8 de setembro

No Dia Mundial da Alfabetização, índice de analfabetismo ainda preocupa

Brasil ainda tem mais de 14 milhões de pessoas analfabetas, DF ocupa o último lugar no ranking regional

Millena Gomes
postado em 08/09/2022 06:00 / atualizado em 08/09/2022 14:42
 (crédito: MILTON MICHIDA/A2/GOV DE SP)
(crédito: MILTON MICHIDA/A2/GOV DE SP)

Instituído há 55 anos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Dia Mundial da Alfabetização, celebrado em 8 de setembro, foi criado para destacar a importância social da alfabetização. No entanto, os altos níveis de analfabetismo no Brasil ainda assustam. Pelo menos 6,6% da população brasileira com mais de 15 anos não sabem ler ou escrever. O desmonte da educação, em franco processo de aceleração, é pontado por especialistas como principal fator para o aumento da taxa de analfabetismo.

Os primeiros passos da alfabetização no Brasil tiveram início ainda no período colonial, com a tentativa de padres jesuítas de catequizar os indígenas, em 1554. Os métodos eram falhos e ineficazes e, quando os religiosos foram expulsos, em 1759, nem 1% da população nativa estava matriculada nas escolas. A partir de 1876, surgiram os primeiros métodos de ensino de leitura, com o alfabeto, conhecidos como “método da palavração”, iniciando pelo ensino da leitura de palavras e depois da análise dos fonemas das letras.

Já em 1890, inicia-se a segunda fase desse processo, com educadores contrários ao modelo anterior. Surge, então, a pedagogia, que defendia “o que ensinar”. A partir de 1920, outras questões pedagógicas ligadas ao neurodesenvolvimento da criança, com habilidades visuais, auditivas e motoras infantis. A partir de 1960, surge então o método Paulo Freire, conhecido e defendido até hoje.

O índice atual de analfabetismo no país é quatro vezes maior do que em 2018. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 14.194.397 pessoas que não sabem ler, escrever ou realizar as operações básicas de matemática. Quatro anos atrás, eram cerca de 11 milhões.

Analfabetismo no Distrito Federal

Na região Centro-Oeste, 4,9% das pessoas estão incluídas no índice de analfabetismo. Os estados com maior concentração são Mato Grosso (MT), com 6,2%, Goiás (GO) e Mato Grosso do Sul (MS) com 5,1%, e Distrito Federal com 2,7%. Na capital do país, 105 escolas oferecem alfabetização para jovens e adultos por meio do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA). De acordo com a Secretaria de Educação do DF, o programa tem mais de 38 mil alunos matriculados.

O projeto Alfabetização Cidadã, da Universidade Católica de Brasília (UCB), também tem o objetivo de alfabetizar pessoas com mais de 15 anos. São 30 anos de projeto e mais de 170 alunos beneficiados por semestre. Na mais recente edição, as quatro turmas oferecidas abrigam, em média, 65 alunos. Para a coordenadora do projeto, Vanildes Gonçalves, apesar de "ostentar" o menor índice regional, o número de analfabetos no DF ainda é grande.

Formada em história e especialista em ciências sociais, Vanildes observa que parte desse percentual reflete a falta de investimentos em políticas sociais, além de negligência em relação aos direitos humanos. "Saber ler e escrever é um direito assegurado na Declaração dos Direitos Humanos”, lembra ela.

Ainda segundo a especialista, o momento mais forte do processo de alfabetização brasileiro foi experimentado com o educador e filósofo Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira e autor da Pedagogia do Oprimido. A partir do início da década de 60, Paulo Freire foi responsável pela alfabetização de pelo menos 300 pessoas em 40 horas. “Ali foi o momento mais enriquecedor na alfabetização nacional. Foi uma grande oportunidade par muitos. Desde então, existem mais esforços para escolarizar tanto crianças quanto adultos”, diz Vanildes.

Desempregada e voluntária do Alfabetização Cidadã, Maria Alzineide, 43 anos, considera alarmante o número de analfabetos no Brasil. “São adultos que assinam o nome automaticamente, que escrevem mas não sabem diferenciar as letras e sílabas”, lamenta Maria, que começou a fazer parte do projeto neste ano.

A importância da alfabetização na infância

De acordo com a coordenadora de educação infantil Daniela Beraguas Tarjino, é primordial que o processo de alfabetização se inicie logo na primeira infância, pois é nessa fase em que o neurodesenvolvimento está em pleno funcionamento. “A alfabetização deve ser estimulada adequadamente, considerando a integralidade e a individualidade da criança”, afirma.

A especialista observa, ainda, que o processo de alfabetização envolve habilidades como linguagem oral, por meio de conversas, leituras e músicas; funções executivas, na estimulação da atenção e memória, habilidades fonológicas, metafonológicas, visuoespaciais e preliminares de linguagem escrita e conhecimento do nome das letras e seus sons.

 

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