DESAFIO

40% dos alunos de escola pública têm dificuldade de avançar na alfabetização

Os dados são da pesquisa encomendada ao Datafolha por Fundação Lemann, itaú Social e BID. Foram ouvidos 1.323 pais de alunos e responsáveis de todas as regiões do país

Diogo Albuquerque*
postado em 08/03/2023 18:34 / atualizado em 08/03/2023 19:35
 (crédito: MILTON MICHIDA/A2/GOV DE SP)
(crédito: MILTON MICHIDA/A2/GOV DE SP)

De acordo com pais e responsáveis ouvidos pelo Datafolha, 6% dos alunos não estão avançando e 34% estão avançando com dificuldades no processo de alfabetização. Somados, 40% dos alunos apresentam algum desafio nesse processo. Ainda de acordo com a pesquisa, que ouviu 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes de escolas públicas, 78% dos pais concordam que a educação precisa ser a prioridade dos novos governos.

A pesquisa foi encomendada ao Datafolha pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio da Rede Conhecimento Social. Realizada em dezembro de 2022 com 1.323 pais e responsáveis de todas as regiões do país, o levantamento busca retratar a visão das famílias sobre o primeiro ano de retorno presencial das aulas após a pandemia da covid-19.

Para melhorar a educação, os entrevistados destacaram que os novos governos devem garantir maior oferta de formação de professores, a ampliação do uso de tecnologia nas escolas e a promoção de programas de reforço e recuperação de estudantes, igualmente com 21%, cada.

A pesquisa também evidencia amplas desigualdades regionais e de renda nas necessidades dos familiares. Por exemplo, a ampliação do uso das tecnologias nas escolas é uma demanda mais presente para os responsáveis por estudantes das regiões Norte (28%), Centro-Oeste (23%) e Nordeste (22%) se comparado às regiões Sudeste e Sul (ambas com 18%). Escolas de índices socioeconômicos mais baixos também aparecem na frente com essa demanda (25%).

“É preocupante a percepção continuada das famílias, reforçada novamente nesta pesquisa, de que suas crianças não estão aprendendo a ler e a escrever como deveriam. Esse resultado deve servir de alerta para a importância da colaboração entre gestores de diferentes níveis de governo para endereçar esse desafio”, comenta Daniel De Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.

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Para Alexandre Veloso, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa-DF), a alfabetização das crianças na idade certa tem deixado a desejar. “É preocupante, porque reflete em toda a formação dessa criança até a fase adulta. Em um cenário futuro, poderemos observar um aumento do analfabetismo funcional”, ressalta.

Entre as causas do problema, Veloso destaca a má formação dos professores. “Temos visto cada vez mais cursos de pedagogia presenciais fechando e um aumento do ensino a distância. O resultado disso são professores que não têm a prática e o comprometimento da formação de uma mão de obra qualificada”, afirma o presidente da associação. Outro agravante da situação, para a associação, é a falta de diretrizes mais claras acerca da alfabetização.

“As crianças estão levando três anos ou mais para serem alfabetizadas. Elas deveriam sair da pré-escola sabendo ler e interpretar, mas estão avançando mesmo sem o domínio e o preparo adequado”, observa Veloso. Como consequência, o presidente aponta um maior desinteresse dos alunos pela escola e aumento do abandono escolar.

De acordo com os pais ouvidos pela pesquisa, nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o desafio é a ausência de avaliação: 35% dos entrevistados acreditam que o principal problema da escola em relação às perdas de aprendizagem pela Covid-19 ocorre porque a escola não está fazendo o suficiente para avaliar a perda de aprendizado e identificar áreas em que os adolescentes precisam de apoio.

Reforço escolar e apoio psicológico

Segundo as famílias, 50% dos estudantes tiveram oferta de reforço escolar pelas escolas, o maior índice desde maio de 2021 (29%). Essa proporção era de 43% no mesmo período do ano anterior, segundo a série Datafolha. Apesar do aumento progressivo desde o início da pandemia, a proporção de estudantes matriculados em escolas que oferecem reforço escolar revela desigualdades, inclusive entre os ciclos da educação básica: estudantes dos anos iniciais têm maior oferta (56%) do que estudantes dos anos finais (48%), de acordo com a pesquisa. As diferenças regionais também são alarmantes, já que alunos da região Sul (65%) têm maior oferta do que aqueles das regiões Norte (35%) e Nordeste (41%).

A despeito de terem o menor índice de oferta de aulas de reforço, os estudantes do Norte são os que mais frequentam esse tipo de programa. O Datafolha revela que 6 em cada 10 (61%) estudantes que possuem oportunidade de reforço escolar participam da ação na região Norte, número muito superior ao da região Sul (35%). A média do Brasil fica em 42% de participação dos estudantes.

“A retomada das aulas presenciais nas redes de ensino foi um marco na vida de crianças e jovens em idade escolar após o período mais crítico da pandemia. Agora, é preciso ter um olhar atento e propor ações ágeis e eficientes para mitigar o alto índice de evasão escolar, a defasagem na aprendizagem e os desafios relacionados à saúde mental que atingem nossos estudantes”, enfatiza Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.

A pesquisa

A décima edição da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada ao Datafolha por Itaú Social, Fundação Lemann e BID, com apoio da Rede Conhecimento Social, procura avaliar o primeiro ano de retorno presencial após a pandemia. Realizada em dezembro de 2022, o levantamento também busca elucidar as expectativas para o futuro dos estudantes. Foram entrevistados 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes matriculados em escolas públicas entre 6 e 18 anos.

Estagiário sob a supervisão de Ana Sá

 

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