A hora e a vez do digital

As adequações do ensino ao modelo on-line exigem das escolas atenção aos problemas de privacidade e exposição de crianças e de adolescentes na internet

Mariana Niederauer
Ana Clara Avendaño*
postado em 10/12/2020 09:13
A youtuber Pietra Almeida com os pais, Juliana e Alan: cuidado redobrado com o acesso a plataformas digitais -  (crédito: Arquivo Pessoal)
A youtuber Pietra Almeida com os pais, Juliana e Alan: cuidado redobrado com o acesso a plataformas digitais - (crédito: Arquivo Pessoal)

Com a pandemia, a educação digital mostrou-se ainda mais presente no contexto de ensino de várias instituições, alunos e responsáveis. A imersão abrupta na internet transformou a tecnologia em mais do que uma plataforma: criou uma cultura digital. As adaptações necessárias ao ensino remoto abriram as portas para infinitas possibilidades de aprendizado, e conhecer direitos e deveres é fundamental.

Para Priscila Gonsales, diretora fundadora do Instituto Educadigital, o caminho da educação digital é trilhado em conjunto com todos os envolvidos no âmbito estudantil. “A tecnologia é muito mais que um instrumento. Os pais, os alunos e as instituições devem agir juntos com uma perspectiva de formação de cidadania digital, que são os direitos e os deveres dentro da internet”, explica.

Com o ensino remoto, as escolas optaram por diferentes plataformas para dar continuidade ao ano letivo. Na visão de Priscila, essa escolha exige ponderação. “As instituições têm um novo desafio: ter mais consciência das escolhas que são feitas em termos de tecnologias para os alunos, levando em consideração os critérios de segurança e privacidade”, avalia.

Responsabilidade e independência foram outros fatores exigidos dos estudantes nas aulas remotas. O aluno do SEB Dínatos Mário Osório, 15 anos, enfrentou dificuldades para se adequar à modalidade. “É necessário ter maturidade para estudar em casa, porque estamos no conforto, com celular e internet à disposição”, conta.

Para a mãe de Mário, Tamara Osório, 36, o formato precisa de aprimoramento. “O ensino presencial possui a cobrança do professor, o aluno é obrigado a assistir à aula e a não mexer no celular. E, na internet, o estudante assiste a aula quando quer, porque fica tudo gravado”, diz.

Proteção

Uma das principais preocupações nesse cenário é na utilização das informações pessoais deste público. “As plataformas digitais voltadas ao ensino são, na maioria dos casos, de grandes empresas de tecnologia. Elas usam formas de coletas e tratamento massivo de dados pessoais, muitas vezes sem as devidas garantias para estudantes”, alerta Marina Meira, advogada do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana.

Neste contexto, os estudantes podem ser vítimas de publicidade infantil, capazes de induzi-los ao consumo abusivo. Outra questão apontada pela especialista é a exposição dos hábitos dos alunos, como rotina e os lugares frequentados, o que pode colocá-los em risco.

Marina aconselha a leitura dos termos de uso e políticas de privacidade, a fim de evitar o vazamento de dados. Contudo, há práticas e obrigações que estão aquém dos responsáveis e estudantes. “As empresas têm de proteger efetivamente os direitos da criança no uso de tecnologia. Inclusive, o direito à privacidade.”

Conhecimento

Coordenador de Ensino de Tecnologia da Rede Objetivo no DF, Murillo Pinheiro Oliveira explica que, há dois anos, a escola modificou o currículo do fundamental 2 ao ensino médio para incluir a proteção de dados como tema. Os estudantes aprendem sobre segurança no login em contas nas redes sociais e e-mails, por exemplo, e compartilhamento de dados via WhatsApp e aplicativos de conversa.

“A fragilidade está na ponta, nele mesmo, em como ele altera essa ferramenta, tudo isso é tratado com eles”, afirma. Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a Lei n° 12.737, de 2012, que trata sobre crimes cibernéticos, são temas de aulas com os alunos do ensino médio.

Esses conhecimentos e o diálogo com crianças e adolescentes é fundamental para evitar que eles se tornem alvo de criminosos, reforça a empresária Juliana Almeida, 35 anos. Ela e o marido, o também empresário Alan Rodrigues, 34, são pais da youtuber e atriz Pietra Almeida, 10.

“O cuidado com a Pietra é redobrado, porque, além de ela já ter acesso à internet, muitas pessoas entram em contato pelas redes sociais. Por isso, ela não tem a senha do Instagram dela e meu esposo instalou um programa para ela só acessar o que a gente permite”, observa a mãe.

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte


Proteção

Veja orientações para evitar os crimes digitais:

» Compartilhe inquietudes e preocupações com a gestão e a comunidade escolar

» Debata com a escola e com a comunidade escolar sobre a escolha de produtos e serviços seguros para a proteção de dados

» Converse com crianças e adolescentes a respeito do empoderamento digital e educação para a mídia

» Analise ou busque auxílio para avaliar os termos de uso e a política de privacidade de aplicativos e plataformas de ensino

» Solicite ao responsável pela base de dados (escola ou empresa) a eliminação de seus dados pessoais, ou dos filhos que tenham sido coletados de forma desnecessária, excessivamente invasiva à privacidade ou que sejam direcionados a fins ilegais

» Denuncie possíveis violações nos órgãos competentes: Ministério Público, Procon, organizações da sociedade civil (como o programa Criança e Consumo, do Instituto Alana) ou diretamente às empresas, por meio do SAC ou das redes sociais.

Fonte: A Escola no mundo digital — dados e direitos de estudantes, do Instituto Alana

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