O fechamento das escolas e a abrupta implementação de um ensino à distância por conta da pandemia da covid-19 impactou a vida de muitos estudantes no Distrito Federal, que ainda encontram dificuldades em se adaptar a essa realidade. Diante de mudanças tão bruscas no processo de aprendizagem, cobrar os alunos por bons resultados seria injusto, disse a especialista em educação infantil Sara Cristina Azevedo, durante live do projeto Novas Diretrizes da Educação promovida pelo Correio nesta quarta-feira (26/8).
A professora, que é graduada em letras pelo UniCEUB e tem pós-graduação em psicopedagogia, neuropedagogia e orientação educacional, comentou que é preciso se ter a preocupação de não relaxar no ensino aos estudantes, mas observou que é necessário considerar a situação excepcional causada pela crise sanitária do novo coronavírus.
“O processo de aprendizagem é muito importante para nós. Temos que entender do processo. A nota, aquilo que vai mensurar a criança não tem tanto valor quanto o processo de aprendizagem. A gente precisa entender o que essa criança aderiu, o que ela aprendeu e o que está guardado para ela”, opinou Sara Cristina, que possui 17 anos de experiência em educação básica e faz parte da equipe do Colégio Marista Asa Sul.
“Sabemos que 2020 não vai se findar em 2020. Vamos olhar onde paramos e o que precisamos terminar, ver o que a criança aderiu e partir para aquilo que couber naquele momento. Para que, assim, a gente relance, vá fazendo a costura e, chegando no ano seguinte, faça uma varredura desse conhecimento”, acrescentou a professora.
Volta às aulas
Com o cronograma para a volta às aulas de algumas escolas do Distrito Federal previsto para 21 de setembro, Sara Cristina comentou sobre como os pais devem preparar os filhos para o retorno às atividades presenciais. Para evitar frustrações das crianças, eles devem ser transparentes.
“É preciso conversar sobre qual é o protocolo daquela escola. Sobre como vai ser o recreio, quantos alunos vão poder estar em cada aula, por exemplo. Isso tem que ser comunicado. A criança não pode chegar com surpresas e precisa entender o que vai acontecer. Obviamente, ela vai trazer emoção e a escola, como sempre acolhedora e preparada para isso, deve ouvir essa criança e mostrar o novo cenário”, comentou.
“Outra coisa que a família pode fazer é saber se o melhor amigo do seu filho vai voltar ou não. A frustração também faz parte desse momento. A gente não vai impedir a criança de viver isso, mas vai ser importante para ela amadurecer”, complementou.
Saúde mental
Sara Cristina ainda analisou que, com o fechamento das escolas, cuidar da saúde mental de crianças e adolescentes tornou-se tão importante quanto dar sequência ao processo educacional desses alunos. Segundo ela, o período longe do colégio e sem a interação presencial com colegas e professores pode mexer com o emocional dos alunos, fazendo com que eles desenvolvam ansiedade e outras sentimentos negativos.
A professora destacou que, para ajudar o estudante, família e escola devem trabalhar em conjunto. “A ansiedade é uma coisa que nos tira a tranquilidade. Mas quando percebemos que a criança está assim, temos de entender o que está causando esse sentimento, se é por conta da aula online ou da distância dos amigos, por exemplo. A partir daí, podemos trabalhar esse problema junto com a criança e cuidar dela, combinando com ela a melhor alternativa para diminuir essa sensação”, explicou Sara Cristina.
De acordo ela, a partir do momento em que os pais identificam os gatilhos que deixam o filho incomodado, fica mais fácil saber como agir para combater o problema. Uma forma de aliviar a pressão é aproveitar o tempo maior de convívio familiar para deixar o ambiente mais leve.
“O adulto também está recolhido. Assim, a gente tem de tentar trazer para dentro de casa algumas coisas que, antes, aconteciam esporadicamente. Tem adolescente que adora cozinhar, por exemplo. É a oportunidade que ele tem de sair do ambiente online de aprendizagem para ter um pouco de tranquilidade e harmonia. Isso vai fazer com que, emocionalmente, ele se sinta acolhido e produza melhor”, ressaltou a especialista.
Segundo Sara Cristina, mesmo distante, o professor precisa ter sensibilidade para perceber nos mínimos detalhes se um aluno precisa ou não de ajuda. Para ela, esse “feeling” pode ser fundamental para que o estudante não se sinta isolado. “O professor precisa entender aquela fala ou aquele olhar do aluno que não estava bacana e, depois que o horário online encerrar, convidá-lo a ficar mais 10 minutos, só para conversar. Isso é o suficiente para o estudante voltar com um aspecto diferente.”