Lançamento

Professor da rede pública lança livro infantil sobre diversidade

Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces é a primeira obra de André Lúcio Bento, que pretende usar a literatura como forma de driblar o preconceito

Gabriel Bezerra*
postado em 09/07/2021 18:48 / atualizado em 09/07/2021 19:51
 (crédito: Editora Telha / Reprodução)
(crédito: Editora Telha / Reprodução)

Foi lançado na última terça (6) de forma virtual, o livro infantil Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, o primeiro trabalho literário do professor de português André Lúcio Bento, vinculado à Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Publicado recentemente pela Editora Telha, a história foi escrita por André há seis anos, e durante a pandemia, o docente decidiu arrumar meios para disponibilizar a obra para o público.


O livro conta a história de duas crianças negras chamadas Tâmara, nascida em um tacho de doce, e Tamarindo, que surge após uma incrível reviravolta. Os jovens vivem em um mundo onde todos os objetos e os personagens são doces. Segundo o autor, o fato das pessoas serem doces é uma alusão à “doçura” da alma do ser humano.


A metáfora contrapõe a realidade do mundo atual, onde as pessoas são maldosas e continuam a propagar o preconceito racial. Na história de Bento, o racismo é uma mera fantasia, mas a realidade dentro do seu mundo, deveria ser real. “Com os personagens, eu trago uma metáfora sobre as coisas da vida, sobre o que você é, sobre a diversidade e da necessidade de conhecer a importância do outro. É um livro que trata das diferenças e das misturas da vida”, diz o professor.

A personagem Tâmara, do livro Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, lançado recentemente pela Editor Telha
A personagem Tâmara, do livro Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, lançado recentemente pela Editor Telha (foto: Editora Telha / Divulgação)


André conta que os negros pouco ocupam as mídias e a indústria da arte, devido aos efeitos do histórico preconceito que distanciam os afrodescendentes dos espaços culturais: “Eu acho que nós negros ainda não aparecemos como deveríamos aparecer na literatura, no teatro, no cinema, na televisão, no jornalismo. O Brasil foi o destino de metade dos escravos que vieram para cá durante o comércio colonial, é incoerente então não termos uma representatividade nas artes em geral”, conta.


E isso se reflete nos meios comerciais literários, onde pouco aparecem histórias onde os personagens principais são pretos. Segundo o professor, a inserção de fantasias onde os componentes são afrodescendentes podem ajudar as crianças negras a crescerem sentindo orgulho do que elas são. “A criança passa a ver outras crianças negras e não sendo apenas tratados no ponto de vista da violência, do ‘pivete’, do menino negro da favela que trabalha como ‘aviãozinho’ no tráfico. Porque é essa representação que às vezes aparece nas reportagens, nos telejornais”, observa o autor.


Agora, com o lançamento de Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, André Lúcio Bento pretende modificar essa realidade, além de ocupar um espaço na indústria literária, também ao educar as crianças sobre a importância do respeito e sobre os benefícios de se viver em um mundo diverso. “Eu acho que a literatura tem um poder de por meio de metáforas, de figuras de linguagem e de todas as representações e imagens que você constrói com a criança, auxiliar no ensinamento sobre a diversidade”, reitera.


Racismo velado


André Lúcio Bento se formou em Letras-Português na Universidade de Brasília e fez um doutorado em linguística na mesma instituição, além de ser especializado em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e é professor da rede pública vinculado à Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) desde o ano de 1993.

O professor de português André Lúcio Bento, que dá aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal desde 1993.
O professor de português André Lúcio Bento, que dá aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal desde 1993. (foto: Arquivo Pessoal)


Apesar disso, André diz que sofreu diversos casos de preconceito devido à sua cor, e algumas dessas ocasiões tendo acontecido recentemente, em regiões como a da Asa Sul e do Cruzeiro. Uma vez, segundo o docente, quando saiu do trabalho para ir para um restaurante da Asa Sul, foi confundido com um motorista de aplicativo ao chegar no local, mesmo não dispondo de uma motocicleta e de equipamentos usados pelos profissionais de entrega.


Segundo o professor, esse é um exemplo do “racismo velado” que para ele é o mais nocivo, pois está “arraigado” ao agressor, a causa da persistência dessa forma de preconceito é a falta de compaixão entre as pessoas. “Muitos dos preconceitos e dos crimes acontecem porque as pessoas não entendem que a vida é diversidade e não se colocam no lugar do outro. E eu como professor sempre senti dificuldades de dialogar isso com crianças.”

Tâmara e Tamarindo na Terras das Coisas e das Pessoas Doces é indicada para crianças “de 0 a 100 anos” e está disponível para compra diretamente com o autor, no seu e-mail: andre.lucio.bento75@gmail.com ou no seu WhatsApp, entrando em contato com o seu número: (61) 98133-8776. A entrega é feita em todo o território nacional. Os leitores que comprarem o livro na pré-venda até o dia 13 de julho irão concorrer a um sorteio que presenteará uma boneca da personagem Tâmara feita pela artista Adriana Alvim.

A boneca da personagem Tâmara, feita pela artista Adriana Alvim, que será sorteada entre aqueles que comprarem o livro na pré-venda até o dia 13 de julho.
A boneca da personagem Tâmara, feita pela artista Adriana Alvim, que será sorteada entre aqueles que comprarem o livro na pré-venda até o dia 13 de julho. (foto: Adriana Alvim / Divulgação)


No momento, André deseja trabalhar na divulgação do seu recém-lançado livro, mas diz ter novas ideias que ainda não irá desenvolver. Agora, o professor deseja ir até as escolas para conversar com os alunos sobre o seu livro e incentivá-las a escrever histórias com personagens negros e negras e ensinar que elas podem ser o que quiserem e o que elas merecem ser. Além disso, o autor diz que os jovens devem, acima de tudo, exigir respeito pelo o que elas são.

 

 

  • O professor de português André Lúcio Bento, que dá aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal desde 1993.
    O professor de português André Lúcio Bento, que dá aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal desde 1993. Foto: Arquivo Pessoal
  • A personagem Tâmara, do livro Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, lançado recentemente pela Editor Telha
    A personagem Tâmara, do livro Tâmara e Tamarindo na Terra das Coisas e das Pessoas Doces, lançado recentemente pela Editor Telha Foto: Editora Telha / Divulgação
  • A boneca da personagem Tâmara, feita pela artista Adriana Alvim, que será sorteada entre aqueles que comprarem o livro na pré-venda até o dia 13 de julho.
    A boneca da personagem Tâmara, feita pela artista Adriana Alvim, que será sorteada entre aqueles que comprarem o livro na pré-venda até o dia 13 de julho. Foto: Adriana Alvim / Divulgação
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