Inclusão

Diagnóstico de autismo atinge 4,8 milhões de pessoas no Brasil

No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado neste sábado (2), especialistas alertam para a importância da socialização

Arthur Vieira*
postado em 01/04/2022 20:16 / atualizado em 01/04/2022 20:45
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Instituído há 15 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, lembrado todo dia 2 de abril, tem o objetivo de difundir informações para a população sobre o autismo e assim reduzir a discriminação e o preconceito que cercam as pessoas afetadas pelo transtorno.

Dados do estudo estadunidense Autism and Developmental Disabilities Monitoring (ADDM) estimam que uma a cada 44 crianças na faixa etária de oito anos possui algum grau de autismo. Segundo o portal brasileiro Canal Autismo, ao trazer esta proporção para a população brasileira, o número chega a 4,8 milhões.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado comportamental e afeta partes do desenvolvimento psicomotor e social. Os sinais do autismo podem ser observados desde o início da infância, e muitos envolvem dificuldades de coordenação motora, comunicação e interação social, até mesmo no seio familiar.

Os portadores deste transtorno são suscetíveis a conviver com outros problemas emocionais e comportamentais, como ansiedade, Transtrono de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e até a Síndrome do Pânico.

Nas escolas, é necessário que haja um cuidado especial, além de uma maior visibilidade para essas pessoas. Segundo a psicopedagoga Thainara Morales, coordenadora de uma clínica terapêutica para pessoas com transtornos emocionais, no Brasil os estudantes autistas passam por diversas adversidades nas escolas, desde o processo de matrícula até a concentração nas aulas.

Ela conta que muitas escolas chegaram a negar matrículas de pacientes. “Só da minha clínica foram cerca de 30 matrículas negadas”, relata.

Thainara explica que o acompanhamento estudantil de um aluno autista requer uma série de métodos especiais, principalmente acompanhantes, além de adaptação de materiais e até da própria metodologia de ensino. Observa ainda que, para garantir essa assistência, os custos são elevados e muitas escolas não querem arcar com esse tipo de despesa.

Segundo ela, a falta de preparo para receber um aluno autista em salas de aula é gritante, assim como a falta de interesse de capacitação de professores, formulação de políticas públicas de inclusão e recursos financeiros. “A escola deve se adaptar ao aluno, e não o aluno que tem que se adaptar à escola”, alerta.

Além das dificuldades externas, as crianças e jovens autistas sofrem também muito preconceito e bullying dentro da sala de aula, principalmente por conta das dificuldades de interação social que ocorrem naturalmente.

“Tudo para o autista é diferente. Nós, geralmente, aprendemos certas coisas, como sentar numa cadeira, na prática. A gente já desenvolve estas regras involuntariamente, eles não. É preciso todo um treinamento para lidar com pessoas com deficiência”, afirma.

A especialista observa que, já no início da vida, a criança autista enfrenta diversos obstáculos na sua formação. E que a família tem grande responsabilidade nesse processo, desde a aceitação dos pais até despesas adicionais com terapias e outros tipos de auxílio psicoemocional.

“As famílias enfrentam um leão por dia. É preciso cuidar do núcleo familiar, fazer com que os pais aceitem esta situação para, assim, começar o processo de inclusão da criança.”

Ainda segundo ela, o autismo, embora carregue o status de transtorno, não é enquadrado como uma doença. Portanto, não é algo que tenha uma “cura”, mas sim tratamentos para que os portadores do distúrbio não tenham prejuízos em seu desenvolvimento.

Thainara cita como exemplo deles a ABA (análise do comportamento aplicada, na tradução em português), método terapêutico educacional que consiste no ensino adaptado de habilidades, fundamentais para a autonomia do indivíduo, que tem sua eficiência comprovada por diversos cientistas renomados.

Contudo, pondera ela, o custo mensal deste tratamento pode chegar a até 30 mil reais, sendo que a maioria esmagadora dos convênios médicos não cobre esse tipo de procedimento.

Para conseguir atendimento pela rede pública, é necessário entrar com ação judicial, o que dificulta o acesso de muitas famílias. Diante das adversidades, muitos pais acabam se desmotivando na busca por ajuda, o que pode provocar problemas ainda mais sérios para crianças e jovens autistas.

Luta e esperança

O jovem Erick Amaro, 15 anos, obteve ajuda para tratamento  por meio de ação judicial, mas o processo, afirma, foi nada fácil. Nascido e criado em São Bernardo do Campo (SP), ele foi diagnosticado com TEA aos quatro anos e foi recomendado aos pais submetê-lo ao tratamento ABA.

Como somente sua avó, Ana Maria Amaro, 61, possuía um convênio médico, a guarda de Erick teve que ser transferida a ela.

Ana conta que ela e Erick enfrentaram muitos empecilhos para conseguir o tratamento. Segundo ela, a única forma do garoto ter o devido acompanhamento era por meio de consultas disponíveis apenas no centro de São Paulo, distante cerca de 50 quilômetros de casa.

Mas, depois de alguns anos, o convênio passou a oferecer o tratamento na sua cidade, o que facilitou bastante o desenvolvimento do jovem, além de render bons frutos.

“É fantástico observar o desenvolvimento dele desde a efetivação do plano do ABA. Erick já consegue fazer várias atividades com sucesso, além de contar e tentar entender os sentimentos dele e dos outros”, relata.

Contudo, afirma Ana, o neto ainda enfrenta problemas, como a falta de aceitação por outros jovens da sua idade. Ela conta que já presenciou casos de bullying e dificuldade em fazer amizades, tanto no prédio onde mora quanto na escola.

“Não conseguimos fazer amizades. Os meninos não o chamam pra nada e ele se isola. Até fecha as janelas do apartamento quando estão na quadra”, lamenta.

Sem perder a esperança, Ana e Erick continuam passando ótimos momentos juntos, seguindo o ABA passo a passo. “É um misto de amor, responsabilidade, frustração, alegria e muitos desafios. Muitas vezes não sabemos o que fazer. Aprendo muito com ele”, conta, observando que com o processo Erick está adquirindo experiências inovadoras em sua juventude.

"A clínica onde o adolescente faz acompanhamento ofereceu um curso de jardinagem, algo que ele mesmo demonstrou ter muito gosto e jeito", comemora a avó.

*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende 


Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação