Educação Especial

Professora de Taguatinga cria kits para ensinar alunos com deficiência

A educadora do Centro de Educação Infantil 4 entrega o material e orienta os pais sobre como trabalhar com as atividades educativas em casa. Responsáveis elogiam iniciativa

Ana Lídia Araújo*
postado em 22/10/2020 18:27 / atualizado em 22/10/2020 18:31
"Na educação infantil foi onde eu me encontrei e vi o meu trabalho valer a pena. Não me vejo trabalhando em outro lugar", diz Fábia Moura, professora do CEI 4 que criou kits para apoiar aprendizagem de alunos com deficiência - (crédito: Arquivo pessoal)

 

Em tempos de pandemia, ensinar é um desafio que tem sido encarado bravamente por educadores de todo o país. No entanto, a adaptação das atividades presenciais para o ensino remoto deve ser pensada com ainda mais delicadeza quando se trata da inclusão de alunos com deficiência da educação infantil.

No Distrito Federal, a Secretaria de Educação (SEEDF) atende 15.540 estudantes com algum tipo de deficiência. Apenas na educação infantil, são 779 matriculados em classes comuns, 68 em classes especiais e 122 em instituições especializadas. O Centro de Educação Infantil 4 (CEI 4) de Taguatinga é umas das instituições inclusivas do DF e acompanha 14 crianças com deficiência.

Pensando em como melhorar a experiência dos pequenos estudantes da escola, a professora Fábia Moura, 42 anos, abusou da criatividade e foi além das aulas virtuais. Ela montou um kit com diversas atividades e materiais para cada um dos alunos atendidos na sala de recursos.

“O atendimento que faço com as crianças é baseado no concreto e, virtualmente, eu não estava conseguindo atingir isso”, conta a educadora formada educação física pela Universidade Católica de Brasília e pós-graduada em Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela faculdade Universa. “Então, eu tive a ideia de criar esse kit simulando as atividade que eu fazia com eles em sala”.

Trabalhando competências que antecedem a alfabetização 

Montagem dos kits
Montagem dos kits (foto: Arquivo pessoal)

 

A escola apoiou o projeto e, com a ajuda de uma amiga também professora do CEI 2, Fábia montou os kits que passaram a ser entregues aos responsáveis a cada dois meses. São diversos materiais como cartolina, barbante, tampas de garrafas, palitos de picolé, TNT, botões, durex, isopor e ligas, entre outros que apoiam as tarefas de aprendizado dos pequenos.

“São materiais que que trabalham a coordenação motora e atividades que antecedem a escrita e a leitura. Na educação física, nós não trabalhamos a alfabetização propriamente dita, mas sim essas competências que antecedem a alfabetização, de acordo como Currículo Corpo em Movimento da Secretaria de Educação”, explica Fábia, que há 23 anos atua como professora da SEEDF e há 12 se dedica à educação especial na sala de recursos da escola.

Além das aulas ao vivo, que ocorrem uma vez por semana, a professora posta vídeos na plataforma de ensino remoto orientando os pais como fazer as tarefas propostas.

Aprendendo com a família

A pequena Sofia Damasceno em uma das atividades propostas pela professora
A pequena Sofia Damasceno em uma das atividades propostas pela professora (foto: Arquivo Pessoal)

 

Dallyany Damasceno, 33, é formada em enfermagem pela Universidade Paulista (Unip), mas dedica o tempo integralmente aos três filhos, especialmente para a do meio, Sofia, 5, que tem holoprosencefalia, uma má formação do cérebro. A pequena é acompanhada pela professora Fábia na sala de recursos do CEI 4 desde o ano passado.

No início do isolamento social, a mãe conta que Sofia sofreu com a mudança de rotina, mas desde que as aulas e as atividades do kit começaram a serem oferidas, os dias da menina têm sido mais leves. “Eu consigo ensinar ela o segurar o lápis e a trabalhar o olfato, o paladar e as texturas. Tudo isso graças ao kit”, conta.

