O brasileiro tem sim espírito empreendedor. A última pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor - GEM - que avalia o nível da atividade empreendedora no mundo, mostra que o Brasil é o segundo país mais empreendedor em um ranking de 50 países avaliados. O levantamento estima um total de 53,5 milhões (53.437.971) de brasileiros à frente de alguma atividade empreendedora, tanto em fase inicial quanto já estabelecidos.
Antes de partirmos para uma avaliação do quadro, é preciso compreender a extensão do significado do verbo empreender. Não se trata apenas de abrir um negócio, mas de ter habilidades para identificar, criar e implementar mudanças, inovações e melhorias em uma atividade ou em um negócio. Em outras palavras, empreender é identificar necessidades e oportunidades e promover inovações para agregar cada vez mais valor a uma atividade humana.
Infelizmente, quase 90% do empreendedorismo no Brasil não ocorre por meio da identificação de oportunidades. A referida pesquisa GEM revela que as pessoas iniciam um negócio devido à falta de outras perspectivas profissionais. O indivíduo perde o emprego e, ao não conseguir nova colocação no mercado de trabalho, investe suas economias ou faz dívidas para abrir um negócio. Nestes casos as chances de fracassos são muito maiores.
Qualquer atividade humana, seja ela empresarial ou não, tem os seus riscos. Por isso, quando o ambiente começa a estimular o pensamento e a atitude empreendedora desde cedo, os indivíduos passam a identificar melhor as oportunidades e a forma para empreender. Nessa perspectiva, o Novo Ensino Médio surge para estimular o pensamento mais criativo, empreendedor e tecnológico.
O Novo Ensino Médio contempla tanto a formação geral básica, orientada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC,) quanto os itinerários formativos que abrirão para o aluno as possibilidades de aprofundar os estudos em áreas do conhecimento com as quais eles se identificam ou, ainda, em cursos de formação técnica e profissional. Esses itinerários começam estimular o pensamento sobre o mundo do trabalho, discutir sobre startups, fazer simulações de planos de negócio entre outras habilidades portadoras de futuro. Na perspectiva do trabalho em uma empresa, seja ela pública ou privada, a mente empreendedora é capaz de agir de forma proativa na busca de soluções para os problemas e desafios da contemporaneidade.
O novo modelo de Ensino Médio também estimulará o interesse dos jovens pela área tecnológica. Nos principais celeiros de startups - Estados Unidos, China, Israel e Índia – a ênfase no aprendizado de novas tecnologias, programação, raciocínio lógico e robótica é um diferencial importante que tem ajudado no aumento no número de startups ou do surgimento de tecnologias inovadoras. Sendo a tecnologia a base da nova economia, a educação com a perspectiva empreendedora e tecnológica será essencial para transformar a sociedade e atender às novas necessidades.
Em 2022 todas as instituições de ensino públicas e particulares devem iniciar o novo formato de Ensino Médio, em geral de forma gradativa iniciando pela 1ª série. O Colégio Marista de Brasília já deu os primeiros passos em direção a este futuro. No início deste ano foi implantada a disciplina de Future Skills, sustentada em dois pilares: humano e tecnológico. Na Human Skills, o aluno tem acesso a conteúdos, dinâmicas, processos, reflexões sobre como adquirir competências que os robôs não possuem, como liderança e trabalho em equipe, por exemplo. Por outro lado, é preciso saber lidar com os robôs, ser o agente pro-ativo das máquinas. Nesse sentido, a Future Skills ajuda o aluno entender a lógica por trás de um sistema, de um aplicativo, de um processo automatizado, caso contrário, o indivíduo corre o risco de se tornar apenas consumidor de tecnologias.
O Novo Ensino Médio Marista atuará para que o estudante vá além dos vestibulares mais concorridos. Ele preparará os jovens para o futuro, por meio do desenvolvimento da autonomia, do protagonismo, da capacidade de transformação e de compreender o outro e a si mesmo.
*Rony Ahlfeldt, 46 anos, é mestre e doutor em Administração e Diretor-Geral do Colégio Marista Asa Sul.