Sonho interrompido

Vítima de ataque em escola na Bahia vivia expectativa de avançar nos estudos

Paralisia cerebral afetava fala e movimento dos membros superiores e inferiores, mas não impactava na sua capacidade intelectual

Eu Estudante
postado em 28/09/2022 15:00 / atualizado em 28/09/2022 16:08
A notícia da morte da jovem chocou os pais e os irmãos da vítima -  (crédito: Divulgação )
A notícia da morte da jovem chocou os pais e os irmãos da vítima - (crédito: Divulgação )

O ataque promovido por um atirador adolescente em uma escola no oeste da Bahia na segunda-feira (26), deixou como vítima uma jovem de 19 anos que ansiava pelo início dos estudos no ensino médio. Geane da Silva Brito, portadora de paralisia cerebral, via na escola uma ferramenta para inclusão e um local onde se sentia segura e acolhida pela comunidade escolar.

Geane foi sepultada na manhã desta terça-feira (27), em um distrito rural da cidade de Barreiras. Os pais, devido às limitações da filha, já haviam pensando em tirá-la da escola, mas ela não quis interromper os estudos.

A paralisia cerebral afetava a fala e o movimento dos membros superiores e inferiores, mas não impactava na sua capacidade intelectual. Mesmo sem escrever, por causa da atrofia nos braços e mãos, ela era uma aluna assídua e nunca faltou às aulas.

Apesar das dificuldades motora, a jovem, que era cadeirante, todos os dias percorria 26 quilômetros, do Assentamento Liberdade, na zona rural de Barreiras, até a sede do município, a bordo de um ônibus escolar. Era a primeira a embarcar e sempre a última a desembarcar, contando com a ajuda de uma monitora.

Segundo a diretora de Gestão Escolar da Secretaria Municipal de Educação, Alba Soene, a estudante integrava o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e contava com o auxílio de profissionais capacitados em um atendimento individualizado.

"Ela estava concluindo o 9° ano e estava cheia de expectativas para o ensino médio. Às professoras, ela dizia que a escola era o lugar mais importante porque era o ambiente onde interagia com outras pessoas e que estava muito feliz em fazer parte do colégio justamente por causa do regime militar (a escola é gerida em parceria com a Polícia Militar do Estado), onde se sentia segura", disse.

Um vizinho e amigo da família da jovem, que preferiu não se identificar, contou que a vítima tinha uma cuidadora, mas que no momento da tragédia ela estava entrando na escola para ir ao encontro de Geane. "Ela só foi atingida porque era a mais vulnerável. Ao ouvir os disparos, todos correram, mas ela não tinha como. Foi o alvo fácil. Os pais estão inconformados."

A versão foi confirmada pela diretora. "Por ser um colégio militar, antes de ir para a sala de aula, os alunos vão para o pátio primeiro. Geane sempre aguardava próximo à cantina, onde a cuidadora ia ao seu encontro para conduzi-la à sala. Não deu tempo", completou Alba.

No próximo dia 15 de outubro Jeane completaria 20 anos e fazia planos de comemorar em uma pizzaria com os professores. "A data é também o Dia do Professor. Ela estava ansiosa para comemorar com eles, de tanto que gostava", afirmou.

Na comunidade rural onde vivia com os pais e irmãos há uma escola, mas, por falta de atendimento especializado a crianças e jovens com necessidades especiais, ela foi estudar na sede do município, no Colégio Municipal Eurides Santanna, que tem um convênio entre a prefeitura e a Polícia Militar.

A notícia da morte da jovem chocou os pais e os irmãos da vítima. A reportagem conversou com um amigo da família, que afirmou que está sendo muito difícil superar o trauma. "No domingo estavam todos juntos e felizes, fazendo planos de comemorar o aniversário dela e na segunda foi essa tragédia sem precedentes", disse.

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