Ansiedade na escola

Crise de ansiedade 'coletiva' em escola do Recife pode ter relação com uso excessivo de celular

Estudantes com sintomas de alta ansiedade relataram instabilidades como choro excessivo, falta de ar e tremor

*Mariana Albuquerque
postado em 12/04/2022 19:58 / atualizado em 13/04/2022 15:08
 (crédito: Créditos - Foto Fabiano de Abreu (FAP - Tomorrow Summit))
(crédito: Créditos - Foto Fabiano de Abreu (FAP - Tomorrow Summit))

O uso indiscriminado de celular e da internet pode ter sido a causa da crise de ansiedade 'coletiva' registrada recentemente na Escola de Referencia em Ensino Médio (Erem), na zona norte do Recife (PE). A unidade de ensino acionou o Serviço de Atendimento Móvel Urgência (SAMU) na tarde do dia 8 deste mês, após 26 alunos apresentarem sintomas de crise de ansiedade.

Os estudantes relataram instabilidades como choro excessivo, falta de ar e tremor. Em vídeos que circulam na internet, eles aparecem deitados no chão enquanto são atendidos por socorristas do Samu.
A crise de ansiedade é provocada por algum gatilho, seja durante o dia ou por uma semana estressante. Esse tipo de transtorno, que atinge, em sua maioria, crianças e adolescentes, é caracterizado pela persistência e é considerado o mal do século por psicólogos e psiquiatras.

Mau hábito

De acordo com o PhD em neurociência,Fabiano de Abreu Agrela, o episódio ocorrido na escola pernambucana tem relação direta com o mau uso do celular e das redes sociais. Segundo ele, esses hábitos estão deixando as pessoas menos inteligentes e o excesso de redes sociais revela transtornos de personalidade, problemáticas que tendem se agravar entre adolescentes.

"O que acontece no cérebro é essa intercepção, uma falta de controle emocional que desencadeia disfunções que acarretam atitudes impulsivas”, explica Agrela, analisando como o uso excessivo da tecnologia pode ser a raiz do problema entre os jovens.

No início da pandemia, Agrela alertou que o Brasil seria o maior consumidor de celular do mundo, o que se confirmou no fim do ano passado. "O brasileiro é o povo mais ansioso do mundo, isso tem relação com a violência, diferenças sociais e agora com a pandemia e questões políticas. Excesso de ansiedade conduz à necessidade de sensações de prazer que são mais fáceis de serem exploradas nas redes sociais, mas este ciclo recompensa e ansiedade acentua-se mais já que, para buscar novas e melhores sensações a ansiedade torna-se constantemente acionada. Essa hiperatividade causa diminuição das regiões da emoção e da inteligência no cérebro colocando a vida das pessoas em risco por diversas consequências." disse o cientista.

Alertou também que o apego exagerado dos jovens com o celular chega a ser até doentio, se tornando uma necessidade incontrolável da qual a pessoa não consegue se livrar. Segundo ele, isso ocorre há muitos anos, mas vem ganhando mais alarde após casos como o dos estudantes do Pernambuco.

Política educacional

O especialista considera ser de extrema urgência a formulação de uma política educacional para combater esses excessos.“Esse acesso descontrolado muda a química cerebral, sobretudo quando essas crianças ainda estão em fase desenvolvimento. Esse tipo de vício é explicado pelo hormônio da dopamina, que é conhecida como neurotransmissores da recompensa.”

A psicóloga e professora Viviane Marçal acredita que a tecnologia deve ser uma aliada da escola e não inimiga da educação e dos alunos. “A escola precisa ser um lugar seguro, para que os alunos saibam gerir crises sociais e lidar com os projetos de vida para que o futuro não seja assustador”, afirma.
Segundo ela, a mentalidade da juventude mudou durante a pandemia e a maioria dos colégios não estava pronta para essa mudança. “Durante os dois anos da pandemia esses adolescente estavam isolados em casa. Nesse período, as mudanças de humor, os problemas sociais e econômicos foram latentes. É preciso saber como lidar com a volta do ensino presencial. Isso não pode ser ignorado pelos pais e pela escola", alerta.

*Sob supervisão de Jáder Rezende

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