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Vivência prática agrega conhecimento e desenvolvimento de habilidades

Com o novo ensino médio, a educação prática ganha um novo protagonismo, e alunos são incentivados a sair dos muros escolares e a experimentar o cotidiano profissionalizante

O ensino médio é visto, por grande parte de pais e alunos, como um momento exclusivo para se preparar para o ingresso no ensino superior. No entanto, o Novo Ensino Médio mostra que esse período da educação básica não deve ser destinado apenas ao estudo de disciplinas teóricas, mas também a vivências e práticas que agreguem conhecimento e desenvolvimento de habilidades pessoais, técnicas e sociais.

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Com a mudança no currículo, o Ministério da Educação (MEC) incentiva escolas a encorajarem alunos a experimentarem novos caminhos por meio de cursos de curta duração, chamados, também, de cursos profissionalizantes. Com alta popularidade nos anos 1990 e parte dos anos 2000, esse tipo de formação era comum entre alunos do ensino médio e auxiliaram, na época, a suprir uma demanda de mercado.

Atualmente, especialistas afirmam que esses cursos se adiantaram e, ligados às tendências de mercado, disponibilizam uma formação em áreas que oferecem bons salários e grande número de vagas. “Hoje, temos cursos de desenvolvimento de aplicativos, criadores de games, videomakers, robótica. É tudo muito atual e que está em alta no mercado”, conta Jefferson Vendrametto, relações corporativas do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac).

Só no ramo da tecnologia, dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostram que 421 mil postos de trabalho serão criados no setor — 100 mil vagas anuais. No entanto, os cursos superiores formam menos de 50 mil novos profissionais na área anualmente.

Assim, as formações profissionalizantes são uma oportunidade de abrir portas nesses ramos prósperos, deixando o aluno do ensino médio à frente de outras pessoas. “Os cursos profissionalizantes mudam o tempo todo para trazer modernidade. Faculdades e colégios técnicos têm currículos engessados, que não lhes permite, com facilidade, atualizar-se com as tendências”, explica Jefferson.

Outra grande vantagem dos cursos é que não é necessário ter conhecimento prévio na área. No curso, o aluno aprenderá a teoria, mas terá uma carga maior de prática e interação com professores que poderão ajudá-lo a compreender melhor o que está sendo feito.

Maicon Douglas, 17 anos, sempre pensou no futuro profissional. O estudante do Centro de Ensino Médio 414 de Samambaia é inquieto e passou os dias da educação básica em busca de novos conhecimentos. Foi dessa forma que ele descobriu a área de gestão administrativa de empresas, que se tornou a primeira da lista de profissões que ele queria seguir.

Na rota certa


Para ajudá-lo a tomar a decisão, ele resolveu, em julho de 2020, conhecer a área no Cebrac de Samambaia. “O Cebrac me convidou a conhecer o local, e meu pai e eu fomos até lá. Eles mostraram o método de ensino, os módulos, e eu fiquei apaixonado. Era tudo o que eu pensava e queria”, lembra.

Perto de concluir o curso, que teve duração de um ano e quatro meses, o estudante comemora a decisão de ter separado um tempo do ensino médio para a formação. “No começo, foi difícil conciliar, mas eu entendo que, se é o que queremos, se eu preciso disso, como eu não tinha tantas oportunidades, eu deveria fazer. E foi muito melhor do que pensei”, declara.

Além da formação profissional, Maicon passou por orientações que o ajudaram a desenvolver competências pessoais. “Antes, eu não conseguia falar com alguém nem por mensagem. Hoje, eu consigo desenvolver uma conversa sem problemas. Eu era tímido, e eles me ajudaram a romper com isso”, conta.

Com as mudanças, ele conquistou, desde fevereiro deste ano, uma vaga de estágio no próprio Cebrac, na área de assistente administrativo. “O Cebrac tem uma agência de empregos, e eu conquistei uma vaga aqui dentro mesmo. Agora, eu também sei como é na prática, e isso é incrível”, pontua.

A formação também ajudou o aluno do 3º ano do ensino médio a ter certeza de que quer continuar a carreira administrativa. “Agora sei que quero fazer também uma graduação em psicologia, para atuar na área de recursos humanos, que é uma função importante de incentivar, acolher e animar funcionários na gestão administrativa.” Certo do que fazer no futuro, Maicon transparece a tranquilidade de quem tem a certeza de que está no caminho certo. “Eu sei o que quero e estou no caminho. Hoje em dia, como estão as coisas, quanto mais tempo a gente perde, mais pra trás a gente fica”, conclui.

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Hora de testar

Para o mestre em educação Vicente Falcão, os cursos profissionalizantes são uma forma de o estudante do ensino médio se conhecer e testar as áreas que pode ter interesse em seguir — seja no ensino superior, seja sem uma graduação. O importante é entender que a última etapa da educação básica é uma boa hora de testar caminhos.

“Com a abertura no currículo do Novo Ensino Médio, o governo federal está, de certa forma, provocando os alunos a terem experiência para irem se conhecendo e saber o que querem — e o que não querem de jeito nenhum. Dessa forma, eles saberão como escolher de forma correta”, explica Vicente. “A oportunidade de fazer cursos é incentivar os filhos a se tornarem mais criativos, empreendedores e cidadãos mais complexos.”

A diretora acadêmica do grupo educacional Santillana, Eny Muniz, concorda e afirma que, apesar de pais terem receio de que um curso ‘tire o foco’ do filho quanto ao ingresso no ensino superior, a oportunidade só tem boas contrapartidas.

“A resposta para quem pergunta sobre ensino médio e cursos, para mim, sempre foi ‘e por que não?’. É muito bom o aluno ter um contato com um curso de fotografia, que o ajuda a ter um quê de profissão, de entender o que é uma carreira; além de despertar habilidades para ver se quer continuar com aquilo para a vida”, conta.

Para além das habilidades técnicas e profissionais, o diretor do Cebrac Jefferson Vendrametto, que recebe vários estudantes do ensino médio nas unidades espalhadas pelo país, vê o profissionalizante como um caminho para o jovem encontrar, também, maturidade emocional. “No curso, ele passará por várias experiências para ajudá-lo a entender qual carreira quer. A formação ajuda a gerar diretrizes e perceber o que ele gosta, a amadurecer quem é”, pontua.

Para Jefferson, mesmo que o pai não queira que o filho trabalhe ou faça um estágio no ensino médio, o curso o ajuda a desenvolver habilidades e o emocional, a partir das práticas, da interação social, dos desafios propostos. “Por isso, acredito ser uma ótima forma de investir um tempo do ensino médio em uma formação do tipo”, declara.

Mente aberta


Com muitas vantagens, pais e alunos podem escolher juntos os cursos profissionalizantes de interesse. No entanto, Vicente Falcão alerta que é preciso que os responsáveis pelos alunos abram a mente e compreendam as novas áreas profissionais disponíveis no mercado e que os filhos possam se interessar.

O especialista conta que, antes de conhecer o campo da educação e seguir nele, o que chama de “sua verdadeira paixão”, passou por um período na faculdade de direito para agradar ao pai. “Eu não queria, mas também não sabia se não queria mesmo. Tentei seguir, mas, no sexto semestre, não conseguia mais ir para a faculdade. Perdi três anos da minha vida porque meu pai achava que o certo, o ideal, era ser um profissional do judiciário, como outros da família’, conta.

“Mas não precisa ser assim. Hoje, temos um futuro pela frente em que muitas profissões, inclusive, não existirão mais. Por isso, os pais devem entender que há outras carreiras, como a de criador de games, que estão em alta, com muita procura e são vantajosas financeiramente”, aconselha.