Ideb-Enem

Ensino de qualidade reduz taxa de homicídio em 25%, além de aumentar a empregabilidade

Pesquisa do Instituto Natura apresenta novo indicador de qualidade no ensino básico nos municípios brasileiros

*Mariana Andrade
postado em 14/03/2022 18:06 / atualizado em 14/03/2022 19:55
 (crédito: Rodrigo Nunes/Esp.CB/D.A Press)
(crédito: Rodrigo Nunes/Esp.CB/D.A Press)

Pesquisa alerta que dificuldades de aprendizado provocam o aumento da reprovação, da evasão e do abandono escolar
Pesquisa alerta que dificuldades de aprendizado provocam o aumento da reprovação, da evasão e do abandono escolar (foto: Rodrigo Nunes/Esp.CB/D.A Press)

O Instituto Natura publicou nesta segunda-feira (14) o estudo Ideb-Enem, que apresenta um novo indicador de qualidade no ensino básico nos municípios. A pesquisa de nome, "Um Novo Índice de Qualidade da Educação Básica e seus Efeitos sobre os Homicídios, Educação e Emprego dos Jovens Brasileiros", é inspirada nos moldes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas a diferença para o novo indicador é a análise da contribuição de cada município para a progressão e o aprendizado dos jovens no seu sistema escolar.

Os indicadores usados no cruzamento de informações foram saúde, segurança, empregabilidade e acesso ao ensino superior. Criado pelo governo federal, o Ideb mede a qualidade do ensino nas escolas públicas. Ele é calculado a partir de dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).


O estudo é encabeçado por Naercio Menezes Filho, professor da Cátedra Ruth Cardoso do Insper, e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e por Luciano Salomão, aluno de mestrado da FEA-USP.

Segundo Naercio, o novo índice pode nortear os municípios na formulação de políticas públicas. “A educação é fundamental para mudar a vida dos nossos jovens. Ela oferece uma certa motivação para a idealização do futuro deles”, afirma o professor.

Para o projeto Ideb-Enem utilizou-se a combinação da proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados nos anos iniciais da educação básica que, entre os 17 e 18 anos, prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), analisando suas notas alcançadas no exame.

Gráfico com a proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados no início da Educação Básica que aos 17-18 anos prestaram o ENEM.
Gráfico com a proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados no início da Educação Básica que aos 17-18 anos prestaram o ENEM. (foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão)

De acordo com o estudo, uma boa gestão de ensino possibilita que uma grande parcela de alunos de uma geração continue estudando até o ensino médio, completando essa trajetória sem atraso, e motivados para realizar o Enem, aumentando, assim, a perspectiva de vida.

No último levantamento do Ideb, em 2019, a nota do Brasil nos anos iniciais foi de 5,7 e 4,6 nos anos finais, e de 3,9 no ensino médio. O índice varia em uma escala de 0 a 10.

Agora, por meio do novo índice, o documento analisou as variações na qualidade do ensino básico, entre 2009 e 2014, que estão relacionadas com diferentes indicadores de saúde, violência e mercado de trabalho de jovens de 22 e 23 anos, entre 2014 e 2019.

“Pensar no que esses municípios fizeram para poder melhorar a sua educação já é um grande passo, se os dados apontam que houve uma melhora durante o período estudado”, comenta Naercio. Ele reforça que para proporcionar uma educação de qualidade, o governo local não pode mudar apenas um indicador. O ideal, afirma, é tentar alcançar a raiz do problema, a educação.

Como resultado geral, o estudo aponta que o aumento de um ponto no indicador Ideb-Enem nos municípios está associado a uma queda de 25% nas taxas de homicídios e óbitos por causas externas, ou seja, provocados pela criminalidade, além de aumento de 200% nas taxas de empregos entre os jovens e ampliação de 15% no número de matrículas no ensino superior.

Óbitos e violência

Ao relacionar indicadores de óbitos e violência com os avanços obtidos nos municípios entre 2009 e 2014, observou-se que os municípios bem-sucedidos ampliam a quantidade de alunos que concluem a educação básica e também a qualidade de sua educação medida pelo novo indicador, levando ao aumento das perspectivas e oportunidades dos jovens de 23 e 24 anos, reduzindo o número médio de homicídios nessa faixa etária.

Tabela com a variação dos indicadores de saúde e violência no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
Tabela com a variação dos indicadores de saúde e violência no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. (foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão)

Ensino Superior

Em relação à correlação do indicador com as taxas de ingresso ao ensino superior, foi possível notar coeficientes positivos e estatisticamente significativos para a variação defasada do índice Ideb-Enem no total de matrículas no ensino superior, especialmente nas matrículas em instituições privadas.

Já para as matrículas em instituições públicas, percebeu-se coeficientes positivos, mas não estatisticamente significativos para a variação do índice. Os efeitos mostram que um aumento de 1 ponto no Ideb-Enem está associado a um acréscimo de 19 matrículas, em média.

Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. (foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão)

Emprego

Os resultados da regressão relacionando a variação do Ideb-Enem com a alteração no número de empregos gerados, mostram que um aumento de 1 ponto no Ideb-Enem provoca aumento de 20 empregos gerados liquidamente (admissões menos desligamentos), em média.

Tabela relaciona a variação do IDEB-ENEM com a variação no número de empregos no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
Tabela relaciona a variação do IDEB-ENEM com a variação no número de empregos no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. (foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão)


*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

  • Tabela com a variação dos indicadores de saúde e violência no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
    Tabela com a variação dos indicadores de saúde e violência no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. Foto: Pesquisa "Um Novo Índice de Qualidade da Educação Básica e seus Efeitos sobre os Homicídios, Educação e Emprego dos Jovens Brasileiros"
  • Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
    Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. Foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão
  • Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos.
    Tabela com a variação do indicador com as taxas de ingresso ao Ensino Superior no período de 2014-2019 para jovens entre 22 e 23 anos. Foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão
  • Gráfico com a proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados no início da Educação Básica que aos 17-18 anos prestaram o ENEM.
    Gráfico com a proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados no início da Educação Básica que aos 17-18 anos prestaram o ENEM. Foto: Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão

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