E as tarefas têm ajudado bem mais do que o esperado. Mariana, 4, a outra filha de Dallyany, aprende junto com a irmã. “A Mariana ainda não entrou na escolinha e está aprendendo muita coisa. Elas aprendem juntas”, revela a mãe.

As irmãs Mariana e Sofia aprendem juntas com as atividades
As irmãs Mariana e Sofia aprendem juntas com as atividades (foto: Arquivo pessoal )

 

Sofia não pode andar e se comunica por meio de gestos e olhares. Dallyany elogia a forma com que a educadora conseguiu que todos esses sentidos fossem trabalhados em casa. “A Fábia é uma professora que eu quero que fique por um bom tempo com a Sofia”, comenta.

Na foto, Sofia e Mariana escrevem a primeira letra do nome delas fazendo punção no isopor. A atividade promove o desenvolvimento da coordenação motora fina e do movimento de pinça, que auxiliam as crianças a, posteriormente, pegarem o lápis corretamente e também ajuda na atenção e concentração.

“Como se fosse uma grande brincadeira”

Victória tem Síndrome de Turner 45X e  aprende enquanto faz atividade de tecelagem
Victória tem Síndrome de Turner 45X e aprende enquanto faz atividade de tecelagem (foto: Arquivo Pessoal )

“As aulas remotas são de uma didática surpreendente e que empolgam nossa filha a paticipar como se fosse uma grande brincadeira”, diz o servidor público aposentado Victor Luiz Torres, 63, pai da Victória, 6, que tem Síndrome de Turner 45X, uma condição genética que afeta mulheres devido a ausência completa ou parcial de um cromossoma X. 

Assim como na casa de Dallyany, Victor conta que as propostas são práticas e incentivam a participação de toda a família. “O material colocado nos saquinhos numerados, de ótima qualidade e os vídeos explicativos são muito inteligíveis para nós pais”, diz.

Em uma das atividades fotografadas, Victória aparece fazendo tecelagem. A professora explica a que atividade trabalha a coordenação motora fina e os movimentos de pinça. Além disso, reforça o aprendizado às cores, concentração e coordenação visual motora. “Nós sentimos uma grande evolução no aprendizado de nossa filha”, diz Victor.

Em print, alunos mostram as atividades propostas pela professora Fábia Moura
Em print, alunos mostram as atividades propostas pela professora Fábia Moura (foto: Arquivo Pessoal )

Sobre os elogios e agradecimentos dos pais, Fábia diz se sentir aliviada. “Eu consegui atingir o meu objetivo com as crianças ajudando as famílias. Tem sido muito compensatório”

 

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá. 

 

 

  • Montagem dos kits
    Montagem dos kits Foto: Arquivo pessoal
  • A pequena Sofia Damasceno em uma das atividades propostas pela professora
    A pequena Sofia Damasceno em uma das atividades propostas pela professora Foto: Arquivo Pessoal
  • As irmãs Mariana e Sofia aprendem juntas com as atividades
    As irmãs Mariana e Sofia aprendem juntas com as atividades Foto: Arquivo pessoal
  • O casal Victor e Sandra e, ao centro, as irmãs Ludimila e Victória. A foto foi tirada na formatura de Victória na Educação Precoce do CEI 4 em 2019
    O casal Victor e Sandra e, ao centro, as irmãs Ludimila e Victória. A foto foi tirada na formatura de Victória na Educação Precoce do CEI 4 em 2019 Foto: Arquivo Pessoal
  • Victória tem Síndrome de Turner 45X e  aprende enquanto faz atividade de tecelagem
    Victória tem Síndrome de Turner 45X e aprende enquanto faz atividade de tecelagem Foto: Arquivo Pessoal
  • Em print, alunos mostram as atividades propostas pela professora Fábia Moura
    Em print, alunos mostram as atividades propostas pela professora Fábia Moura Foto: Arquivo Pessoal
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