REDE PÚBLICA

Projeto de educação busca amenizar as desigualdades da pandemia

Iniciativa de ex-alunos do Colégio Marista está com campanha de arrecadação de materiais escolares aberta e inscrições para voluntários de tutorias on-line

Isabela Oliveira*
postado em 01/09/2020 17:32 / atualizado em 01/09/2020 17:42
Arrecadações de materiais seguem até 4 de setembro na portaria do Marista -  (crédito: Marista João Paulo II/Divulgação)
Arrecadações de materiais seguem até 4 de setembro na portaria do Marista - (crédito: Marista João Paulo II/Divulgação)

Igualdade de oportunidades é o que o projeto “Educação compartilhada” busca promover para alunos do ensino médio da rede pública. Formado por seis ex-alunos do Colégio Marista João Paulo II, o propósito da iniciativa é amenizar o contexto da desigualdade, ainda mais acentuado devido ao isolamento social. Por meio de diversas ações, os jovens querem auxiliar estudantes de escolas públicas a atingirem o mesmo objetivo que todos eles conseguiram: cursar uma universidade.


Para tirar o projeto do papel, eles perceberam que não tinham a vivência do ensino público para saber exatamente qual demanda entregar. Portanto, tiveram uma série de diálogos com a Secretaria de Educação do Distrito Federal e professores e alunos de escolas públicas. A primeira execução foi divulgar o projeto nas redes sociais (@educacao.compartilhada), pois grande parte do público-alvo, de 14 a 20 anos, está conectado nas mídias. Dentre as atividades planejadas estão monitorias on-line por meio do WhatsApp de todas as áreas de conhecimento e também produção de conteúdo com foco no Programa de Avaliação Seriada (PAS), um dos vestibulares para ingresso na Universidade de Brasília (UnB). Além disso, eles também pensaram em tutorias individuais para auxiliar os estudantes com prazos de vestibulares, taxas, isenções, dentre outras informações.

Então, o primeiro passo foi dar início às inscrições on-line para que alunos de escolas públicas pudessem se inscrever e integrar o projeto. Um formulário foi disponibilizado em 21 de agosto, e já teve todas as vagas preenchidas, inclusive por alunos de outros estados.


Materiais com mesma utilidade, novos donos

Os fundadores do projeto,Tales Flores, Julia Coelho, Mariana Delamagna,Eduardo Duarte,Luíza Gadelha, Luiza Kimura
Os fundadores do projeto,Tales Flores, Julia Coelho, Mariana Delamagna,Eduardo Duarte,Luíza Gadelha, Luiza Kimura (foto: Arquivo Pessoal)


A segunda etapa do plano de ação já está em andamento. Até 4 de setembro, quem dispor de materiais didáticos para vestibular que estejam em desuso, pode fazer a doação na portaria lateral do Colégio Marista João Paulo II, na 702 da Asa Norte, das 10h às 18h.


O coordenador-geral do projeto Eduardo Duarte, 18 anos, conta que o grupo conversou com estudantes de escolas públicas que estão na universidade e só conseguiram aprovação com a ajuda de apostilas e materiais de apoio. Portanto, muitas pessoas que hoje já estão na graduação têm esse material guardado e que pode ser utilizado. O projeto "Educação compartilhada" quer enviar esses livros para os inscritos para potencializar os estudos, mas também distribuir para os alunos de escolas públicas caso sejam muitas apostilas. “Acreditamos que, com a arrecadação, a gente vai dar um bom fim a esses materiais ociosos”, disse Duarte, aluno do 1º semestre de direito da UnB.


Próxima parada: voluntariado


Para que o projeto funcione bem, as tarefas foram divididas entre coordenação geral, o grupo de mídias e a coordenação que faz a comunicação com os voluntários. Esses podem se inscrever para serem tutores e monitores do projeto. Serão cerca de 100 monitores e monitoras para atender os 90 inscritos. As inscrições estão abertas e podem ser feitas por meio deste formulário. Após duas semanas, o projeto vai conseguir se organizar e dar início às atividades de monitoria. Os estudantes serão divididos em grupos no WhatsApp, onde todo o conteúdo de dicas e aulas rápidas será enviado, de acordo com seu ano escolar. Assim, as tutorias também terão início com acompanhamentos personalizados para sanar dúvidas de inscrições, taxas e datas de vestibulares.


Para aqueles que desejam ingressar na UnB, os voluntários gravarão videoaulas voltadas para o PAS. Elas serão disponibilizadas de forma periódica sobre as obras do programa, além de uma lista de exercícios sobre o conteúdo.

Luíza Gadelha não imaginava que as inscrições acabariam tão rápido e acredita que o projeto fará a diferença na vida dos alunos
Luíza Gadelha não imaginava que as inscrições acabariam tão rápido e acredita que o projeto fará a diferença na vida dos alunos (foto: Arquivo Pessoal)


A gestora de comunicação do projeto, Luíza Gadelha, 18, acredita no poder do trabalho voluntário para mudar a realidade de outras pessoas e guarda o sentimento de esperança para conseguir oferecer as mesmas oportunidades aos estudantes. “No começo vão existir desafios, mas eu estou muito otimista", garante Luíza, aluna do 1º semestre de pedagogia da UnB.

Ana Beatriz é estudante do 3º ano e está contente por participar do projeto para se preparar melhor para o PAS
Ana Beatriz é estudante do 3º ano e está contente por participar do projeto para se preparar melhor para o PAS (foto: Arquivo Pessoal)


Ana Beatriz Soares, 17, estudante do terceiro ano do Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro, conheceu o projeto pelo Instagram e achou que seria uma ótima ideia participar. O regime da escola de Ana Beatriz é semestral e ela se sentiu prejudicada durante a pandemia. A escola teve que fazer adaptações, principalmente eliminando alguns conteúdos para que o ano não ficasse perdido. “No momento do vestibular toda informação é importante. Por isso, as minhas expectativas para o projeto é suprir o que estou perdendo com esse atraso”, argumenta.


Além disso, ela espera tirar dúvidas e aproveitar a monitoria das disciplinas que enfrenta maior dificuldade, pois nesse momento o acesso remoto aos professores está sendo mais difícil. “Eu comecei a me sentir muito mais segura com esse projeto”, compara Ana Beatriz.


Cenário pós-pandemia

Quando o período de isolamento social acabar, os estudantes já pensam em outras ações presenciais e que também vão agregar na experiência dos alunos. Algumas das atividades são saídas de campo, visitas à Universidade de Brasília (UnB) e participação em simulações de organizações multilaterais.

Eduardo Duarte é coordenador-geral do projeto Educação compartilhada para promover mais oportunidades aos estudantes da rede pública
Eduardo Duarte é coordenador-geral do projeto Educação compartilhada para promover mais oportunidades aos estudantes da rede pública (foto: Arquivo Pessoal)


O coordenador do projeto, Eduardo Duarte, acredita que proporcionar essas experiências que ele e os colegas da escola particular experimentaram podem motivar os estudantes da rede pública. “Queremos levar para os alunos das escolas públicas as mesmas oportunidades que nós tivemos. Esse tipo de atividade foi crucial na nossa formação”, disse.

 

*Estagiária sob supervisão de Ana Sá

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