O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) é essencial na trajetória de Hélio Oiticica. Foi ali que, em 1954, aos 17 anos, começou a ter aulas com Ivan Serpa (1923-1973), que, no mesmo período, formou o Grupo Frente. Oiticica fez parte do grupo entre 1955 e 1956 – romperia alguns anos mais tarde com os concretos, reunindo-se à dissidência neoconcreta no final daquela década.
Voltaria ao MAM algumas vezes, a mais importante delas em 1967, quando integrou a exposição “Nova objetividade brasileira”. Pois outra história começaria a ser contada ali. Foi na mostra que Oiticica apresentou “Tropicália”, que reunia dois penetráveis com plantas, areia, araras, um aparelho de TV. A obra batizaria a faixa de abertura do disco “Caetano Veloso”, também de 1967 e, no seguinte, o coletivo “Tropicália ou Panis et Circenses”.
A vida no Brasil não iria muito adiante. Oiticica mudou-se para Londres poucos dias depois que o AI-5 foi decretado (13 de dezembro de 1968). Autoexilado por pouco mais de um ano na capital britânica, realizou ali um marco em sua trajetória. “The Whitechapel experiment” foi a segunda (e última) exposição individual de Oiticica em vida. Realizada em 1969 na Whitechapel Gallery, “Éden” reúne uma série de obras.
A mostra “Delirium ambulatorium” refaz “Éden” no pátio da instituição. “É um trabalho de convergência de vários outros que ele fez do final dos anos 1950 até o final dos 1960. Ele tem penetrável, ninho (instalação com várias cabines que se conectam). É um ambiente onde as pessoas entram, convivem e se misturam com as coisas. É como uma súmula da exposição”, afirma o curador Moacir dos Anjos. O ambiente conta com água, areia, folhas, pedras, música. O visitante entra e faz ali o que quiser.
CARÁTER PARTICIPATIVO
“O Hélio é um dos artistas que mais contribuiu para criar um caráter participativo para sua obra. E ele fez isto numa época em que a palavra instalação nem era usada. Sua obra repercute até hoje entre os artistas contemporâneos, que o reverenciam por sua contribuição”, comenta o curador.
A exposição que chega a Belo Horizonte nesta quarta-feira (6/12) só foi apresentada uma vez, no CCBB de Brasília. Nos jardins da instituição na capital federal foi inaugurado, em maio de 2022, “A invenção da cor: Magic Square #3”, que permanece até hoje no local. Este é o terceiro “Magic Square” existente no mundo, o segundo aberto à visitação (o outro é o de número 5, de Inhotim). Já “Éden” foi montada exclusivamente para a mostra mineira.
Produtora-executiva da exposição e diretora da Tuîa Arte Produção, Bruna Neiva comenta que, na inauguração da mostra em Brasília, houve uma festa com a Mangueira, grande paixão de Oiticica. A bateria da Verde e Rosa também virá a Belo Horizonte – muito provavelmente para encerrar a mostra, que segue até o início de fevereiro, precisamente na véspera do Carnaval.
Nos dois meses que “Delirium ambulatorium” ficar em cartaz no CCBB, vão ocorrer também ações paralelas. Está prevista a exibição do documentário “Hélio Oiticica” (2012), realizado por César Oiticica Filho, sobrinho do artista. Também haverá oficinas de parangolés, relevos espaciais e de cartazes inspirados nos criados pelo designer baiano Rogério Duarte (1939-2016).
Duarte criou as capas de discos tropicalistas de Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa e Jorge Mautner, como também o cartaz de “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), clássico de Glauber Rocha. Muito próximo de Oiticica, organizou com ele a mostra coletiva “Apocalipopótese”, no Aterro do Flamengo, em 1968.
“HÉLIO OITICICA – DELIRIUM AMBULATORIOM”
Abertura nesta quarta-feira (6/12), às 10h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Visitação de quarta a segunda, das 10h às 22h. Entrada franca (ingressos devem ser retirados na bilheteria ou no site ccbb.com.br/BH).
Em cartaz até 5 de fevereiro de 2024.
Mostra de presépios
O primeiro piso do CCBB exibe, até 6 de janeiro, a segunda fase da mostra “Patrimônio vivo - Cultura e tradição”, da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP). Há mais de meia centena de presépios, muitos deles premiados no concurso nacional que a instituição promove ao longo de 50 anos. A exposição ocupa três salas. Na primeira, o destaque é a trajetória do concurso. Na segunda, os presépios reunidos foram criados a partir de pedra-sabão e madeira, materiais que caracterizam a produção ouro-pretana desde o século 18. A última sala mostra a diversidade de materiais para a produção das obras. Os tapetes de serragem, outra tradição da cidade histórica, também estão em destaque na exposição.