Bicentenário da Independência

Alunos do CEF 404 editam jornal sobre o Bicentenário da Independência

Em "A Voz do Imperador", estudantes lançam mão da criatividade ao abordar a representatividade feminina no processo histórico de separação entre Brasil e Portugal

Nathalia Sarmento*
postado em 05/09/2022 16:50
 (crédito: Nathalia Sarmento )
(crédito: Nathalia Sarmento )

Alunos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 404 de Samambaia Norte se uniram para editar um jornal em homenagem aos 200 Anos da Independência do Brasil. O Jornal A voz do Imperador foi produzido pelos alunos do 8° ano do ensino fundamental, com a chancela do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF). Serão distribuídos 130 exemplares durante as comemorações da Semana da Pátria.

Além do conteúdo sobre Dom Pedro I e José Bonifácio, os estudantes tiveram a iniciativa de abordar a importância da representatividade feminina no processo da independência, além de fazer um contraponto entre a superficialidade das pinturas da época sobre fatos históricos, com publicações de imagens nas redes sociais.

O projeto editorial teve a curadoria da professora de história Jeidma Marinho e de outros docentes. A ideia inicial do projeto surgiu quando a professora, com mais de 14 anos na área, ministrava aulas sobre o Brasil Império.

Ela lembra que, em uma dessas aulas, falou sobre a proximidade da data comemorativa e um dos alunos disse que havia visto moedas comemorativas do Banco Central sobre o tema, sugerindo que a escola produzisse algo que lembrasse o fato histórico. Em conjunto, eles tiveram a ideia de dedicarem um jornal a data.

A professora conta que abriu um processo seletivo para a edição do jornal, oferecendo 47 vagas aos interessados em participar do projeto. Em seguida, dividiu os alunos em equipes. “Após a divisão, montei um grupo nas redes sociais, o que facilitou bastante o processo de produção. Por lá, conseguia enviar sugestões de leituras, sites para pesquisas e ainda um material para instigar a curiosidade deles”, disse Jeidma.

Ela afirma que o processo editorial foi integralmente realizado pelos alunos, mas envolveu, também, outros professores. A revisão dos textos ficou a cargo da professora das professoras de português Cintia Bernardelle e Andrea Cronembergere a diagramação do conteúdo, em um aplicativo de edição, foi feita por Jeidma e mais dois estudantes.

Com o intuito de motivar os alunos, Jeidma propôs uma visita ao Museu da Imprensa Nacional, localizado no Setor de Indústrias Gráficas. A ideia concretizou dois ensinamentos que iriam ajudá-los a desenvolverem a revista da melhor maneira possível: a história da imprensa e da independência do Brasil em um só lugar.

A professora conta que, no museu, eles se inteiraram sobre todas as etapas de confecção de um jornal desde a época de D João VI, em 1808, até os dias atuais. A vista guiada ao museu ficou a cargo do professor de geografia Rafael Rodrigues.

“Fomos muito bem recebidos no museu. A escola não tinha verbas para o passeio. Foi uma oportunidade ótima. Graças ao Sinpro, conseguimos proporcionar essa vivência aos nossos alunos”, diz a professora.

Segundo o diretor do CEF 404, Paulo Leão, um benefício marcante durante a produção do jornal, sobretudo para a identidade do aluno, foi a autonomia. “Eles próprios foram autores do aprender. O fato de colocar a mão na massa e correr atrás das informações, por exemplo, foi marcante. Para os estudantes, traduz um grande desenvolvimento pedagógico”, afirma o diretor.

A Voz do Império – Edição comemorativa e reflexiva

A edição comemorativa contempla 12 páginas de aprendizagem. Logo na primeira página, após a capa, o leitor se depara com a seguinte frase da escritora negra Conceição Evaristo: “O que os livros escondem, as palavras ditas libertam”.

O jornal também esclarece a controversa representação das imagens dos dois imperadores. “D. Pedro I está sempre referenciado como jovem, enquanto o filho, D. Pedro II, é representado como um ancião, apesar de ter se tornado imperador ainda jovem”, afirma Luana.

Ao estudar sobre a vivência de José Bonifácio, os estudantes foram orientados pela professora a imaginarem como seria se pudessem entrevistar o político. “Pedi que eles imaginassem como seria esse encontro, caso viajassem no tempo e pudessem entrevistá-lo”, afirma Marinho.

No editorial, a professora conta como foi a elaboração do jornal e traz outra importante reflexão: “O nosso Brasil precisa resgatar a autonomia do povo. Precisamos de mais políticas públicas que promovam a igualdade racial e de gênero, que extermine o racismo, a homofobia, o machismo e tantas outras discriminações estruturais. Precisamos, urgentemente, de alimentos pra combater ma fome no país, além de resgatar nossos símbolos nacionais, covardemente usurpados pelo fascismo.”

Nas páginas seguintes, temas do Segundo Reinado: Guerra do Paraguai, escravidão, preconceito e racismo, curiosidades sobre D Pedro II e uma pesquisa realizada entre os estudantes do Fundamental II sobre monarquia e república. A última reportagem relata a experiencia que as turmas tiveram ao visitar o Museu da Imprensa. Além de informar, o jornal ainda propõe um jogo de sete erros para divertir os alunos.

 

Representatividade feminina

A aluna da 8ª série D, Beatriz Araújo, 13 anos, foi quem escreveu sobre a importância feminina na Independência do Brasil. Além da imperatriz Dona Leopoldina, ela conta um pouco sobre a escrava Luíza Mahin, heroína da revolta dos Malês, ela ainda comparou a quadro em que foi retratado Dom Pedro com os posts da mídia social. “A história sempre teve uma ideologia machista. A Dona Leopoldina foi quem realmente assinou o decreto da Independência. Ou seja, enquanto Dom Pedro viajava, ela se importava com o futuro do país. Com certeza, é uma representatividade muito grande para nós", conta a aluna.

Baseadas na pesquisa da mestranda em História Pública pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), as estudante Luana Isis e Hyanasmin Souza abordaram a invisibilidade feminina nos livros didáticos de história. “Eles privam uma parte da história da gente, fatos que poderia esclarecer muitos ocorridos.” afirma Isis.

Orgulhosa com o desempenho dos alunos, a professora Jeidma afirma a importância de abordar, no ambiente escolar, a participação feminina em todas as áreas de conhecimento. “Nós temos esse histórico de violência contra a mulher, de silenciar os feitos femininos. Nós temos uma história e ela merece ser contada”, afirma.

Jeidma observa que os estudantes se envolveram tanto no processo de criação que já estão planejando uma segunda edição para o 4º bimestre, abordando a temática da consciência negra, para celebrar o nascimento de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares e também o de maior relevância histórica.

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

 

 

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