SEM AULAS

Escolas de Brazlândia estão sem professores

Por meio de métodos alternativos, profissionais tentam suprir a falta de professores formados em matemática. Secretaria de Educação do DF deve realizar concurso público para efetivos até julho

*Mariana Andrade
postado em 30/05/2022 16:38 / atualizado em 30/05/2022 20:45
Escola adotou a circulação da apostilas de matemática entre os alunos para arcar com os prejuízos pedagógicos -  (crédito: Divulgação/CED Incra 08)
Escola adotou a circulação da apostilas de matemática entre os alunos para arcar com os prejuízos pedagógicos - (crédito: Divulgação/CED Incra 08)

Escolas da Região Administrativa (RA) de Brazlândia estão sofrendo com a falta de professores desde o início do ano letivo. Além do Centro Educacional Incra 08, localizado na área rural, onde os alunos estão sem professores de matemática desde fevereiro, o Centro de Ensino Fundamental 01 também está sem docente na sala de aula do 9º ano. De acordo com a Secretaria de Educação, a alta demanda impossibilitou o remanejamento de professores na região de Brazlândia, reflexo da falta de profissionais no banco de docentes. Segundo a pasta, há carência de docentes para as disciplinas de matemática, física e artes e língua estrangeira na rede de ensino. 

Desde fevereiro deste ano, o Centro de Educacional Incra 08, localizado na área rural de Brazlândia, está sem professor de matemática. De acordo com a diretora Solange da Cunha Pereira, foi necessário lançar mão de método alternativo para reduzir o prejuízo pedagógico de dezenas de estudantes.

Como ninguém da equipe que compõe a secretaria e a coordenação têm formação na disciplina, a diretora se viu obrigada a solicitar a ajuda do professor por prazo determinado (PD) com licenciatura plena em matemática, para desenvolver apostilas de estudo e correções para as turmas afetadas. “A gente sabe que não é o ideal, mas é uma forma de amenizar a perda dos alunos. Não há como recuperar esse tempo. O conhecimento da matemática é fundamental para a vida inteira”, afirma a Solange.

“A gente sente muita dor no coração. Os alunos perderam para sempre esse aprendizado. Mesmo com o empenho da equipe não é possível resolver todas as lacunas”, lamenta a diretora.

"A gente sente muita dor no coração", lamenta Solange, diretora do CED Incra 08 de Brazlândia
"A gente sente muita dor no coração", lamenta Solange, diretora do CED Incra 08 de Brazlândia (foto: Arquivo pessoal)

A falta de reclamação por parte dos responsáveis dos estudantes é outro fator que surpreendeu a diretora. Segundo ela, isso ocorreu somente nos primeiros quinze dias de aulas. "Essa cobrança e participação familiar é muito significativa na luta", frisa.

Ainda segundo Solange, não é a primeira vez que a instituição aponta falhas da Secretaria de Educação. Ela reivindica melhorias e transparência na comunicação com as escolas e lembra que sempre houve uma tentativa de compreender a situação, porém, nunca houve existe um retorno claro. “Estou nessa escola há 19 anos, e nunca vi isso”, revela. O Correio não conseguiu ouvir a direção do Centro de Ensino Fundamental 01 de Brazlândia.

O que diz os estudantes

A estudante Clarice Silva, 17 anos, lamenta a falta de aulas de matemática no CED Incra 8 de Brazlândia. “Está sendo muito difícil, não só para mim, mas para todos os meus colegas. A gente não consegue acompanhar o conteúdo, mesmo com a iniciativa da escola”, diz.

Passar um bimestre inteiro sem aulas da disciplina, segundo Clarice, está atrapalhando o aprendizado em outras matérias que requerem conhecimentos de matemática, como física e química.

Para Clarice, estudar sozinha, em casa, além de ser desafiador, não traz muitos resultados, uma vez que não há possibilidade de acompanhamento com professores formados na área. Porém, afirma, a turma se mostra empenhada em ajudar mutuamente os colegas. “Confesso que não sou muito boa em matemática, mas minha amiga que tem facilidade faz as atividades comigo. E o pessoal da turma sempre está disposto a trocar esses favores”, revela.

Agora, ela implora pela contratação de professores, pois com o desaproveitamento didático, os estudantes da escola não terão como rever possíveis conteúdos que serão cobrados no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e no Programa de Avaliação Seriada (PAS).

Na última semana, a Secretaria de Educação nomeou mais 100 monitores, totalizando 671. Já foram solicitadas as nomeações de mais 1.318. A lei que criou o cargo previa 2 mil profissionais. A distribuição ocorre conforme as necessidades dos estudantes.

De acordo com o órgão, foram selecionados 4.100 educadores sociais voluntários para este ano, e a distribuição também acontece de acordo com as necessidades dos estudantes. Ainda segundo a secretaria, casos pontuais de falta de professor são sanados pelas regionais de ensino com a contratação de temporários, que tem um banco de 32 mil docentes. Porém, o número de aprovados no último concurso para alguns componentes curriculares não foi suficiente e, por isso, será realizado um processo seletivo complementar.

A Secretaria de Educação publicou em seu site a realização do Processo Seletivo Simplificado Complementar, visando suprir a carência de professores nas RA’s. O objetivo, de acordo com  a publicação, é contratar professores substitutos para a rede pública. As inscrições serão on-line, e ocorrerão de 6 a 10 junho, no site da banca organizadora. As informações da seleção foram publicadas no Diário Oficial do DF na terça-feira (24).

O novo processo seletivo ocorre em junho devido ao baixo número de aprovados no último concurso para professor substituto. A quantidade de profissionais aprovados não supriu a carência da rede pública em alguns componentes curriculares. As principais carências são de professores de matemática, física, artes e língua estrangeira.

Eles serão designados nos bancos de reserva vinculados às 14 Coordenações Regionais de Ensino (CREs): Brazlândia, Ceilândia, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Plano Piloto/Cruzeiro, Recanto das Emas, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Sobradinho e Taguatinga.

 

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