto, contou com o suporte da família para contornas as dificuldades.


O criador do canal de YouTube Livros do Drii conta que se apaixonou pela leitura por conta da mãe, que sempre o incentivou mesmo com as dificuldades financeiras. “Minha mãe sempre dava um jeito de comprar livros para mim porque ela sempre pensou que a literatura iria me levar para lugares melhores”, recorda.


O youtuber aprendeu a ler com cinco anos para conseguir bolsa em uma escola particular. Ele conseguiu a vaga e depois disso nunca mais parou de viajar pelo mundo das histórias literárias.


Ele reconhece que, mesmo com as dificuldades financeiras, muitas pessoas não tiveram o mesmo suporte que ele. “Livro já é muito caro no Brasil e algumas pessoas já não têm nem dinheiro para pagar as contas, imagina se elas priorizassem os livros?”, questiona o garoto.


A internet foi um meio que ajudou Drii e outros brasileiros a ter acesso a livros. A disponibilidade de e-books gratuitos ou de baixo custo, por exemplo, são algumas alternativas.


Outros caminhos são as bibliotecas públicas e comunitárias. No entanto, o acesso tanto aos meios digitais quanto presenciais ainda é limitado devido à falta de inclusão digital e à ausência de bibliotecas em algumas localidades.


Reprodução - Adriel se apaixonou pelos livros fala sobre literatura para mais de 600 mil seguidores nas redes sociais.

 

Projetos de incentivo à leitura são essenciais para jovens de regiões periféricas

Dilma de Fátima, 55, se dedica a incentivar jovens de uma região periférica do Distrito Federal a criarem o hábito da leitura. Há 15 anos, ela e o marido, Sebastião José Borges, 51, fundaram a Biblioteca Comunitária do Bosque em São Sebastião.


A ideia de fundar a biblioteca veio do esposo, que percebeu um alto número de reprovações escolares na comunidade. “A maioria das mães não tinha tempo de ensinar e condições de colocar os filhos em aula de reforço”, explica. Junto com o espaço físico, eles também investiram em projetos culturais como

 

A relação de Dilma com a literatura também está ligada ao acesso à bibliotecas públicas. De Minas Gerais, ela chegou a Brasília na década de 1980. Na época, ela trabalhava na casa de uma família no Lago Norte e pegava livros na Biblioteca Demonstrativa do Brasil, localizada no Plano Piloto. “Sempre falo do livro como uma coisa muito importante porque, por meio do livro, a gente consegue trazer bastante conhecimento”, afirma.


“Eu pegava dois ônibus para ir à Asa Sul e tinha três dias para devolver. Eu tinha que ler de noite para entregar no tempo porque tinha uma multa”, explica. Ela ressalta que, mesmo com as dificuldades, a abertura desses espaços é essencial.


Para ela, a falta de incentivo para crianças pode ser uma das causas para falta do hábito de leitura. Dilma acredita que esse apoio para a leitura é maior em famílias de classe média em decorrência da disponibilidade de tempo dos pais. “Nas classes mais simples, os pais têm que sair muito cedo para trabalhar e, às vezes, não têm tempo para ensinar”, argumenta.

 

Arquivo pessoal - Dilma e Sebastião montaram biblioteca comunitária após identificarem muita reprovação escolar entre os jovens da região onde moram.

 


Dificuldades de acesso são causa para diminuição de leitura, mas parcela mais pobre ainda representa maioria dos leitores

Ainda com as dificuldades de acesso, pessoas de classes mais baixas são maioria dos leitores. Dados de 2017 e 2018 obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 45,7% dos livros são consumidos por famílias com renda mensal de até R$ 5,7 mil.


Esses números contrariam declaração da Receita Federal, que afirmou que pessoas mais pobres não tinham o costume de ler. O argumento foi publicado na quarta-feira (7) em justificativa a possível taxação de 12% sobre livros.


O incentivo à leitura, no entanto, ainda carece de políticas de incentivo. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2020 pelo Instituto Pró-livro (IPL), mostra que a dificuldade de acesso ainda é presente na vida dos leitores. Entre os entrevistados da pesquisa do Retratos da Leitura no Brasil, 5% dos leitores e 1% não leitores disseram não ter lido mais devido ao preço dos livros. Ainda 7% dos leitores e 2% dos não leitores não leram porque não há bibliotecas por perto.


Citada por Dilma de Fátima, a questão do incentivo também é essencial para o hábito da leitura. Segundo a pesquisa, 34% dos entrevistados afirmaram ter tido apoio sobretudo de professores e familiares