Cautela na retomada

Avaliação científica da evolução da pandemia será determinante para traçar o andamento do ano letivo na rede pública em 2021

Augusto Fernandes
postado em 10/12/2020 08:55
João Rabelo, estudante do 2º ano do ensino médio, acredita ser importante mais suporte aos alunos durante a pandemia -  (crédito:  Arquivo Pessoal)
João Rabelo, estudante do 2º ano do ensino médio, acredita ser importante mais suporte aos alunos durante a pandemia - (crédito: Arquivo Pessoal)

A rede pública de ensino também quer começar 2021 com atividades presenciais. Segundo a Secretaria de Educação, o ano letivo, previsto para ter início em 8 de março, provavelmente será com os estudantes em sala de aula. “A forma como isso será feito, isto é, se de forma híbrida ou não, vai depender da situação da pandemia na ocasião. Esta decisão será tomada somente após as avaliações científicas da evolução da pandemia nos meses de janeiro e fevereiro”, explicou a pasta, por meio de nota oficial.

A cautela do governo em determinar como será a retomada tem justificativa.
Com uma segunda onda de infecções e mortes pelo novo coronavírus batendo à porta, o retorno de 460 mil crianças e adolescentes às ruas do DF pode ser um risco.

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Catarina de Almeida afirma que é impossível retomar as aulas nas condições pré-pandemia enquanto não houver vacina contra a covid-19.

Ela diz que, para garantir um retorno presencial seguro, o governo local teria de reestruturar cada escola, investindo na contratação de mais profissionais para fiscalizar o comportamento dos alunos, construindo mais salas de aula para evitar aglomerações, além de outras ações que, a princípio, não têm previsão de acontecer.

Dessa forma, a especialista defende que a preocupação da secretaria seja mapear a situação de cada estudante e garantir um acesso mais eficiente à plataforma virtual de ensino. “Muitas crianças não estão acompanhando as aulas, sobretudo as de áreas rurais, mais periféricas. A secretaria tem de fazer esse levantamento. Ver quantas pessoas realmente não tiveram acesso e quem realmente teve condições de aprender e avançar e, a partir disso, fazer um planejamento de como repor aprendizados e garantir o direito à educação daqueles que não o tiveram em 2020”, pondera.

O secretário executivo da Secretaria de Educação do DF, Fabio Sousa, explica que, devido ao ano atípico, a avaliação dos alunos tem de ser feita de maneira diferente do período presencial. “Para o nosso estudante ser avaliado, tudo o que ele desenvolveu desde o início do ano letivo, seja no presencial, seja no decorrer do ano, nas aulas mediadas por tecnologia, será levado em consideração, ou seja, qualquer atividade que ele fez será levada em consideração”, garante.

“A secretaria dispôs do aplicativo, da entrega de material em casa e de outros meios de comunicação com os nossos estudantes”, completa. Conselhos de classe e equipes gestoras ficarão responsáveis por decidir sobre a situação do aluno no fim do ano letivo de 2020, a partir dessas coordenadas. Além disso, reforça Sousa, excepcionalmente este ano, faltas acima de 25% não serão consideradas para reprovação ou retenção, seguindo parecer do CNE.

Experiência

Na avaliação de quem teve de se adaptar à realidade imposta pela pandemia, um retorno presencial não pode ser feito de qualquer jeito. Como muitas aulas virtuais não foram obrigatórias, isso refletiu no desinteresse de alguns alunos, que podem ter dificuldade em voltar às escolas, ou mesmo falta de vontade.

“Há alunos que precisam de motivação, mesmo que essa motivação seja a obrigatoriedade de participar das aulas on-line. Ficamos solitários durante a pandemia, dependendo apenas de nós mesmos. Portanto, sem estímulo, fomos muito prejudicados. Ficamos sem entender bem os conteúdos. Para voltar ao que era antes, a gente teria de ter esse suporte”, opina João Rabelo, 16 anos, morador de Ceilândia e estudante do 2º ano do ensino médio.

No 3º ano do ensino médio, Laryssa Fernandes, 18, reitera o pedido de João por mais suporte. Mesmo que não esteja mais no ensino básico a partir do ano que vem, ela espera que os estudantes da rede pública sejam melhor auxiliados em comparação a 2020. “Mais da metade dos alunos não assiste às aulas e só se preocupa em responder os formulários. Isso vai acarretar em uma deficiência muito grande”, comenta.

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