Neste domingo (13/12) é o último dia de inscrições na rede pública de ensino do DF. Ao menos 30 mil estudantes fizeram o registro e a Secretaria de Educação garante que todos terão acesso a vagas. Em entrevista ao Correio, o secretário da pasta, Leandro Cruz, avaliou os desafios impostos pela pandemia de covid-19 este ano e comentou sobre os preparativos para 2021. “Num ano tão atípico como foi 2020, tivemos, obviamente, vários obstáculos, várias dificuldades, oferecemos a solução possível, dada a surpresa. Em 2021, queremos montar um planejamento o mais pactuado possível com toda a comunidade escolar, isso é muito importante para nós”, afirmou.
Diante das incertezas do cenário de crise sanitária, a forma como a retomada se dará no próximo ano — se híbrida ou remota — ainda não está definida, mas uma coisa é certa: as aulas começam em 8 de março. E, para os alunos do ensino médio, há a novidade do currículo em movimento. Com a aprovação, esta semana, do novo currículo para a etapa, baseado nas mudanças na legislação nacional, não haverá mais 1ª, 2ª e 3ª séries e, sim, seis semestres letivos em que o estudante acumulará créditos. A implementação será gradual e começou, este ano, em escolas-piloto. “O Distrito Federal está bem adiantado. Das 27 unidades da Federação, apenas nós e o estado de São Paulo já tivemos os novos currículos aprovados por seus conselhos de educação”, observa Cruz. Leia a entrevista na íntegra.
Terminam, hoje, as matrículas para o ano letivo de 2021 na rede pública de ensino. Qual o balanço do processo até o momento?
O processo foi absolutamente tranquilo, com duas alternativas de inscrições e um prazo bastante longo. Tivemos um aumento no número de pedidos. Para se ter ideia, em 2019, o total de inscritos ficou em 24.725 estudantes. Neste ano, até sexta-feira, nós tínhamos 30 mil.
Todos os pedidos serão atendidos?
Sem dúvida. A partir da pré-escola, todos têm vaga garantida, mas é preciso que aqueles que se inscreveram efetivem a matrícula na escola. O resultado das inscrições será divulgado pela Secretaria de Educação. Em fevereiro, quem se inscreveu terá de efetivar a matrícula.
Quem perder os prazos, o que deve fazer?
Bom, haverá uma nova oportunidade. Tanto para quem não se inscrever, quanto para quem se inscrever mas não efetivar a matrícula. São as chamadas vagas remanescentes, aquelas que não foram preenchidas durante o prazo de matrícula. Nesse caso, a secretaria vai disponibilizar essas vagas, e isso vai acontecer em fevereiro. Mas, é bom que se saiba que, nesse caso, a pessoa perde a prerrogativa de escolha. As remanescentes são as vagas que sobram, então, não haverá vaga necessariamente perto de casa ou perto do trabalho dos pais ou responsáveis. Dito isso, é importante salientar: se estiver interessado em matricular seu filho na rede pública, é melhor que faça isso até a noite de hoje.
2020 foi um ano atípico e pegou todos de surpresa. O que a Secretaria de Educação fez para contornar as barreiras da crise sanitária?
A primeira ação, claro, foi a suspensão das aulas presenciais, a partir de 12 de março. Nossa escolha, nossa prioridade, é preservar a vida, a saúde de nossos estudantes, professores, demais servidores, e de toda a população. Enfrentamos o maior desafio da história da educação. O passo seguinte, já em abril, foram as atividades pela plataforma Google Sala de Aula e, por três meses, aulas pela televisão, em três emissoras. Nosso objetivo inicial foi manter o vínculo do estudante com a escola. Em 22 de junho, começamos o período de acolhimento dos estudantes, para retomada oficial do ano letivo em 13 de julho. Posteriormente, ofertamos pacotes de dados a estudantes e professores, para acesso à plataforma. Os estudantes que não têm acesso estão recebendo material impresso em suas casas. E tudo isto só foi possível pelo engajamento dos professores, dos gestores, de todos os servidores da Educação.
Apesar da indefinição sobre a retomada no próximo ano — se será ou não presencial —, devido às incertezas causadas pela pandemia, a pasta abriu consulta com duas opções de calendário para o ano que vem. Qual a importância de se ouvir a comunidade escolar neste momento?
Num ano tão atípico como foi 2020, tivemos, obviamente, vários obstáculos, várias dificuldades, oferecemos a solução possível, dada a surpresa. Em 2021, queremos montar um planejamento o mais pactuado possível com toda a comunidade escolar, isso é muito importante para nós.
