Ciência

Estudante do Ceará é bronze nas olimpíadas de física e química

Rafael Ribeiro é o primeiro brasileiro a subir ao pódio nas duas olimpíadas internacionais no mesmo ano

Giulia Neves*
postado em 01/08/2022 21:56 / atualizado em 03/08/2022 15:05
Rafael Moreno Ribeiro, à esquerda. O estudante de 17 anos é o primeiro brasileiro a levar medalhas nas olimpíadas internacionais de física e química -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Rafael Moreno Ribeiro, à esquerda. O estudante de 17 anos é o primeiro brasileiro a levar medalhas nas olimpíadas internacionais de física e química - (crédito: Arquivo Pessoal)

O estudante Rafael Moreno Ribeiro, de 17 anos, é o primeiro brasileiro a conquistar, ao mesmo tempo, medalhas nas olimpíadas internacionais de física e química. Aluno do terceiro ano do ensino médio, ele  levou duas medalhas de bronze nas últimas edições da Olimpíada Internacional de Física (IPhO), na Bielorrússia, e na Olimpíada Internacional de Química (IChO), em Tianjin, na China, que ocorreram em julho deste ano. O estudante não teve a chance de viajar para os países onde as competições ocorreram. As provas foram aplicadas no Brasil em razão da guerra na Ucrânia, território próximo à Bielorrússia, e do lockdown na China por covid-19. 

Em competições brasileiras, Rafael se classificou em primeiro lugar na Olimpíada de Química e, em segundo lugar, na de Física, credenciando-se a representar o Brasil nas olimpíadas internacionais. O estudante conta que se inteirou da classificação para as olimpíadas internacionais antes da hora, quando, junto com a namorada, acompanhou a live da Olimpíada Brasileira de Física (OBF) e os organizadores vazaram o resultado. “Fiquei comemorando sem ninguém entender, porque só eu vi o resultado”, disse.

A trajetória de Rafael em olimpíadas começou ainda no ensino fundamental. O estudante passou a participar de competições estaduais e nacionais no oitavo ano. Segundo ele, as medalhas conquistadas serviram de impulso para prosseguir nos estudos. “Comecei por curiosidade, mas depois tive os resultados como incentivo”, afirma.

O caminho da ciência

Rafael conta, ainda, que sua paixão pela física e pela química não foi instantânea. Afirma que as fórmulas e teorias o conquistaram aos poucos e quando menos esperava passou a enxergar beleza onde muitos vivem um drama. "Não entendia nada, mas tentava. No começo não tinha muita vontade, achava chato, mas com o tempo fui tomando gosto, passei a gostar bastante. Meu irmão me dava aulas e, com o tempo, fui aprofundando e comecei a achar aquilo muito bonito.”

Ele atribui ao irmão o estímulo recebido para chegar nos pódios das competições. Felipe Ribeiro é dois anos mais velho e, agora, está se preparando para entrar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os dois compartilham o gosto pela ciência e são muito próximos. “Para mim, ele sempre foi um grande amigo e modelo. É a pessoa para quem eu sempre conto o que faço, não só assuntos acadêmicas, mas até sobre relacionamentos. Ele me incentivou, deu o pontapé inicial, e depois foi um mentor”, afirma.

Durante sua trajetória, o estudante precisou abrir mão até mesmo da convivência com a família. Em 2020, quando iniciava o ensino médio, conseguiu uma bolsa de estudos no Colégio Ari de Sá, com sede em Fortaleza (CE). Foi quando saiu de Salvador, sua cidade natal, aos 14 anos, para morar com outros colegas na mesma situação. “Deixei a família para trás, meus pais, meu irmão mais novo, meus amigos”, recorda.

O estudante explica que colégios como o Ari de Sá buscam talentos por todo o Brasil, oferecendo bolsas de estudo e moradia, como forma de incentivar os estudos. “Tem gente da Bahia, de Sergipe, Piauí, São Paulo, Santa Catarina, Brasília. Em Fortaleza cresci bastante, não só academicamente, mas como pessoa. Consegui me ressaltar mais, tinha que me ressaltar mais.”

Rafael afirma que, apesar da saudades de casa, faria tudo de novo. “Foi muito único, é muito recompensador o resultado.”

Família e realização pessoal

Rafael Moreno Ribeiro com amigos. O estudante é o segundo da esquerda para a direita
Rafael Moreno Ribeiro com amigos. O estudante é o segundo da esquerda para a direita (foto: Arquivo Pessoal)

A classificação para as olimpíadas internacionais foi motivo de celebração na família de Rafael. Ele diz que ter sido pioneiro na ciência foi muito emocionante. “Para mim é bizarro. Eu não tinha certeza se eu passaria nem para as provas, porque o processo é muito rígido. Cada resultado, cada classificação foi uma festa. Foi muito emocionante poder ter sido o primeiro brasileiro a fazer algo desse tipo”, disse.

Escolhas para o futuro

Ainda no terceiro ano do ensino médio, Rafael revela seus planos para o futuro. Com aptidão para matemática, física e química, o estudante ainda coloca como opção uma quarta via: a computação. Seu sonho é estudar no exterior, se possível no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Em fase de entrevistas para conseguir auxílio no processo de aplicação para universidades do exterior, ele destaca que o futuro ainda é incerto, pois o processo é complicado e bastante caro. Mas nada disso o impede de tentar. "Gosto muito de me desafiar.´E este é um desafio muito grande. Alguns amigos já foram e serviram de inspiração. A experiência deve ser muito legal, estudar lá fora com gente do mundo todo. Aqui eu já acho muito ‘nossa!’ a troca de culturas. Se é assim em escala nacional, imagine em escala mundial”, disse.

A possibilidade de estudar o que gosta sem, necessariamente, seguir o caminho da física ou da química pesa para o estudante. Ele entende que, com grade mais maleável, as universidades do exterior permitem a escolha da graduação tardia. “Como estou um pouco indeciso quanto ao curso, já ajuda um bocado”, brinca.

A desvalorização da ciência no Brasil também afeta a escolha de Rafael. “Não é de hoje que a ciência não é valorizada no país. Fico triste vendo pessoas dizerem que nunca usaram, por exemplo, a fórmula de Bháskara e questionando o porquê de estudar na escola. A ciência tem tanto espaço para crescer, tantas coisas no nosso dia a dia dependem 100% do avanço científico e, infelizmente, a gente não vê isso no Brasil", lamenta.

Mas Rafael promete voltar. Talvez o mercado da ciência nacional fique como um destino distante. “Eu quero a experiência de morar lá fora, mas quero poder voltar e ajudar no futuro. Tentar ao máximo, porque sei que uma pessoa sozinha não consegue mudar muita coisa, mas eu amo demais esse país.”

Medalhas conquistadas por Rafael Ribeiro em competições científicas

Ouro Olimpíada Brasileira de Química Júnior (OBQJr) - 2019;
Ouro Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) - 2021;
Ouro Olimpíada Norte/Nordeste de Química - 2021;
Ouro Olimpíada Nacional de Ciências (ONC) - 2019, 2020 e 2021
Medalha de Honra ao Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) - 2021;
Ouro Olimpíada Brasileira de Física (OBF) - 2019;
Ouro Olimpíada Brasileira de Física (OBF) Bahia - 2019;
Ouro Olimpíada de Matemática do Estado da Bahia (OMEBA) - 2019;
Ouro Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) - 2016 e 2018;
Prata Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) - 2017.

 

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

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