SOLIDARIEDADE

Alunos do Marista arrecadam itens de higiene menstrual

Unidade da Asa Norte da rede do Colégio Marista arrecadou mais de 700 itens de absorventes e lenços umedecidos para distribuir a pessoas que menstruam, socialmente vulneráveis

Millena Gomes*
postado em 21/09/2021 20:35
 (crédito: divulgação Marista)
(crédito: divulgação Marista)

Um grupo de estudantes do Colégio Marista Asa Norte criou uma campanha de arrecadação de kits higiênicos, contendo absorvente menstrual, para distribuir a meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa, batizada de Projeto Ciclos, arrecadou mais de 700 itens.

O objetivo é evitar as faltas de estudantes mais pobres em salas de aula durante seus dias de fluxo, e minimizar os impactos negativos que a falta de acesso aos itens de higiene feminina causa. Por recorrerem a materiais inapropriados para conter o sangramento — como jornal, pão velho, folhas de árvores, pedaços de pano —, essas meninas e mulheres ficam sujeitas a doenças graves e infecções.

Saúde pública e direitos humanos

Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à higiene menstrual um direito que precisa ser tratado como questão de saúde pública e de direitos humanos. Um levantamento da ONU, sobre pobreza menstrual, feito em maio deste ano, revela que pelo menos uma em cada quatro meninas faltam à escola no período menstrual por não terem acesso ao uso dos absorventes.

No Brasil, pelo menos 713 mil meninas vivem sem acesso à higiene e cuidados pessoais em casa e mais de 4 milhões não têm itens de cuidados menstruais nas escolas. No relatório, a ONU faz um alerta para o fato de que a pobreza menstrual “pode causar desconfortos, insegurança e estresse, contribuindo assim para aumentar a discriminação que meninas e mulheres sofrem. Põe em xeque o bem-estar, desenvolvimento e oportunidades para as meninas, já que elas temem vazamentos, dormem mal, perdem atividades de lazer, deixam de realizar atividades físicas; sofrem ainda com a diminuição da concentração e da produtividade”.

IBGE

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, do IBGE, a média de idade da primeira menstruação nas mulheres brasileiras é de 13 anos, sendo que quase 90% delas têm essa primeira experiência entre 11 e 15 anos de idade. Assim, a maioria absoluta das meninas passará boa parte de sua vida escolar menstruando. Com isso, perdem, em média, até 45 dias de aula, por ano letivo, como revela o levantamento “Impacto da Pobreza Menstrual no Brasil”, encomendado por uma marca de absorvente e feito pela consultoria Toluna.

“Os produtos de higiene feminina são essenciais todos os meses durante anos na vida de uma mulher, mas, mesmo assim, muitas nunca tiveram acesso a um absorvente e precisam lidar com seu ciclo menstrual da forma que conseguirem”, afirma Júlia Persegona, estudante do 3º ano do ensino médio.

“O Projeto Ciclos abriu meus olhos para a situação de pobreza menstrual e me fez perceber que algo tão básico na minha vida é um privilégio, mesmo que não devesse ser. Assim, espero que as nossas arrecadações, consigam ajudar quem precisa lidar com a pobreza menstrual a cada ciclo e trazer mais visibilidade para esse problema”, enfatiza a estudante.

A arrecadação, que começou no dia 13, juntou até o momento 708 pacotes de absorvente e 78 pacotes de lenços umedecidos, e segue até dia 24, no Colégio Marista Asa Norte (SGAN 702 Conjunto B, Asa Norte). A instituição está arrecadando absorventes preferencialmente com abas e lenços umedecidos. Contudo, protetores de calcinha como absorvents diários, internos e noturnos não serão arrecadados.


Os estudantes voluntários montarão um kit com os absorventes, lenços umedecidos mais panfleto informativo com informações básicas de higiene menstrual e os entregarão para o Instituto Vem Vencer, a cargo da distribuição para famílias vulneráveis.

Para a vice-diretora pedagógica do Colégio Luciana Winck, a iniciativa destaca o protagonismo dos estudantes do Colégio. “A campanha e a entrega dos kits não têm caráter apenas assistencial, mas educativo. Isso demonstra a empatia e o olhar sobre a existência do ser humano e suas condições, isso faz parte dos valores trabalhados pelo Colégio e que refletem nas ações dos nossos estudantes”, diz.

Projeto no Senado

O Senado aprovou, na última terça-feira (14), um projeto que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias. O projeto da Câmara, da senadora Zenaide Maia (Pros-RN), foi aprovado e agora segue para sanção presidencial.

Para a deputada, “são muitas meninas e mulheres em uma situação dessa. É uma coisa triste de a gente ver. É uma urgência porque, como foi falado aqui, é a promoção da saúde, é a promoção da educação. A cada quatro crianças, uma não frequenta as aulas durante o período menstrual porque não tem absorvente. Não tem o mínimo item necessário à higiene menstrual”, disse ela à Agência Senado.

O texto do projeto da senadora Zenaide Maia será analisado com outros três propostas que também estão na fila para sanção: o PL 1.666/2021, do Senador Paulo Paim (PT-RS), que assegura o acesso gratuito às mulheres em idade reprodutiva a absorventes; o PL 2.400/2021, do Senador Jorge Kajuru (Podemos-GO), que institui a Política Nacional de Combate e Erradicação da Pobreza Menstrual; e o PL 2.992/2021, da Comissão de Direitos Humanos (CDH), que inclui os absorventes entre os insumos da assistência farmacêutica integral prestada pelo Sistema Único de Saúde.

*Sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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