A rede pública está mais preparada para manter o ensino híbrido, com aulas presenciais e remotas?
Sim, está. A experiência deste ano nos deixou em condições de aperfeiçoar, se for o caso. Mas, a forma como as atividades serão retomadas ainda vai depender da evolução da pandemia nos meses de janeiro e fevereiro. De certeza, o ano letivo de 2021 vai começar em 8 de março. Agora, a forma como isto vai ocorrer, com ensino remoto ou híbrido — metade da turma indo presencialmente e a outra parte tendo aulas remotas, em revezamento semanal —, vamos decidir conforme o comportamento da pandemia. E, sim, estamos preparados e trabalhando com todas as possibilidades.
Como tem sido o apoio aos professores?
Os professores têm sido fantásticos. Dá gosto de ver a abnegação deles. Agradeço pela garra com a qual cada professor e professora buscou dar o seu melhor, se reinventar e, mesmo diante das dificuldades, conseguir cumprir sua missão. Para a atuação no ensino remoto, foram feitas formações pela Eape (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação). Eles também têm os pacotes de dados gratuitos e todo o suporte das regionais de ensino e das direções das escolas para a produção dos materiais, tanto na plataforma, quanto os impressos. E é importante destacar que eles tiveram sua autonomia mantida. Eu acho que nossos professores deram uma excelente resposta nesse ambiente de enorme incerteza que a gente viveu.
Uma das novidades do próximo ano será a implantação do novo ensino médio. Como vai funcionar essa transição no DF?
O DF está bem adiantado. Das 27 unidades da Federação, apenas nós e o estado de São Paulo já tivemos os novos currículos aprovados por seus conselhos de educação. A transição já começou com 12 escolas-piloto, em 2020. Destas, cinco já incorporaram totalmente a proposta e as demais estão em fase de implementação. Até 2022, todas as primeiras séries estarão com o novo currículo.
Algumas escolas da rede já adotavam a semestralidade. Isso ajuda na transição?
Ajuda, sim. Por esse sistema, a maior parte das disciplinas de cada série é dividida em dois blocos, exceto Língua Portuguesa, Matemática e, no caso específico do diurno, Educação Física. Com essa estrutura, os estudantes do ensino médio não precisam se dedicar a todas as disciplinas da série que estão cursando ao mesmo tempo. Eles têm, por semestre, menos matérias a serem vistas, ou componentes a serem vistos. Ao mesmo tempo, vão ter mais carga horária destinada a eles.
Que benefícios trará a possibilidade de o estudante escolher as matérias que quer cursar? Como escolas e pais podem ajudar nesse processo?
A escolha possibilita ao estudante se engajar mais nas atividades escolares, dialogar mais com seus professores sobre suas necessidades pedagógicas e interesses. As escolas devem acompanhar e orientar os estudantes. Os pais devem participar da vida escolar dos filhos, com diálogo e respeito às escolhas pessoais deles.
Que opções esses estudantes terão na rede pública de ensino?
Há uma base que todas as escolas devem seguir, em todas as áreas de conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Dependendo das necessidades pedagógicas e dos interesses dos estudantes, a oferta das matérias, ou disciplinas, ou unidades curriculares, se a gente quiser usar o termo correto, poderá ser específica de cada escola. Em relação às disciplinas optativas, a oferta é bastante diversificada. Cada escola irá propor suas próprias disciplinas.
Quais idiomas serão ofertados? O aluno pode escolher aprender mais de um?
O inglês será ofertado obrigatoriamente na formação geral básica. O espanhol será ofertado como uma segunda língua. Nas escolas interculturais bilíngues, os estudantes poderão cursar outros idiomas, como o francês.
A proposta já está alinhada com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio?
Sim. A partir da homologação da BNCC da etapa do ensino médio, em dezembro de 2018, o currículo do Distrito Federal começou a ser revisto. Pensado e escrito a muitas mãos, ele é fruto da colaboração de diversos atores da educação.
Fala-se, há algum tempo, da importância de se desenvolver as habilidades do século 21. Qual o papel da educação nesse processo e como o currículo em movimento do novo ensino médio pode contribuir?
O que se chama de “competências do século 21” é a promoção do pensamento crítico, colaborativo e responsável, com o objetivo de subsidiar o desenvolvimento da autonomia, da empatia e da cidadania. Assim, no currículo, essas premissas se traduzem na oferta de disciplinas, tanto as obrigatórias quanto as eletivas. Isso precisa ser feito de forma que os estudantes façam suas escolhas conforme seus potenciais, seus interesses e suas necessidades. É o que estamos buscando aqui na nossa rede do DF.