Volta às aulas

Gestores escolares são contra retomada presencial na rede pública

Governador Ibaneis Rocha anunciou a volta às aulas presencial para 8/3. Sinpro-DF afirma que escolas não têm estrutura para garantir retorno seguro

Isabela Oliveira*
postado em 25/02/2021 20:04 / atualizado em 25/02/2021 21:54
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) manifestou que é contra a retomada presencial da rede pública de ensino. Entre medidas que precisam ser garantidas antes de um retorno em meio à pandemia, o sindicato afirma que é necessário a vacina para profissionais da educação e investimento para escolas se adequarem às medidas sanitárias.


Segundo Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF, na terça-feira (23/2) foi feita uma reunião com os gestores das escolas que foram unânimes: as escolas não estão preparadas para o retorno.

Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF, reforça que a vacina é imprescindível para os profissionais da educação
Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF, reforça que a vacina é imprescindível para os profissionais da educação (foto: Sinpro-DF/Divulgação)

“Nós queremos o retorno, nada substitui as aulas presenciais, mas não seremos cobaias. Não é só expor a vida de quem está nas escolas, mas da população”, pondera Rosilene. “Nós lamentamos que o governador esteja caminhando na contramão, porque o momento agora é de organizar as escolas para que 100% dos alunos tenham acesso ao Google Sala de Aula e os professores recebam suporte”, reforça a sindicalista.


Além disso, o Sinpro divulgou em nota que outros estados que retomaram as aulas presenciais tiveram que cancelar ou suspensar as atividades devido à covid. Na rede pública do estado de São Paulo, por exemplo,  foram confirmados 329 casos de covid-19 em 186 escolas. Os dados foram divulgados pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de SP (Apeoesp).

 

Governador confirma retorno

Nesta quinta-feira (25/2), o governador Ibaneis Rocha (MDB), participou da cerimônia de entrega da reforma da Escola Classe 1 em Santa Maria. Ele disse que o retorno das aulas na rede pública "é urgente". Contudo, a duas semanas da volta às aulas, programado para 8 de março, a modalidade ainda está em definição.

Procurada pelo Eu, Estudante, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) não forneceu detalhes do plano de retomada das escolas até o fechamento desta matéria. 

Escola não tem estrutura para retorno presencial


Isnã Ambrósio, 42 anos, é diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 25 de Ceilândia e não acha seguro a retomada presencial das aulas. Os principais fatores que ele elenca são a falta de estrutura e o crescimento do número de casos de covid-19 no DF.

Isnã Ambrósio, diretor do CEF 25 de Ceilândia, pondera que será muito difícil fazer fiscalização de alunos nas aulas presenciais
Isnã Ambrósio, diretor do CEF 25 de Ceilândia, pondera que será muito difícil fazer fiscalização de alunos nas aulas presenciais (foto: Arquivo Pessoal)


Ele conta que o CEF 25 tem 23 salas que normalmente comportam 35 alunos dos alunos finais do ensino fundamental e a educação para jovens e adultos (EJA). Garantir o distanciamento social seria uma tarefa difícil. “Manter esses alunos dentro de sala com distanciamento mesmo que seja reduzido ainda sim é muito complicado, porque a sala de aula é uma caixa sem ventilação”, afirma o gestor.


Isnã acredita que o melhor, no momento, é proteger e vacinar os funcionários da escola, não só os professores, mas os profissionais terceirizados, e melhorar o fornecimento de internet para a comunidade.


“A minha escola atende uma comunidade bastante carente que não tem acesso à internet. O governo tinha que oferecer um sinal de internet para estender à área carente e seria ótimo se ele fornecesse equipamento para os professores gravarem e distribuírem aulas”, completa.


Uma das soluções que a escola encontrou para auxiliar os alunos carentes foi reativar o laboratório da escola. Antigamente, cerca de 35 alunos poderiam usar a sala, mas com a pandemia o número se reduziu a sete com horários agendados para cada estudante.


Professores fazem sacrifícios para manter ensino remoto

 

Valter Silva, professor de história, acredita que as escolas não tem estrutura para retomar as aulas presencialmente
Valter Silva, professor de história, acredita que as escolas não tem estrutura para retomar as aulas presencialmente (foto: Arquivo Pessoal)

Valter Silva, 32 anos, é professor de história do Centro Educacional (CED) 6 de Ceilândia e acredita que ainda não é seguro retomar aulas presenciais. Ele destaca que a rede pública não tem estrutura para garantir todas as medidas de segurança e, mesmo com a vacina, a escola ainda não será um ambiente 100% pela situação atual da pandemia.


“Estamos em uma situação de total despreparo e uma pressa incompreensível para fazer esse retorno. O governador tem afirmado que eles estão preparando um plano seguro que conta com os professores, mas em nenhum momento tivemos uma afirmação de como vai ser o retorno e os protocolos”, argumenta o servidor.


Valter reforça que todos os professores estão cientes das perdas quanto à aprendizagem e contato humano, mas enquanto a vacinação em massa não avançar, as aulas on-line são a melhor solução.


“Nós estamos preocupados com os nossos alunos e totalmente cientes dos prejuízos da jornada educacional desde o início da pandemia. É do nosso interesse contornar o máximo possível os prejuízos, mas a solução não é o retorno”, pontua. “O que a gente precisa é de mais apoio para que a gente atinja os alunos que não têm acesso à internet.”


Segundo o professor de história, a educação do DF hoje está nas mãos de quem faz sacrifícios para continuar o ensino, mesmo que a distância e sem suporte. O CED 6 de Ceilândia, para auxiliar os alunos que não têm computador ou internet, fez impressão de materiais e deixou na sede da escola. Os alunos que não tinham como buscar o conteúdo, puderam receber as apostilas em casa, por meio de um motoboy.


Falta investimento em funcionários


Para o diretor do CEF 25 de Ceilândia, Isnã Ambrósio, além do investimento estrutural, as escolas precisam de mais funcionários para auxiliar no monitoramento das medidas de segurança. Ele acredita que, pela experiência com os alunos que usam o laboratório da escola e não seguem os protocolos, o mais adequado seria contratar profissionais para fiscalizar.


“Os alunos não ficam de máscara, a gente tem que ir lá e dar orientação. Um dos grandes problemas é a falta de funcionários para fiscalizar, pois diferente de escola particular que tem monitores, a escola pública não tem”, reforça o diretor.


Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF, também concorda que não basta fornecer investimentos para a escola conseguir melhorar a infraestrutura. Muitas ainda carecem de funcionários essenciais, como um porteiro.


“Para colocar esses alunos dentro da escola, você precisa de gente observando e vigiando o comportamento deles. Boa parte das escolas sequer conta com porteiro”, ressalta.


Greve pela vida


A diretora do Sinpro-DF explica que os professores estão de férias e retornam às atividades na próxima semana. Ela espera que o governador repense o anúncio, caso contrário haverá uma assembleia com a categoria para decidir os próximos passos.


“Nós temos que consultá-los, porque quem vai retornar às escolas são os professores”, observa Rosilene. Caso os professores decidam que não vão retornar, Rosilene explica que “será uma greve em defesa da vida, não a dos professores, mas da população”.


*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá

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