Nesta quarta-feira (28), comemora-se o Dia Nacional da Educação, novamente em meio à pandemia de covid-19 e o consequente fechamento das escolas. A data é oportunidade para educadores e estudantes refletirem sobre desigualdades de acesso à internet e a tecnologias. Os desafios são ainda maiores para a comunidade escolar da zona rural.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) de 2018, 83,8% dos domicílios em área urbana utilizam a internet. Nos domicílios rurais, o número é de 49,2%.
O percentual de pessoas com celular varia mais de 20 pontos percentuais entre as áreas: 82,9% dos moradores da zona urbana contra 57,3% da rural. A falta de disponibilidade do acesso em domicílio é um dos grandes motivos para o uso na zona rural ser baixo (20,8%), mas, nos centros urbanos (1%) essa não é uma preocupação.
As dificuldades de acesso fazem com que professores tenham que produzir materiais em diferentes plataformas para se adequar àquilo que carece cada aluno.
Whatsapp e material impresso foram algumas dessas alternativas
Na Escola Classe (EC) Lamarão, localizada na zona rural do Paranoá (DF), as atividades acontecem por três meios distintos: aulas pela plataforma Escola em Casa DF, pelo whatsapp e por atividades impressas. A diretora da escola, Cláudia Versiani, 42, explica que essas alternativas foram as soluções encontradas para integrar os alunos que tinham acesso limitado ou nenhum acesso.
Assim como aos demais educadores, a suspensão das aulas em março do ano passado deixou os profissionais do local surpresos e desorientados. “Já tínhamos o ano todo planejado e foi por água abaixo”, relata a professora.
No entanto, a educadora explica que “a comunidade agrícola do Lamarão é muito diferenciada”, pois boa parte dos alunos possuem acesso à internet. “A gente consegue ter de 80 a 90% dos estudantes dentro das plataformas assistindo aula ao vivo”, comenta. Entre as 190 crianças matriculadas na instituição, ela estima que 18 usam os materiais impressos.
Além das atividades, os professores criam roteiros de estudos diariamente para os alunos. Às segundas-feiras, a equipe se reúne presencialmente para entregar as atividades, mas os pais podem buscar ao longo da semana. “A gente faz essa produção, coloca em saquinhos, nomeia e deixamos separados”, conta.
A diretora ressalta que a participação dos pais é essencial para garantir a qualidade do ensino. “Graças a Deus nós temos uma comunidade escolar muito participativa”, afirma. “Se a família auxilia e dá o suporte, o desenvolvimento e o rendimento dos estudantes serão potencializados”.
Pais encontram barreiras para buscar atividades nas escolas
“Quando você fala em material impresso você tem que entender que tem toda uma logística por trás disso”, explica Lourdes Cosmo, 56, coordenadora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Cerâmica Reunidas Dom Bosco. A escola fica na zona rural de Planaltina (DF), próxima a cidade de Formosa (GO) e a cerca de 70Km do Plano Piloto.
Até a última semana, havia atividades da primeira entrega, no final de março, que não tinham sido recolhidas, pois os pais não tinham condições de ir à escola. “Por que o pai não foi buscar? Porque estamos falando de área rural, tem crianças que moram a 20km da escola, para o pai ir lá ele precisa ter carro”, argumenta a docente. “Eles não têm uma renda para bancar esse vai e vem de busca”.
Percebendo essa dificuldade, alguns profissionais usaram os próprios carros para entregar atividades. Ao todo, 57 dos 238 alunos matriculados usam os materiais impressos. “Aqueles que têm acesso à internet de qualidade são privilegiados no sentido da forma de atendimento, que é melhor”, comenta. “Aí o professor tem que articular maneiras de buscar aqueles que não têm acesso".
Nem mesmo na própria escola há internet. “A gente não teve suporte, não teve internet para os pais. Aí você pergunta: é culpa de quem?”, questiona a professora. Ela ainda pontua que os ensinadores estão dando o máximo para ajudar no que estiver ao alcance deles.
Educadores procuram maneiras de trazer a escola para perto da comunidade
Com as limitações impostas pela pandemia, ficou ainda mais difícil fazer momentos de descontração. Cláudia Versiani, diretora da EC Lamarão, conta que a escola se viu impossibilitada de realizar atividades lúdicas com os alunos e tiveram que se reinventar. Em 2021, já mais adequados ao modelo, a escola organiza uma homenagem virtual de dia das mães no dia 8 de maio.
“Nós, da escola Lamarão, sempre valorizamos o dia das mães. Tendo aquele cuidado com o estudante que mora com a tia, com a avó. Mãe é quem cuida”, afirma. A diretora comenta que a ideia é fazer uma live com a cara do que se fazia no presencial, com sorteios, homenagens e premiações. A instituição busca parcerias para o evento e acredita que essa é uma forma de incentivar diversas outras escolas nesse momento difícil.
Lourdes, do CEF Cerâmica Reunidas Dom Bosco, comenta que é um grande desafio conseguir manter a interação entre escola e aluno. No presencial, quando o ônibus chega, é com todos os alunos. Agora no processo de aula remota é o contrário. "Como levar o colégio a todos eles?”, questiona.
A coordenadora comenta que a escola representava “o social” da comunidade antes da pandemia. “Era onde todo mundo se encontrava para tudo”, explica. “Então agora a gente está tentando levar um pedacinho da escola em cada comunidade”.
Para isso, o local criou projetos de interação, como o Do Real ao Virtual. A iniciativa tem com objetivo filmar e fotografar estudantes e famílias da comunidade escolar trazendo uma sensação maior de proximidade entre as pessoas. Segundo Lourdes, as fotografias visam “fomentar nos alunos essa interação e esse prazer que a escola tem na vida deles”. O primeiro vídeo da coletânea de imagens já está no canal de YouTube da escola e reúne fotos e vídeos da própria escola arrumada para receber alunos.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luísa Araújo