REPERCUSSÃO

Escola se posiciona sobre demissão de professor que usou tirinha de jornal

Por meio de nota, Colégio Visão afirma que "veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar".

Jáder Rezende
postado em 30/06/2022 17:31 / atualizado em 30/06/2022 20:01
Fachada do Colégio Visão de Goiânia -  (crédito: Bianca Alcântara do Nascimento)
Fachada do Colégio Visão de Goiânia - (crédito: Bianca Alcântara do Nascimento)

O Colégio Visão, de Goiânia (GO), se posicionou nesta quinta-feira (30) sobre a demissão do professor de sociologia Osvaldo Machado da Silva Neto, 41 anos, afastado de suas funções por utilizar em uma prova tirinhas do cartunista André Dahmer, da Folha de S. Paulo, uma delas fazendo referência a atuação da polícia paulista. Por meio de nota, a assessoria da instituição informou que a escola proíbe manifestações ideológicas. "A escola possui um código de conduta que veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar. A direção do colégio mantém um canal de diálogo aberto com alunos e familiares, sempre pautando suas ações no código de conduta", diz a nota.

Na manhã desta quinta, alunos do colégio voltaram a promover protesto pedindo a recontratação do docente. O episódio ganhou repercussão após a publicação de um vídeo do influenciador e pré-candidato a deputado federal, Gustavo Gayer, em uma de suas redes sociais. No vídeo, Gayer acusa o professor de “doutrinação política”. “O professor de sociologia ensinando para os jovens que a polícia causa barbárie. Odeia a polícia, mas ama os bandidos”, disse, na gravação postada segunda-feira.

Além dos atos, promovidos nesta quarta e quinta-feiras, manifestantes picharam a parede da escola com frases de protesto, como “censura não” e "justiça por Osvaldo”. As pichações foram cobertas logo pela manhã, com lençóis, por funcionários.

Alunos protestam para escola recontratar o professor de sociologia
Alunos protestam para escola recontratar o professor de sociologia (foto: Arquivo pessoal)

Osvaldo Machado, que mora em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e viaja duas vezes por semana para Goiânia para trabalhar em duas escolas da rede privada, lecionava há seis anos no Colégio Visão. Segundo ele, no Colégio Simbios, onde também atua, recebeu total apoio da direção, do corpo docente e dos funcionários.  O professor disse que viu o vídeo de Gayer na segunda pela manhã e foi informado sobre sua demissão no dia seguinte. “Esse vídeo produziu enorme desconforto. A questão na prova, com a utilização da tirinha, não era sobre polícia ou bandido, mas sobre o aspecto do estado”, disse, observando que a prova foi aplicada somente para seis alunos de recuperação.

 

Os alunos do colégio enviaram uma carta ao Grupo SEB, que administra a escola, defendendo a readmissão do professor e se posicionando contra as informações divulgadas por Gayer.

O cartunista André Dahmer também se manifestou em uma rede social sobre o episódio. "O colégio Visão não sabe, mas meu trabalho aparece com frequência em concursos públicos e vestibulares. Em 2011, um dos meus quadrinhos foi tema de redação do Enem", frisou. Durante os protestos dos alunos, a publicação do cartunista foi reproduzida em cartazes espalhados pela escola.

O episódio remete ao ocorrido neste ano com um professor de ensino médio, também de sociologia, da rede pública do Distrito Federal, enxovalhado por deputados distritais e pela Secretaria de Educação do GDF, por usar em suas aulas a cartilha da personagem Niara, do cartunista Aroeira, explicando a necessidade de tributação de grandes fortunas.

O colégio Visão encerra as atividades letivas do semestre nesta semana. O Correio tentou ouvir o influenciador Gayer e a diretora da escola, Any Rezende, mas eles não se manifestaram até a publicação desta matéria.


  • Fachada do Colégio Visão de Goiânia
    Fachada do Colégio Visão de Goiânia Foto: Bianca Alcântara do Nascimento
  • Alunos protestam para escola recontratar o professor de sociologia
    Alunos protestam para escola recontratar o professor de sociologia Foto: Arquivo pessoal
  • Profissionais da escola cobrem cartazes com mensagens solicitando o retorno do professor
    Profissionais da escola cobrem cartazes com mensagens solicitando o retorno do professor Foto: Arquivo pessoal
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