Taquicardia, sudorese, extremidades frias, gastrologias, dores de cabeça e náuseas. Esses são alguns sintomas que, de acordo com o médico especialista em neurociências Fabiano de Abreu, muita gente pode apresentar quando o assunto é apatia ou repulsa pela matemática. Em seu artigo intitulado Ansiedade Matemática e Neurociência, ele revela que essa aversão, denominada ansiedade matemática, é, muitas vezes, causada por situações de estresse que envolveram lógica e cálculos em algum momento no passado e acabaram por ocasionar um grande desconforto emocional no estudante.
De acordo com Abreu, por vezes o aluno já começa sua trajetória acadêmica ouvindo que matemática é difícil ou se trata de uma disciplina que afeta somente a "pessoas inteligentes". É o caso do estudante de enfermagem Guilherme Muniz. Ele conta que, na época do ensino fundamental, quando tinha dificuldades e não conseguia se sair bem nas provas, ficava de castigo e acabava por detestar ainda mais a matéria. “Quando tinha que enfrentar uma prova, ficava com medo e me sentia burro. Me sentia triste por não saber fazer uma conta de divisão básica”, lembra.
Segundo ele, esses sentimentos relatados pelo estudante são formas de respostas cognitivas à aversão à matemática, que consistem em pensamentos de desamparo. "Dependendo da pessoa e da situação, podem ser apresentadas também respostas fisiológicas, como as citadas no início desta matéria, ou comportamentais, como fuga e esquiva, diante das quais as pessoas evitam a situação que causa desconforto, como uma simples prova, por exemplo. Por vezes, quem possui essa aversão se sente incapaz e menos inteligente", observa Abreu.
O especialista pondera que, nesse aspecto, a participação da família e da escola é fundamental para o desenvolvimento dos estudantes, especialmente quando estão nos primeiros estágios do aprendizado. E que não saber lidar com a dificuldade dos alunos e lançar mão de palavras negativas e punições para tentar corrigi-los faz com que o cérebro deles associe a experiência na matemática à dor e criem uma barreira ao enfrentamento da questão. “Educadores, pais e alunos estão interligados. Educadores que aproveitam a vivência do aluno com didática provavelmente conseguem alcançar os seus objetivos. Pais comprometidos, observadores e empenhados se tornam ótimos aliados na educação de seus filhos”, afirma.
O estudante Guilherme Muniz, 18 anos, afirma que a ajuda de um professor no 9º ano do ensino fundamental foi fundamental para que ele conseguisse recuperar o gosto pela matemática. "Ao ver que eu estava com dificuldades, esse professor passou a me explicar o conteúdo de outra forma, mais paciente, depois das aulas, começando do básico. Então passei a me amarrar em matemática”, recorda.
Abreu ressalta que estudos mais recentes indicam que a capacidade de compreender e resolver novos problemas não pode ser mensurada levando em conta apenas uma área específica como os conhecimentos matemáticos ou testes de QI.
Ex-aluno do Centro Educacional 02 de Brasília, Flávio Rodrigues, 19, afirma que tinha sérias dificuldades em matemática até começar a relacionar a matéria com elementos visuais. “Sempre procurava a forma mais simples e criativa de se resolver a questão”, diz o estudante, que hoje cursa design de interiores na Faculdade das Américas (FAM).
Solução para o problema
Para quem sofre com a ansiedade matemática, Abreu ressalta que o primeiro passo para superar o problema é utilizar técnicas de controle, como:
- Respirar fundo e inspirar devagar
- Voltar o pensamento ao foco
- Meditar, evitar a negatividade
- Pensar em interpretações diferentes para a situação que causa a ansiedade
- Transferir a ansiedade para outra coisa ou pensamento, fazendo o cérebro entender que o que está te deixando nervoso no momento é menos prejudicial do que parece
- Pensar nos fatores positivos do desafio e tê-los como referência para enfrentar o medo
- Ser gentil consigo mesmo. Ter pensamentos como: “Se conseguiram eu também consigo”
Abreu avalia que cientificamente é comprovado que pessoas inteligentes não temem errar e serem vistas errando. "Elas são seguras de si e não se importam com o que pensam", diz.
Segundo ele, mesmo para os que possuem dificuldades na área, desenvolver a inteligência matemática é possível em todas as idades. "Pessoas que estimulam essa característica tendem a ter mais facilidade para resolver problemas, identificar soluções e resolver operações", afirma.
Existem diversas formas de exercitar esse raciocínio, como utilizar jogos de lógica, quebra-cabeças, aplicativos de matemática e jogos de tabuleiro. "Resolver enigmas, escrever histórias, fazer pesquisas e experimentos científicos e aprender a codificar, classificar objetos e jogos que explorem a criatividade também podem ser primordiais deste processo", concluiu Abreu.
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende