Eu, Estudante

Água potável

Estudantes baianas criam sistema de purificação usando semente de moringa

Alunas vão representar o Brasil na maior feira de ciências e engenharia do mundo, em maio, nos Estados Unidos

Três estudantes da Escola Sesi de Barreiras (BA) desenvolveram um processo inovador de filtragem de água que pode beneficiar milhares de pessoas sem acesso à água potável, utilizando pastilhas produzidas com sementes de moringa, espécie também chamada de árvore da vida ou acácia branca. Com o projeto Pastilhas Filtrantes, elas foram premiadas recentemente na 20ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), e conquistaram vaga para participar da maior feira de ciências e engenharia do mundo, que acontece em maio nos Estados Unidos.

O processo teve início no ano passado, quado as estudantes Ana Luiza Oshiro, 16 anos, Maria Eduarda Brandão, 16, e Sarah Fernandes de Oliveira, 17, decidiram criar um processo rápido e barato para garantir água tratada para consumo para moradores de comunidades da região onde moram, banhada pelo Rio Grande.

Sabedoria popular

“A moringa é uma espécie muito comum aqui na região. A gente ouvia falar dos seus benefícios para a saúde e que também servia como filtro. Como aqui tem muitas comunidades ribeirinhas que não têm acesso à água potável, buscamos uma solução que fosse acessível a essa população”, disse Maria Eduarda, ao Correio.

Pelo processo inovador, foi comprovado que uma pastilha de 1gm consegue filtrar até 500 ml de água, podendo ser também proporcionado a quantidade. Além disso, todo o processo de coagulação das partículas da pastilha acontece de forma muito rápida, em torno de 12 a 24 horas.

Inicialmente, segundo Maria Eduarda, a pesquisa e os testes eram feitos em casa, por conta da pandemia. “Tanto os testes quanto os experimentos eram feitos de forma caseira”, conta. Porém, com o incentivo,  os testes começaram a ter maior comprovação científica. Com isso, as estudantes passaram a contar com o apoio do professor pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Enoc Lima do Rego e, ainda, ter acesso a laboratórios da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob).

“Temos vários planos. Queremos fazer pesquisa de campo, levar o nosso projeto o mais longe possível. Até o dia da viagem tem muito o que ser feito. Queremos desenvolver um trabalho ainda melhor do que o que apresentamos na Febrace”, conta Sarah. “O projeto ficou mais complexo. Com a bolsa e o retorno das atividades presenciais, no ano passado elas conseguiram usar os laboratórios da escola, fizeram testes físicos e de microbiologia”, disse a coorientadora Felina Bulhões.

Testes laboratoriais

No desenvolvimento do o projeto, suas idealizadoras fizeram testes físico-químicos e microbiológicos, que comprovaram a eficácia na eliminação de coliformes totais e toda bactéria E. Coli, que habita naturalmente o intestino das pessoas e de alguns animais, sem que haja qualquer sinal de doença, mas é nociva quando ocorre consumo de alimentos contaminados, causando gastroenterite com diarreia intensa e com muco ou sangue.

“Nossa meta é que todas as populações carentes tenham acesso a esse tipo de tratamento, que esse estudo possa ajudar a vida de outras pessoas ao redor do país e, quem sabe, até do mundo”, diz Maria Eduarda.

Além do primeiro lugar na 20ª edição da Febrace, elas conquistaram, com o mesmo projeto, prêmios de destaque, primeiro lugar em Ciências Biológicas, prêmio destaque Unidades da Federação, e prêmio da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq). A feira internacional em que els representarão o Brasil - International Science Engineering Fair – Regeneron ISEF -, acontece entre 7 a 13 de maio, em Atlanta.

Expectativa

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso à água potável. No Brasil, segundo o Instituto Trata Brasil, cerca de 83% da população brasileira é atendida com abastecimento de água potável. Porém, os outros 17% (mais de 30 milhões de pessoas, sendo 14% crianças e adolescentes) não têm acesso à água pura.

As garotas, que nunca estiveram fora do país, contam sobre a ansiedade de participar da feira nos Estados Unidos. “Ficamos muito felizes, nunca viajamos de avião e ainda teremos a oportunidade de conhecer pessoas do mundo todo, em uma experiência maravilhosa. Estamos resolvendo os processos de formulários, passaporte e documentação, mas toda essa correria tem uma satisfação muito especial” diz Ana Luíza.

Agora, além de solucionar questões práticas, como passaportes e vistos, as alunas passam a semana aprimorando o projeto e preparando o material que será apresentado em Atlanta.

 

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende