Se fizermos uma lista de profissionais que precisaram se reinventar e superar desafios em 2020, certamente, os professores estarão no topo. Com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de distanciamento social adotadas para conter a contaminação, foi preciso redesenhar a forma como as escolas funcionavam em todo o país. E os educadores encabeçaram essa mudança. Em poucos meses, instituições públicas e privadas se viram obrigadas a criar uma grade curricular que funcionasse de maneira remota para as diferentes realidades encontradas nas casas dos estudantes.
Para Melrilin Leine de Almeida, 31 anos, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Cidade Jardins, em Valparaíso (GO), a experiência foi duplamente desafiadora. Este foi o primeiro ano em que ela assumiu um posto de coordenação.
E o maior desafio foi lidar com a rotina. “Com esta pandemia, muitas vezes, tínhamos um computador muito básico, que nos atendia porque a elaboração de uma atividade não exigia uma tecnologia muito grande. Hoje, é preciso ter uma internet melhor, uma nova forma de preparar as aulas, atender a todos os alunos. O professor trabalha muito mais”, afirma.
Mas todo o esforço parece ter sido reconhecido. Pesquisa do Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, mostra que, no Brasil, 71% dos responsáveis pelos estudantes estão valorizando mais o trabalho desenvolvido pelos professores e 94% consideram muito importante que eles estejam disponíveis para correção de atividades e esclarecimento de dúvidas durante as aulas não presenciais.
Além disso, a participação dos responsáveis na educação das crianças e adolescentes tem sido mais intensa. O levantamento aponta que 57% das famílias do Centro-Oeste declararam estar mais presentes na vida escolar dos filhos durante a quarentena. E 59% consideram que as aulas remotas foram eficientes no aprendizado dos estudantes — índice menor que a média nacional, de 64%. A pesquisa foi realizada de 16 de setembro a 2 de outubro.
Mãe de duas filhas em idade escolar, no 5º e 8º anos, a procuradora federal Ana Salett Marques Gulli, 50, reconhece a importância e o esforço do trabalho desenvolvido pelos educadores durante a pandemia. “Eles tiveram de alterar todo o planejamento anual, rotina e metodologia educacionais de forma repentina, sem prazo para prévia avaliação de riscos, em um cenário totalmente novo, sem precedentes e assustador.”
E ela acredita que, a despeito de todas as dificuldades, conseguiram alcançar um bom resultado pedagógico. “Permaneceram atentos ao conteúdo e inovaram, na medida do possível, a forma de interagir com os alunos, de modo a mantê-los estimulados no tocante ao aprendizado, sem descuidar do lado emocional. Merecem nossa gratidão e respeito”, reforça.
Adaptação
Mas o caminho trilhado até obter esse índice de aprovação não tem sido fácil. A primeira etapa que os profissionais tiveram de vencer foi o entendimento das ferramentas que precisariam usar. “O processo de adaptação foi difícil para todos nós. Apesar de lidarmos com a tecnologia cotidianamente, nós a utilizamos para outras finalidades”, acredita o professor de língua portuguesa Rairy de Carvalho, 32 anos.
Ele dá aula nos colégios COC, do Lago Norte, e Apoio Singular, da Asa Sul. E acredita que as novidades vieram para ficar. “Eu percebo que a gente começou a construir um tipo de relação com a tecnologia que não tinha antes, de ter mais contato, de usar outras ferramentas, de trazer essa realidade para dentro da sala de aula”, afirma.
"Durante a aula presencial, a gente vai construindo diálogos, entendimentos
sobre o conteúdo. No virtual, o timing é diferente, a aula se torna mais expositiva
Rairy de Carvalho,
professor de língua portuguesa
Opinião dos mestres
Estudo realizado com 1.005 professores da rede pública mostrou que, após os desafios impostos pela crise da covid-19, professores estão mais preparados. Confira:
» 73% dos educadores dizem que, após a pandemia, vão utilizar mais tecnologia no ensino do que usavam antes
» 3% dos professores não se sentem preparados para dar aulas com tecnologia
» 55% dos professores acham que a internet da sua escola não é adequada para continuar usando tecnologia no retorno às aulas
» 29% não têm acesso à internet na escola e só 16% acham que a velocidade é adequada
» Após a pandemia, 64% dos professores consideram imprescindível a todas as escolas terem acesso à internet de alta velocidade
» 76% dos professores dizem que farão mais formações de forma remota após a pandemia do que o quanto faziam antes da pandemia
Fonte: pesquisa Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann.