O cenário da educação em todo o mundo também está sofrendo alterações em função da pandemia do novo coronavírus, com uma nova modalidade de ensino em ascensão. O estudo anual elaborado pela Pearson, o Global Learner Survey, revela que quase 80% das pessoas acreditam que os ensinos fundamental, médio e superior mudarão por causa da crise sanitária global. Além disso, quase 90% dizem que a aprendizagem on-line fará parte desses três níveis educacionais.
Embora tenha causado controvérsias no início da pandemia, o ensino remoto conquistou o seu espaço e a pesquisa revela que 75% dos entrevistados esperam uma melhoria nesse formato.
E há muito a melhorar: estudantes avaliam que as instituições educacionais são menos eficazes no uso da tecnologia que outros setores, como o de saúde e o bancário. Eles esperam que o cenário mude, com 88% dos entrevistados globalmente e 91% no Brasil afirmando que essas instituições deveriam aproveitar a tecnologia para maximizar o aprendizado.
Resistência à EAD
Há, no entanto, quem ainda resista à EAD. A estudante Amanda Assunção, 19 anos, o ensino à distância não veio pra ficar. “Muita gente teve que se virar pra poder ter acesso às aulas e eu vejo uma grande quantidade de pessoas reclamando dessa forma de ensino”, comenta.
Já João Pedro Barreto, 20 anos, tem uma perspectiva diferente. O estudante afirma que o modelo on-line tem chances de permanecer, pois muitos se identificaram mais com o formato a distância.
No entanto, ambos estudantes preferem a modalidade presencial de ensino. Amanda, 19, estuda na Universidade de Brasília e afirma: “para mim, ter aula on-line sempre vai resultar num rendimento mais baixo, além de que não é todo mundo que tem fácil acesso”. João Pedro, 20, explica que a experiência da aula presencial é mais atrativa. “A gente precisa de relacionamento físico e, modelo no on-line, isso não acontece”, declara.
Preocupação com o acesso
A pandemia tornou mais explícitas desigualdades de acesso à internet e à tecnologia que, hoje em dia, definem ou não o acesso também à educação. 70% dos participantes do estudo da Pearson estão preocupados com a possibilidade de que a pandemia aprofunde a desigualdade entre estudantes do ensino básico.
O percentual de pessoas preocupadas com isso aumenta no Brasil, chegando a 78%. Por aqui, 74% das pessoas acreditam que o ensino on-line tem o potencial de ampliar o acesso à educação de qualidade, mas 90% enxergam que nem todo mundo tem acesso à tecnologia necessária para aprender nessa modalidade.
“O Brasil tem de fato um problema de desigualdade social muito grande e isso é refletido na necessidade do acesso às ferramentas digitais”, comenta Alexandre Mattioli, diretor de Produtos de Educação Básica e Ensino Superior da Pearson.
Crença na educação
As mudanças ocasionadas pela pandemia não diminuem o valor que as pessoas dão ao ensino, pelo contrário. A pesquisa mostra que a confiança da população na educação está crescendo. 70% dos respondentes globais encaram a educação formal como um importante impulso para o sucesso na vida, um aumento de dois pontos percentuais em relação ao ano passado.
No Brasil, o número é de 84%. “As pessoas olham para a educação como algo que irá ajudá-las a manter um emprego ou recolocá-las no mercado de trabalho”, justifica Alexandre Mattioli.
Apesar disso, ainda foi possível notar certo ceticismo em relação a faculdades e universidades. As pessoas, em geral, valorizam o ensino superior, com 60% afirmando que é necessário um diploma para ter sucesso na vida. No entanto, 64% dos entrevistados globalmente e 67% no Brasil acreditam que essas instituições não estão em sintonia com os estudantes.
Em contrapartida, a confiança no ensino profissionalizante está crescendo, com 72% das pessoas (quatro pontos percentuais a mais que na pesquisa anterior) afirmando que uma formação desse tipo é ainda mais promissora do que um diploma de curso superior. No Brasil, esse crescimento foi de três pontos percentuais, passando de de 65% para 68%.
Saiba mais sobre a pesquisa
Assim como no ano passado, a Pearson conduziu o estudo em parceria com a Harris Insights & Analytics, com o intuito de coletar opiniões de estudantes de todas as faixas etárias sobre assuntos como educação básica, ensino superior, carreira, futuro do trabalho e tecnologia.
Foram ouvidas 7 mil pessoas de 16 a 70 anos em sete países: Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, Índia e Reino Unido. “Queremos olhar a tendência em países emergentes e também em países com a economia mais consolidada”, explica Alexandre Mattioli.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa