Quem nunca olhou para os quadrinhos de super-herois ou para as telas de TV, cinema ou smartphones e pensou “e se isso existisse na vida real?”. Pois bem, as crianças em Fortaleza, no Ceará, têm o privilégio de cruzar com o Homem-Aranha em hospitais ou até mesmo nas ruas. O motivo? Um jovem de 22 anos usa a fantasia e a vontade de fazer o bem pelo mundo para inspirar crianças internadas em hospitais ou as incentivar a tomarem vacinas, principalmente os imunizantes contra a covid-19.
O jovem estudante de medicina de apenas 22 anos começou o projeto Aranha Urbano ainda em 2015, quando tinha 16 anos e estava no segundo ano do ensino médio. O estudante coloca as vestes do herói da Marvel e sai pelas ruas de Fortaleza, capital cearense, a fim de promover a conscientização social.
Ele realiza ações em instituições de saúde e orfanatos distribuídos pela metrópole. Mas as crianças não são o único foco do Aranha Urbano, ele também entrega panfletos e alerta sobre a importância da prevenção ao câncer. E mais ainda: hoje, a missão dele é incentivar crianças a se vacinarem contra a covid-19.
O rapaz não vai ser identificado nesta matéria, afinal, a identidade de um dos maiores super-heróis do mundo não pode ser revelada. Mas o Aranha Urbano é paulista, morando em Fortaleza desde os 3 anos. Ele também cursa, atualmente, o terceiro semestre na Faculdade de Medicina na Universidade Federal do Ceará. Seu perfil no Instagram reúne quase 900 seguidores.
Questionado sobre o motivo dele ter escolhido o herói para este projeto, a resposta não poderia ter sido melhor: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Quem é fã dos quadrinhos da Marvel, já ouviu ou leu bastante essa frase por aí. O jovem justifica que “todos os heróis sempre têm algo a ensinar ou representar e o homem-aranha tem a questão da famosa frase dele ‘com grandes poderes, vem grandes responsabilidades’. Fazer o certo não é uma obrigação, mas é uma responsabilidade. Se você pode fazer o bem, por que não fazer?”.
Outra justificativa foi a roupa do personagem, segundo ele a roupa cobre todo o corpo. "Se você não conhece, o Homem-Aranha pode ser negro, branco, indígena, asiático. Eu tinha que pensar num herói que pudesse ser eu", afirma.
O menino que colecionava Homem-Aranha
A história do Aranha Urbano é bem parecida com a do próprio personagem das histórias em quadrinhos da Marvel. O projeto começou lá em 2015, quando o jovem tinha apenas 16 anos, assim como Peter Parker, o verdadeiro nome do Homem-Aranha.
Ao longo de sete anos de projeto, o Aranha Urbano teve uma pausa entre 2018 e 2020, quando voltou a ativa. O motivo da pausa, além de emocionante, é bastante curioso. Por estar ainda no ensino médio quando começou, o Aranha Urbano teve seus horários livres reduzidos devido aos estudos e ao Enem. Dessa forma, seu tempo disponível para o projeto estava reduzido. Mas aquele ainda não era o fim. Em 2018, o jovem teve uma experiência inesquecível e comovente.
O jovem conta que foi convidado para visitar uma criança na Associação Peter Pan, uma instituição que trata o câncer em crianças e adolescentes no Ceará. Quando chegou ao quarto da internação, uma surpresa: Kauan, a criança que recebeu sua visita, era um super fã do Homem-Aranha, nas paredes pinturas e itens do personagem, bonecos, pôsteres e é claro, sua roupa. “Aquela tarde é uma das memórias mais importantes que tenho. Me marcou muito”, diz o Aranha Urbano. “Era o Homem-Aranha que motivava ele a ser alegre, ter esperança em dias melhores”, continua.
Infelizmente, um mês depois da visita, o pequeno Kauan, que enfrentava uma quimioterapia na época, morreu. Foi ali que o Aranha Urbano decidiu encerrar por completo suas atividades. O estudante conta que começou a refletir sobre o projeto, em 2018. "Eu concluí que meu projeto não passava de algo infantil, de uma fantasia infantil que não cabia na realidade”, diz ele. Mas, dois anos depois, em 2020, o rapaz conta que comprou algumas HQ’s do homem aranha para ler durante a pandemia.
E, então, houve uma surpresa. "Quando parei para perceber, era exatamente 4 de junho, e faziam dois anos desde a morte do Kauan”, afirma. Muito emocionado com a história, conta que foi lembrando de tudo que viu e ouviu, agradecimentos e principalmente o da mãe do Kauan. “E aí, concluí que na verdade, não era uma fantasia. Ele é extremamente real por meio das várias pessoas que leem os quadrinhos e se inspiram nesse herói a fazer algo bom”, conta o estudante de medicina. Nas redes sociais, o jovem fez questão de destacar a história do Kauan.
Siga ele no Instagram: https://www.instagram.com/aranha_urbano/
A história é quase a mesma: os dois personagens visitam crianças em hospitais e percebem os valores de seus trabalhos. Foi isso o que motivou o Aranha Urbano a voltar com o projeto, reduzido, pela pandemia.
Vacinas
As visitas às instituições não são suas únicas tarefas. O Homem-Aranha cearense também tenta, por meio da conscientização social, incentivar a doação de sangue entre jovens e adultos, e funciona.
Ele também produz cartilhas sobre temas com pautas importantes para conscientizar a população e distribui os panfletos pelas ruas de Fortaleza. Os temas incluem doação de sangue, preservação do meio ambiente e até mesmo prevenção do câncer de mama.
O impacto da ação social que ele promove é muito grande, aumentando até o número de crianças vacinadas. “[o projeto] É tudo, assim. Eu sempre gostei desses heróis, e com o projeto, com as ações que faço, até professores da época do colégio chegam para mim e falam que tem orgulho de mim. Ou mães que me acompanham e falam que o filho se vacinou depois de mostrar um vídeo meu. Ou na doação de sangue”, relata o Aranha Urbano.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo