Los Angeles – Além da trama caótica do novo “Avatar: Fogo e Cinzas”, que vai aos céus para acompanhar o voo de uma família enlutada, nos bastidores parece haver um certo temor sobre o futuro desta franquia que é uma das mais rentáveis e caras da história.
“Posso estar diante de uma decepção, mas não há nada que eu possa fazer”, diz o diretor em um hotel de luxo em Los Angeles. “Os filmes de ‘Avatar’ precisam fazer muito dinheiro para justificar o quanto eles custam.”
Se Cameron antes não tinha dúvidas de que faria cinco filmes ao todo, agora vem dizendo que as possíveis sequências vão depender da performance do terceiro capítulo, que estreia nesta quinta-feira (18/12).
“Eu faço o filme, mas não consigo adivinhar o que o público está querendo. Os gostos mudam e o mercado também. Estamos saindo de um ano terrível. O cinema foi reduzido em uns 30% ou 35% e ainda não se recuperou.”
Sessões vazias, ingressos inflacionados, estúdios sendo vendidos. Vivemos um cenário aterrorizante para Cameron, que fez carreira em cima da defesa do cinema como experiência coletiva e sagrada. Na esperança de trazer o público de volta às salas, neste filme o diretor repete o desbunde visual dos anteriores, com mais primor – ele teve cinco anos para trabalhar na edição após as filmagens, encerradas em 2020.
Assim, “Fogo e cinzas”, o mais longo “Avatar” até agora, mostra ao longo de quase 3h20 criaturas azuladas superpalpáveis, cenas debaixo d’água ainda mais fluidas e paisagens deslumbrantes com bichos que por décadas moraram só na cabeça do diretor.
Mas Cameron está cansado de falar só de tecnologia e quer que “Avatar” seja reconhecido para além disso. “Se forem ver este filme buscando alguma nova forma de cinema, não vão encontrar. É uma continuação do que eu já fiz. Se continuarem me perguntando sobre a tecnologia, vou continuar dizendo que é sobre os personagens. Pergunte-me sobre as coisas que são importantes para mim ou não pergunte mais.”
AMEAÇA DO FOGO
Pois bem. Na trama, Jake Sully e a companheira Neytiri lidam com a morte do filho, que marca o final do longa anterior. Os dois se deparam ainda com a ameaça de uma tribo ligada ao fogo, liderada por Varang, criatura implacável que manipula as chamas.
Foi graças às ousadias técnicas que “Avatar” (2009) se tornou o longa de maior bilheteria da história, tendo arrecadado US$ 2,9 bilhões. O segundo, “O caminho da água” (2022) fez US$ 2,3 bilhões, ficando em terceiro lugar no mesmo ranking, em que Cameron detém ainda a quarta colocação, com “Titanic”. O diretor não conta quanto gastou com o novo “Fogo e cinzas” e tampouco admite quanto almeja ganhar.
Gênio da computação gráfica e mestre do 3D, Cameron enfrenta pela primeira vez um rival imparável – a inteligência artificial. A Disney, que distribui “Avatar”, acaba de ceder seus personagens para a dona do ChatGPT usar na criação de vídeos.
“Não é fácil dizer se sou contra ou a favor da IA. Há benefícios e riscos na mesma medida”, ele afirma. “Mas nunca usamos essa tecnologia para criar uma imagem sequer de ‘Avatar’, e não acredito que faremos isso algum dia porque a ideia de substituir atores não me interessa.”
SEM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Sam Worthington, o protagonista de “Avatar”, diz que inteligência artificial nunca chegou a ser um assunto entre a equipe. “Mas a ideia não me assusta, desde que ela seja usada adequadamente. É uma ferramenta como qualquer outra”, acrescenta Stephen Lang, que volta à franquia como o vilão Quaritch. Quase derrotado no filme anterior, agora ele se junta ao povo do fogo para concluir sua vingança.
Celebrado pelo dinheiro que faz circular em Hollywood, Cameron viu “Fogo e cinzas” receber na semana passada indicações ao próximo Globo de Ouro sem o filme sequer ter estreado.
A produção aparece entre os nomeados a canção original, pela música “Dream as one”, cantada por Miley Cyrus, e em melhor filme blockbuster. “Avatar”, afinal, virou uma franquia de forte apelo popular, com direito a parque de diversões e videogame.
Cameron diz que se render a esse modelo de mega saga foi importante para ele conseguir verba suficiente para filmar as continuações. “É um ecossistema positivo”, afirma. “Eu, pessoalmente, não me importo com o jogo. Mas se as pessoas gostam tanto de um universo que querem permanecer nele, tudo bem.”
O curioso é que ver o novo “Fogo e cinzas” na telona já passa a sensação de estar diante de um videogame. Isso porque o filme usa mais quadros por segundo do que outros filmes, criando um tipo de movimento mais liso e rápido, que quebra a textura tradicional do cinema e aproxima a experiência da lógica visual de jogos modernos.
Na cena de abertura, por exemplo, um personagem parece estar sobrevoando a lua Pandora em uma cena acelerada de propósito. Causa estranhamento, mas lá pela quinta vez os olhos se acostumam. (Guilherme Luis. O jornalista viajou a convite da Disney)
“AVATAR: FOGO E CINZAS”
Produção (EUA, 2025, 195 min.) Direção: James Cameron. Com Sam Worthington, Sigourney Weaver e Zoe Saldaña. Classificação: 14 anos. Estreia nesta quinta-feira (18/12), em salas dos circuitos Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.
