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Ritmo de cada criança deve ser respeitado pelos pais e educadores

Escola e família devem estar em sintonia para ajudar, pedagógica e emocionalmente, crianças e adolescentes com transtornos de aprendizagem, como dislexia e TDAH

Dentro do ambiente escolar, cada criança aprende no próprio ritmo, e é notável que umas têm mais facilidades que outras. Até certo ponto, a diferença é normal e esperada. O problema acontece quando alguns alunos demonstram dificuldade maior por causa de transtornos de aprendizagem, que atingem milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Os principais são transtorno do deficit de atenção com hiperatividade (TDAH), dislexia, discalculia e disgrafia. As condições se caracterizam pela dificuldade do aluno em ler, escrever, ficar quieto ou alguma outra disfunção comportamental, como agressividade.

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O diagnóstico de transtornos de aprendizagem é extremamente importante para entender qual auxílio a criança precisa durante a vida escolar e até depois. No entanto, o neurologista Carlos Uribe, do Hospital Brasília, explica que não existem exames, como testes de sangue, de imagem ou de neurofilosofia, que consigam dar um diagnóstico preciso. Ele é, basicamente, clínico.

“É necessário fazer alguns exames para descartar outras condições. Inclusive, na dislexia, é sabido que há algumas áreas do cérebro que são bem específicas, chamadas epicentros para a função de leitura, que, em alguns casos, de uma hora para outra, a pessoa perde a capacidade de ler. Daí, temos de investigar se não houve lesão cerebral dessa parte responsável pela leitura, por exemplo”, alerta.

Para TDAH, os sintomas geralmente aparecem antes dos 12 anos. “Existem alguns casos mais leves, que mostrarão os sintomas de desatenção mais tardiamente, conforme a criança vai se desenvolvendo. Há, também, o diagnóstico em adultos, mas os sintomas, provavelmente, já começaram na infância, mesmo que não tenham causado uma situação intensa e prejudicial na época”, explica Uribe.

O neurologista aponta que os principais sintomas são, em idades menores, comportamento hiperativo, impulsividade, não conseguir ficar quieto, agressividade. Contudo, o especialista alerta que é sempre importante considerar o contexto. “Uma criança pequena não tem autocontrole ainda. Então, é preciso se perguntar: esse comportamento é aceitável ou realmente é diferente para a idade dela?”.

O papel da escola


Transtornos de aprendizagem, como a dislexia e o TDAH, exigem acompanhamento mais próximo da escola para que a criança ou o adolescente consiga se desenvolver sem intercorrências. No Colégio Presbiteriano Mackenzie, uma das maneiras encontradas para estar mais perto dos estudantes foi por meio Programa de Inclusão do Mackenzie, criado em 2018. O núcleo tem como objetivo auxiliar os alunos que necessitem de acompanhamento para realização de algumas atividades ou durante todos os dias na escola.

Vânia Peralta, coordenadora do programa, explica que atende diversos tipos de crianças, desde as diagnosticadas com deficit de atenção, hiperatividade até estudantes com deficiências intelectuais e transtorno do espectro autista. “Fazemos intervenções mais diretas, como provas adaptadas. Em alguns casos, realizamos a prova com mediação de um profissional, que auxilia na compreensão do enunciado”, detalha.

Além disso, o acompanhamento de perto serve para observar como eles estão se sentindo. “Alunos com TDAH, por exemplo, são propensos a terem depressão, autoestima baixa, porque são tachados de irresponsáveis, pessoas pouco inteligentes, e não é verdade. Não podemos assistir a isso passivamente. Não é um problema de inteligência, é de funcionamento”, ressalta. Por isso, o trabalho do programa de inclusão é voltado para os aspectos acadêmicos, mas também emocionais, e envolve psicólogos e pedagogos.

Gabriel Pessoa de França, 24 anos, diagnosticado com dislexia e TDAH na idade escolar, acredita que essa assistência o teria ajudado na infância. “Ainda lembro das poucas ocasiões em que um professor, ao tentar ajudar, acabava chamando mais atenção da turma para o meu problema, e isso era usado como motivo de bullying pelos colegas. Com pouco conhecimento sobre as condições, eu acabava só me sentindo inferior ao resto da turma. Por isso, acho que o acompanhamento deve ser implementado junto à educação sobre o TDAH e a dislexia nas salas de aula”, afirmou.

Diagnóstico


A graduação em pedagogia ajudou Adriana Amaral, 49 anos, a identificar possíveis transtornos no filho Luís Eduardo Amaral, 15 anos, quando mais novo. “Como já tinha estado em sala de aula por muito tempo, percebia algumas características dele, como a fala muito elaborada, o fato de ser muito agitado. Foi quando a escola me procurou, porque a professora notava uma dispersão muito grande.” Na época, Luís Eduardo tinha 4 anos. A procura pelo diagnóstico precoce foi essencial.

“O laudo definitivo, que concluiu que ele tinha TDAH e distúrbio do processamento auditivo central (DPAC) severo, veio depois de uma caminhada de três anos”, conta Adriana. A alfabetização foi a fase mais difícil, já que o diagnóstico ainda não estava fechado. A ajuda veio dos professores, de outros profissionais e também de medicações, indicadas para alguns casos.

Adriana acredita que a parceria entre os pais e a escola é essencial para o aluno com transtorno de aprendizagem, como aconteceu com Luís Eduardo, que estuda no Mackenzie desde os 4 anos. “Com o núcleo de inclusão, eu me senti amparada, porque eles estão sempre checando se está tudo dando certo, com profissionais de psicologia, de pedagogia.”

Em setembro, o Senado debateu, em audiência pública remota, o Projeto de Lei 3517/19, que “dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou TDAH ou outro transtorno de aprendizagem”, no âmbito das escolas da educação básica das redes pública e privada. Na ocasião, integrantes dos ministérios da Educação e da Saúde, além de representantes de conselhos de classe e da sociedade civil, expuseram a importância da proposta, que aguarda votação no plenário do Senado.

A relatora do projeto, senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), acredita ser de suma importância que crianças, jovens e adultos possam receber apoio de acordo com suas características e especificidades. Ela ressalta que a ideia não é excluir esses estudantes. “Que fique claro que o objetivo do PL não é incluir esses alunos na educação especial, mas, sim, que eles possam acompanhar todos os estudantes. Não se pode dizer que vão ficar estigmatizados por essa proposta, pois eles já são tachados de burros, marginais.”

De acordo com a ex-professora e especialista em educação inclusiva Luciana Reis, os transtornos de aprendizagem trazem para o aluno condições de serem considerados um Estudante com Necessidade Educacional Especial (ENEE) “Mas as políticas educacionais consideram como ENEE as pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação). Logo, o aluno disléxico ou com TDAH não tem atendimento em Sala de Recursos nem adequação curricular, embora suas dificuldades sejam intimamente prejudiciais ao processo educacional”, lamenta.

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